Para a Mulher
Foto do mural de Maria Quintans
Elas tecem o desacato com engenho, na mansa lentidão dos dias; tão depressa suspiram maleitosas, ensimesmadas e aflitas, como em tudo inventam supérfluos motivos de riso e de alegria.
Elas cantam, rodopiam, dançam, interpretam peças maliciosas e declamam poemas.
Elas confrontam-nos com o rasto do mal, usando perfumes de gardénia, de nardo e de almíscar, odores doces e turvos, a fazerem esvoaçar a roda das saias folhadas, rendadas.
Elas usam nos lábios e nas faces o carmim das rosas selvagens, pondo igual desvario nas vestes e nas ideias.
Elas são altivas e vaidosas, escrevem poesia, discutem filosofia, lêem livros proibidos.
Elas tresandam a heresia com as suas atitudes e ideias pervertidas; provocam com estouvamentos e arroubos.
Elas gostam do luxo.
Elas trazem consigo ideais perigosos, instruem-se, estudam, perseguem a utopia, na constante busca extremada da Luz, em busca do atordoamento do novo.
Elas cultivam a desobediência e os rancores, sarcásticas e vingativas. Regem-se por regras próprias.
Elas questionam os dogmas, duvidam da fé, não cortam a raiz da tentação e das dúvidas.
Elas espalham a desordem.
Adaptado de “As Luzes de Leonor” de Maria Teresa Horta
Etiquetas: poemário
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