2007-04-19

Gato assustado, de chuva fria e trovoada tem medo...



A trovoada está fortíssima.

Luna está à janela do quarto a observar as pesadas nuvens cor-de-chumbo que o vento de leste empurra em direcção à nossa casa, ao mesmo tempo que as árvores se inclinam servilmente à passagem do Imperador dos Vendavais.

Ao longe, os relâmpagos cortam o céu, rasgando a imensa abóbada cinzenta, cujas faíscas de lume branco lembram cintilações de diamantes, à luz do lustre da sala.

Estou ao colo de Luna, mas só me apetece fugir para dentro do armário, apesar do conforto da camisola angorá negra que ela hoje traz vestida. O olhar também está de luto, sem aquela cintilação, mesclada de âmbar e açúcar mascavado, emitida pelas suas pupilas quando atravessadas pela luz solar do Verão. O rosto está, de momento, ocupado pelas Sombras.

Uma árvore em frente ao jardim, na berma da estrada, é arrancada pela raiz. A cidade mergulha nas trevas, imediatamente após um clarão azulado ter iluminar o crepúsculo, transformando-o em dia pleno, durante uma fracção de segundo.

Um estrondo ensurdecedor faz estremecer as paredes, numa assombrosa explosão de energia.

O meu pêlo está em pé.

Luna apercebe-se do facto e pousa-me suavemente no parapeito.

Está na altura de voltar para o refúgio do meu armário.

Lá fora choram, esfaimados e molhados até aos ossos, os gatinhos de Runa e Amélie, as minhas duas namoradas...

É demasiado, para os meus ouvidos de gato...

Desert Rose

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2007-04-05

Perdão



Photo: Bettina Rheims /Serge Bramly