2006-11-27

Sobre António Fagundes e “As Mulheres da minha Vida”

Tive, no passado dia 17 de Novembro, que tive a oportunidade de assistir na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, à peça As Mulheres da minha Vida, com um actor que, para o Grande Público, dispensa apresentações.

O carisma de António Fagundes conjugado com a qualidade da peça levada a palco, contribuíram, respectivamente, para que a lotação esgotasse em todas as récitas e para que o actor fosse aplaudido de pé por um público completamente seduzido. A genialidade do texto de Neil Simon, aliada ao virtuosismo e expressividade de António Fagundes conseguiram hipnotizar o público, logo à primeira frase. Quanto às restantes personagens, elas actuam como elementos de suporte que gravitam à volta do protagonista, George, um escritor de sucesso.

E as mulheres da vida de George nada mais são do que as diferentes formas de afectividade, que ele consegue exprimir.

A peça consiste essencialmente num monólogo, ou melhor, num diálogo interno, imaginário, de um escritor – George – com as pessoas que lhe são mais próximas, todas elas mulheres: a irmã, Karen, sensível, dedicada e solitária, que o ama incondicionalmente, o seu grande apoio afectivo; Diana, a esposa actual, uma executiva de topo , com quem tem graves problemas de comunicação, devido ao facto de viverem em mundos completamente diferentes; Carol, a filha na fase adulta, inteligente, culta, devotada ao pai, mas quase sempre ausente; a recordação da filha na fase infantil, observadora, perspicaz e doce; a memória da falecida esposa, Júlia, com quem teve um casamento idílico, de uma felicidade quase perfeita, com todos os sonhos realizados; a psicóloga, Edith, a consciência de George, cuja frieza objectividade e sentido de humor algo ácido, o levam a olhar para si mesmo como se fosse Outro, facilitando-lhe a introspecção. Edith é a consciência do lado negativo de George.

O aspecto mais curioso dos diálogos é o facto de todas estas personagens entrarem em diálogo uma com as outras e não somente com o protagonista. O tema da conversa é só um: o próprio George, o que é um sintoma mais do que evidente do seu extremo narcisismo. Todo o diálogo interno com as restantes personagens é originário da mente do próprio protagonista. Nestes diálogos ou monólogos, George é sempre o centro das atenções. Para ele, é extremamente importante a forma como os outros o vêem, para analisar o tipo de relação que estabelece com as pessoas. George é um a pessoa extremamente insegura., sempre encerrado em si mesmo, na sua concha, refugiado no mundo restrito da sua caixinha de trabalho – o computador.

A evolução da personagem consiste exactamente num trabalho de auto descentralização ou de extroversão, passando a focar-se nas necessidades daqueles que o rodeiam.

A intensa actividade mental, expressa mo monólogo interno de George é característica da estrutura mental típica de quem faz da escrita criativa a sua ocupação principal: é a mente de alguém que está em constante diálogo consigo próprio e a reconstituir as situações do quotidiano.

Por outro lado, o diálogo real entre George e Diana, é o espelho que reflecte o dia-a-dia de duas pessoas que não têm muitos interesses em comum e que optam por formas de estar e de se relacionar com os outros completamente diferentes, para não dizer opostas. O que as obriga necessariamente a uma ruptura. Sobretudo quando ambos têm personalidades fortes – como é o caso – tornando impossível a submissão de um face à forma de estar do outro. Ou têm ambos de passar por uma fase de amadurecimento e crescimento para tornar possível uma vida em comum.

Por todas estas razões As Mulheres da minha Vida é uma peça imperdível. Pelo menos, enquanto o elenco estiver em digressão em Portugal...

Cláudia de Sousa Dias

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2006-11-25

Dedicado ao Miguel

2006-11-18

Andorinhas de Maio


Na semana passada, partiu mais uma andorinha do beiral da minha janela...

Hoje, ela voa em direcção ao sol, para aquecer o coração, que o gelo, na terra engoliu...

Antes dela, partiram já duas em Maio.

Uma em 2002.

Outra em 2005.

Que será de mim quando todas as andorinhas partirem em busca do sol...

Esta partiu em Novembro, como no conto de Oscar Wilde...

Todos os que a amaram sentem hoje a falta dela. O corvo Vicente, o ternurento Jeff, de pêlo dourado e olhos de quem pede colo, como só os cães sabem pedir. E as flores, as plantas, as uvas, as árvores e os frutos que ela extraía da terra com mãos amorosas e que as pequeninas Catarina e Mariana tanto amavam. Porque aquelas mãos que cuidavam da terra e dos animais e dos seus com todo o amor do Mundo, punham um sabor especial nas maçãs, nas uvas e nos figos que colhia do pomar. E quando o pai das pequenas lhas punha na mesa e dizia: "a avó trouxe-vos isto", elas imediatamente desdenhavam a fruta ou os legumes do supermercado. "Porque as maçãs e as batatas da avó é que são boas..."

A partir de agora a minha querida andorinha cuidará das árvores de fruto no Jardim do Paraíso...

Só espero que, para encontrá-la, não me engane no caminho...

Cláudia de Sousa Dias

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2006-11-13

Anthony and the Johnsons

Inesquecível.
Porque há momentos e surpresas
que montam casa em nós pela vida inteira.

2006-11-02


“I was lying in my bed last night…”

A tua voz ouve-se dentro de mim. Nos lençóis vibra a dor de sentimentos silenciosos. Ao som do piano, uma lágrima escorre chamando a solidão. Cada nota inspira em mim uma nostalgia. Um passado de ti. É difícil acreditar nessas noites. Gosto do amanhecer da tua janela e do aroma dos jasmins. O piano embala-me a dizer o quanto te quero e estamos juntos .