Tethys (lua de Saturno) by NASA
Sábado, dia 2 de
Março de 2012, amigos e admiradores do poeta Rui Costa uniram-se
para uma homenagem, na livraria Poetria, na Rua José Falcão, no
Porto. Foram lidos poemas, conversou-se sobre as múltiplas facetas
da vida e do ser que foi este Poeta: as paixões, convicções, a
sua irreverência. Rosa Alice, Branco, Amadeu Baptista, Rui Lage,
Henrique Fialho, leram textos e deram a conhecer vários aspectos da
vida de Rui Costa. António Pedro Ribeiro deu a voz a músicas
compostas pelo homenageado para a banda Mana Calórica.
Eu, no entanto, não
conheci o Poeta Rui Costa. A primeira vez que ouvi mencionar o seu
nome foi através de um chat no Facebook, no qual o meu amigo António
Pedro Ribeiro desabafava, preocupado, o desaparecimento do amigo,
lançando abruptamente a frase:
“Desapareceu um amigo
meu. Rui Costa. Tínhamos uma banda, a Mana Calórica”.
Não vi a mensagem
imediatamente, só horas depois. Tinha o computador ligado, mas
andava de um lado para o outro a ajudar o Gustavo a preparar o
jantar. Quando, finalmente me sentei, li a mensagem, não liguei
muito – o António Pedro já não estava no chat -, mas fiquei de
orelha em pé.
Dois dias depois, na
quarta-feira, vejo o anúncio do desaparecimento no blogue
“Porosidade Etérea”, “Apelo” e em mais alguns blogues. No
entanto, a informação desaparece quase imediatamente. Intrigada,
procuro saber mais. Tudo indica que as autoridades estão a
investigar e não desejam qualquer fuga de informação. O primeiro
pensamento que me vem à ideia é o de sequestro, assalto à mão
armada. Enfim, as coisas adquiriam uma configuração algo sinistra.
Espicaçada pela curiosidade, procuro saber mais. Procuro dados
biográficos, obra publicada. Encontro um currículo impressionante:
uma licenciatura em Direito, pós-graduação em Londres,
Doutoramento em Saúde pública, a frequentar no Brasil, professor na
Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, em Famalicão; um conjunto
bastante considerável de obras publicadas, inclusive a obtenção do
Prémio Daniel Faria, em 2005.
E encontro o poema “O
Pão”.
E fico completamente
cativada.
Passo os olhos por mais
alguns poemas, dispersos por blogues e sites vários e penso: como é
possível que o Talento possa estar envolvido num véu de sombras,
uma espécie de cortina de fumo que mantém a humanidade, a imprensa,
os principais peritos em crítica literária, envoltos num misterioso
e inexplicável silêncio impedindo-os de se maravilharem ou de
estremecerem com o impacto das suas palavras?
Os dias passam. A
muralha do silêncio persiste, à volta dos media. As investigações,
claro. Não se pode prejudicar o trabalho da Polícia.
Mas os amigos trocam
impressões , em conversas de café, por e-mail, nos chats...M. do
blogue “A Panificadora Ribeiro”, traça-me o retrato do poeta, a
quem conheceu pessoalmente. Cerca de duas semanas depois, encontram o
carro, com o telemóvel e o casaco do jovem, desaparecido aos 39
anos. Poucos dias depois, a tragédia confirma-se. O corpo é
encontrado num areal, em Afurada, onde ao que tudo indica, terá
caído da ponte. O arauto é o poeta Rui Lage, que me transmite a
notícia em primeira mão, através do fecebook. Decido publicar “O
Pão” no blogue Rendez-vous, em homenagem, mas ainda sem mencionar
o óbito, aguardando a autorização dos pais. Subitamente, liga-me
António Pedro Ribeiro. Pergunto-lhe se sabe alguma coisa, convencida
que a notícia lhe terá chegado primeiro. Intuitivo, apercebe-se que
estou a par de algo. Interroga-me até me conseguir extrair a
notícia. É a primeira vez que sou a a mensageira da Morte. Espero
que,tão cedo, Ela não me volte a incumbir de semelhante tarefa. Não
tão cedo. De preferência, nunca mais...ou, pelo menos, não nos
próximos vinte anos.
Cláudia de Sousa DiasSábado, dia 2 de
Março de 2012, amigos e admiradores do poeta Rui Costa uniram-se
para uma homenagem, na livraria Poetria, na Rua José Falcão, no
Porto. Foram lidos poemas, conversou-se sobre as múltiplas facetas
da vida e do ser que foi este Poeta: as paixões, convicções, a
sua irreverência. Rosa Alice, Branco, Amadeu Baptista, Rui Lage,
Henrique Fialho, leram textos e deram a conhecer vários aspectos da
vida de Rui Costa. António Pedro Ribeiro deu a voz a músicas
compostas pelo homenageado para a banda Mana Calórica.
Eu, no entanto, não
conheci o Poeta Rui Costa. A primeira vez que ouvi mencionar o seu
nome foi através de um chat no Facebook, no qual o meu amigo António
Pedro Ribeiro desabafava, preocupado, o desaparecimento do amigo,
lançando abruptamente a frase:
“Desapareceu um amigo
meu. Rui Costa. Tínhamos uma banda, a Mana Calórica”.
Não vi a mensagem
imediatamente, só horas depois. Tinha o computador ligado, mas
andava de um lado para o outro a ajudar o Gustavo a preparar o
jantar. Quando, finalmente me sentei, li a mensagem, não liguei
muito – o António Pedro já não estava no chat -, mas fiquei de
orelha em pé.
Dois dias depois, na
quarta-feira, vejo o anúncio do desaparecimento no blogue
“Porosidade Etérea”, “Apelo” e em mais alguns blogues. No
entanto, a informação desaparece quase imediatamente. Intrigada,
procuro saber mais. Tudo indica que as autoridades estão a
investigar e não desejam qualquer fuga de informação. O primeiro
pensamento que me vem à ideia é o de sequestro, assalto à mão
armada. Enfim, as coisas adquiriam uma configuração algo sinistra.
Espicaçada pela curiosidade, procuro saber mais. Procuro dados
biográficos, obra publicada. Encontro um currículo impressionante:
uma licenciatura em Direito, pós-graduação em Londres,
Doutoramento em Saúde pública, a frequentar no Brasil, professor na
Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, em Famalicão; um conjunto
bastante considerável de obras publicadas, inclusive a obtenção do
Prémio Daniel Faria, em 2005.
E encontro o poema “O
Pão”.
E fico completamente
cativada.
Passo os olhos por mais
alguns poemas, dispersos por blogues e sites vários e penso: como é
possível que o Talento possa estar envolvido num véu de sombras,
uma espécie de cortina de fumo que mantém a humanidade, a imprensa,
os principais peritos em crítica literária, envoltos num misterioso
e inexplicável silêncio impedindo-os de se maravilharem ou de
estremecerem com o impacto das suas palavras?
Os dias passam. A
muralha do silêncio persiste, à volta dos media. As investigações,
claro. Não se pode prejudicar o trabalho da Polícia.
Mas os amigos trocam
impressões , em conversas de café, por e-mail, nos chats...M. do
blogue “A Panificadora Ribeiro”, traça-me o retrato do poeta, a
quem conheceu pessoalmente. Cerca de duas semanas depois, encontram o
carro, com o telemóvel e o casaco do jovem, desaparecido aos 39
anos. Poucos dias depois, a tragédia confirma-se. O corpo é
encontrado num areal, em Afurada, onde ao que tudo indica, terá
caído da ponte. O arauto é o poeta Rui Lage, que me transmite a
notícia em primeira mão, através do fecebook. Decido publicar “O
Pão” no blogue Rendez-vous, em homenagem, mas ainda sem mencionar
o óbito, aguardando a autorização dos pais. Subitamente, liga-me
António Pedro Ribeiro. Pergunto-lhe se sabe alguma coisa, convencida
que a notícia lhe terá chegado primeiro. Intuitivo, apercebe-se que
estou a par de algo. Interroga-me, até me conseguir extrair a
notícia. É a primeira vez que sou a a mensageira da Morte. Espero
que, tão cedo, Ela não me volte a incumbir de semelhante tarefa. De preferência, nunca mais...ou, pelo menos, não nos
próximos vinte anos.
Cláudia de Sousa Dias
Etiquetas: Crónicas