2012-03-17

Rui Costa, in memoriam




Tethys (lua de Saturno) by NASA








Sábado, dia 2 de Março de 2012, amigos e admiradores do poeta Rui Costa uniram-se para uma homenagem, na livraria Poetria, na Rua José Falcão, no Porto. Foram lidos poemas, conversou-se sobre as múltiplas facetas da vida e do ser que foi este Poeta: as paixões, convicções, a sua irreverência. Rosa Alice, Branco, Amadeu Baptista, Rui Lage, Henrique Fialho, leram textos e deram a conhecer vários aspectos da vida de Rui Costa. António Pedro Ribeiro deu a voz a músicas compostas pelo homenageado para a banda Mana Calórica.

Eu, no entanto, não conheci o Poeta Rui Costa. A primeira vez que ouvi mencionar o seu nome foi através de um chat no Facebook, no qual o meu amigo António Pedro Ribeiro desabafava, preocupado, o desaparecimento do amigo, lançando abruptamente a frase:

“Desapareceu um amigo meu. Rui Costa. Tínhamos uma banda, a Mana Calórica”.

Não vi a mensagem imediatamente, só horas depois. Tinha o computador ligado, mas andava de um lado para o outro a ajudar o Gustavo a preparar o jantar. Quando, finalmente me sentei, li a mensagem, não liguei muito – o António Pedro já não estava no chat -, mas fiquei de orelha em pé.
Dois dias depois, na quarta-feira, vejo o anúncio do desaparecimento no blogue “Porosidade Etérea”, “Apelo” e em mais alguns blogues. No entanto, a informação desaparece quase imediatamente. Intrigada, procuro saber mais. Tudo indica que as autoridades estão a investigar e não desejam qualquer fuga de informação. O primeiro pensamento que me vem à ideia é o de sequestro, assalto à mão armada. Enfim, as coisas adquiriam uma configuração algo sinistra. Espicaçada pela curiosidade, procuro saber mais. Procuro dados biográficos, obra publicada. Encontro um currículo impressionante: uma licenciatura em Direito, pós-graduação em Londres, Doutoramento em Saúde pública, a frequentar no Brasil, professor na Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, em Famalicão; um conjunto bastante considerável de obras publicadas, inclusive a obtenção do Prémio Daniel Faria, em 2005.

E encontro o poema “O Pão”.

E fico completamente cativada.

Passo os olhos por mais alguns poemas, dispersos por blogues e sites vários e penso: como é possível que o Talento possa estar envolvido num véu de sombras, uma espécie de cortina de fumo que mantém a humanidade, a imprensa, os principais peritos em crítica literária, envoltos num misterioso e inexplicável silêncio impedindo-os de se maravilharem ou de estremecerem com o impacto das suas palavras?

Os dias passam. A muralha do silêncio persiste, à volta dos media. As investigações, claro. Não se pode prejudicar o trabalho da Polícia.
Mas os amigos trocam impressões , em conversas de café, por e-mail, nos chats...M. do blogue “A Panificadora Ribeiro”, traça-me o retrato do poeta, a quem conheceu pessoalmente. Cerca de duas semanas depois, encontram o carro, com o telemóvel e o casaco do jovem, desaparecido aos 39 anos. Poucos dias depois, a tragédia confirma-se. O corpo é encontrado num areal, em Afurada, onde ao que tudo indica, terá caído da ponte. O arauto é o poeta Rui Lage, que me transmite a notícia em primeira mão, através do fecebook. Decido publicar “O Pão” no blogue Rendez-vous, em homenagem, mas ainda sem mencionar o óbito, aguardando a autorização dos pais. Subitamente, liga-me António Pedro Ribeiro. Pergunto-lhe se sabe alguma coisa, convencida que a notícia lhe terá chegado primeiro. Intuitivo, apercebe-se que estou a par de algo. Interroga-me até me conseguir extrair a notícia. É a primeira vez que sou a a mensageira da Morte. Espero que,tão cedo, Ela não me volte a incumbir de semelhante tarefa. Não tão cedo. De preferência, nunca mais...ou, pelo menos, não nos próximos vinte anos.


Cláudia de Sousa DiasSábado, dia 2 de Março de 2012, amigos e admiradores do poeta Rui Costa uniram-se para uma homenagem, na livraria Poetria, na Rua José Falcão, no Porto. Foram lidos poemas, conversou-se sobre as múltiplas facetas da vida e do ser que foi este Poeta: as paixões, convicções, a sua irreverência. Rosa Alice, Branco, Amadeu Baptista, Rui Lage, Henrique Fialho, leram textos e deram a conhecer vários aspectos da vida de Rui Costa. António Pedro Ribeiro deu a voz a músicas compostas pelo homenageado para a banda Mana Calórica.

Eu, no entanto, não conheci o Poeta Rui Costa. A primeira vez que ouvi mencionar o seu nome foi através de um chat no Facebook, no qual o meu amigo António Pedro Ribeiro desabafava, preocupado, o desaparecimento do amigo, lançando abruptamente a frase:

“Desapareceu um amigo meu. Rui Costa. Tínhamos uma banda, a Mana Calórica”.

Não vi a mensagem imediatamente, só horas depois. Tinha o computador ligado, mas andava de um lado para o outro a ajudar o Gustavo a preparar o jantar. Quando, finalmente me sentei, li a mensagem, não liguei muito – o António Pedro já não estava no chat -, mas fiquei de orelha em pé.
Dois dias depois, na quarta-feira, vejo o anúncio do desaparecimento no blogue “Porosidade Etérea”, “Apelo” e em mais alguns blogues. No entanto, a informação desaparece quase imediatamente. Intrigada, procuro saber mais. Tudo indica que as autoridades estão a investigar e não desejam qualquer fuga de informação. O primeiro pensamento que me vem à ideia é o de sequestro, assalto à mão armada. Enfim, as coisas adquiriam uma configuração algo sinistra. Espicaçada pela curiosidade, procuro saber mais. Procuro dados biográficos, obra publicada. Encontro um currículo impressionante: uma licenciatura em Direito, pós-graduação em Londres, Doutoramento em Saúde pública, a frequentar no Brasil, professor na Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, em Famalicão; um conjunto bastante considerável de obras publicadas, inclusive a obtenção do Prémio Daniel Faria, em 2005.

E encontro o poema “O Pão”.

E fico completamente cativada.

Passo os olhos por mais alguns poemas, dispersos por blogues e sites vários e penso: como é possível que o Talento possa estar envolvido num véu de sombras, uma espécie de cortina de fumo que mantém a humanidade, a imprensa, os principais peritos em crítica literária, envoltos num misterioso e inexplicável silêncio impedindo-os de se maravilharem ou de estremecerem com o impacto das suas palavras?

Os dias passam. A muralha do silêncio persiste, à volta dos media. As investigações, claro. Não se pode prejudicar o trabalho da Polícia.
Mas os amigos trocam impressões , em conversas de café, por e-mail, nos chats...M. do blogue “A Panificadora Ribeiro”, traça-me o retrato do poeta, a quem conheceu pessoalmente. Cerca de duas semanas depois, encontram o carro, com o telemóvel e o casaco do jovem, desaparecido aos 39 anos. Poucos dias depois, a tragédia confirma-se. O corpo é encontrado num areal, em Afurada, onde ao que tudo indica, terá caído da ponte. O arauto é o poeta Rui Lage, que me transmite a notícia em primeira mão, através do fecebook. Decido publicar “O Pão” no blogue Rendez-vous, em homenagem, mas ainda sem mencionar o óbito, aguardando a autorização dos pais. Subitamente, liga-me António Pedro Ribeiro. Pergunto-lhe se sabe alguma coisa, convencida que a notícia lhe terá chegado primeiro. Intuitivo, apercebe-se que estou a par de algo. Interroga-me, até me conseguir extrair a notícia. É a primeira vez que sou a a mensageira da Morte. Espero que, tão cedo, Ela não me volte a incumbir de semelhante tarefa. De preferência, nunca mais...ou, pelo menos, não nos próximos vinte anos.


Cláudia de Sousa Dias

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2 Comments:

Blogger M. said...

Bela Cláudia, infelizmente já fui essa mensageira e é um duro encargo. A vida continua sempre...
Beijinhos e obrigada por tudo ;)
Madalena

18/3/12 9:37 da manhã  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

;-)

beijo tb para ti

19/3/12 10:57 da manhã  

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