Sobre António Fagundes e “As Mulheres da minha Vida”
Tive, no passado dia 17 de Novembro, que tive a oportunidade de assistir na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, à peça As Mulheres da minha Vida, com um actor que, para o Grande Público, dispensa apresentações.
O carisma de António Fagundes conjugado com a qualidade da peça levada a palco, contribuíram, respectivamente, para que a lotação esgotasse em todas as récitas e para que o actor fosse aplaudido de pé por um público completamente seduzido. A genialidade do texto de Neil Simon, aliada ao virtuosismo e expressividade de António Fagundes conseguiram hipnotizar o público, logo à primeira frase. Quanto às restantes personagens, elas actuam como elementos de suporte que gravitam à volta do protagonista, George, um escritor de sucesso.
E as mulheres da vida de George nada mais são do que as diferentes formas de afectividade, que ele consegue exprimir.
A peça consiste essencialmente num monólogo, ou melhor, num diálogo interno, imaginário, de um escritor – George – com as pessoas que lhe são mais próximas, todas elas mulheres: a irmã, Karen, sensível, dedicada e solitária, que o ama incondicionalmente, o seu grande apoio afectivo; Diana, a esposa actual, uma executiva de topo , com quem tem graves problemas de comunicação, devido ao facto de viverem em mundos completamente diferentes; Carol, a filha na fase adulta, inteligente, culta, devotada ao pai, mas quase sempre ausente; a recordação da filha na fase infantil, observadora, perspicaz e doce; a memória da falecida esposa, Júlia, com quem teve um casamento idílico, de uma felicidade quase perfeita, com todos os sonhos realizados; a psicóloga, Edith, a consciência de George, cuja frieza objectividade e sentido de humor algo ácido, o levam a olhar para si mesmo como se fosse Outro, facilitando-lhe a introspecção. Edith é a consciência do lado negativo de George.
O aspecto mais curioso dos diálogos é o facto de todas estas personagens entrarem em diálogo uma com as outras e não somente com o protagonista. O tema da conversa é só um: o próprio George, o que é um sintoma mais do que evidente do seu extremo narcisismo. Todo o diálogo interno com as restantes personagens é originário da mente do próprio protagonista. Nestes diálogos ou monólogos, George é sempre o centro das atenções. Para ele, é extremamente importante a forma como os outros o vêem, para analisar o tipo de relação que estabelece com as pessoas. George é um a pessoa extremamente insegura., sempre encerrado em si mesmo, na sua concha, refugiado no mundo restrito da sua caixinha de trabalho – o computador.
A evolução da personagem consiste exactamente num trabalho de auto descentralização ou de extroversão, passando a focar-se nas necessidades daqueles que o rodeiam.
A intensa actividade mental, expressa mo monólogo interno de George é característica da estrutura mental típica de quem faz da escrita criativa a sua ocupação principal: é a mente de alguém que está em constante diálogo consigo próprio e a reconstituir as situações do quotidiano.
Por outro lado, o diálogo real entre George e Diana, é o espelho que reflecte o dia-a-dia de duas pessoas que não têm muitos interesses em comum e que optam por formas de estar e de se relacionar com os outros completamente diferentes, para não dizer opostas. O que as obriga necessariamente a uma ruptura. Sobretudo quando ambos têm personalidades fortes – como é o caso – tornando impossível a submissão de um face à forma de estar do outro. Ou têm ambos de passar por uma fase de amadurecimento e crescimento para tornar possível uma vida em comum.
Por todas estas razões As Mulheres da minha Vida é uma peça imperdível. Pelo menos, enquanto o elenco estiver em digressão em Portugal...
Cláudia de Sousa Dias
O carisma de António Fagundes conjugado com a qualidade da peça levada a palco, contribuíram, respectivamente, para que a lotação esgotasse em todas as récitas e para que o actor fosse aplaudido de pé por um público completamente seduzido. A genialidade do texto de Neil Simon, aliada ao virtuosismo e expressividade de António Fagundes conseguiram hipnotizar o público, logo à primeira frase. Quanto às restantes personagens, elas actuam como elementos de suporte que gravitam à volta do protagonista, George, um escritor de sucesso.
E as mulheres da vida de George nada mais são do que as diferentes formas de afectividade, que ele consegue exprimir.
A peça consiste essencialmente num monólogo, ou melhor, num diálogo interno, imaginário, de um escritor – George – com as pessoas que lhe são mais próximas, todas elas mulheres: a irmã, Karen, sensível, dedicada e solitária, que o ama incondicionalmente, o seu grande apoio afectivo; Diana, a esposa actual, uma executiva de topo , com quem tem graves problemas de comunicação, devido ao facto de viverem em mundos completamente diferentes; Carol, a filha na fase adulta, inteligente, culta, devotada ao pai, mas quase sempre ausente; a recordação da filha na fase infantil, observadora, perspicaz e doce; a memória da falecida esposa, Júlia, com quem teve um casamento idílico, de uma felicidade quase perfeita, com todos os sonhos realizados; a psicóloga, Edith, a consciência de George, cuja frieza objectividade e sentido de humor algo ácido, o levam a olhar para si mesmo como se fosse Outro, facilitando-lhe a introspecção. Edith é a consciência do lado negativo de George.
O aspecto mais curioso dos diálogos é o facto de todas estas personagens entrarem em diálogo uma com as outras e não somente com o protagonista. O tema da conversa é só um: o próprio George, o que é um sintoma mais do que evidente do seu extremo narcisismo. Todo o diálogo interno com as restantes personagens é originário da mente do próprio protagonista. Nestes diálogos ou monólogos, George é sempre o centro das atenções. Para ele, é extremamente importante a forma como os outros o vêem, para analisar o tipo de relação que estabelece com as pessoas. George é um a pessoa extremamente insegura., sempre encerrado em si mesmo, na sua concha, refugiado no mundo restrito da sua caixinha de trabalho – o computador.
A evolução da personagem consiste exactamente num trabalho de auto descentralização ou de extroversão, passando a focar-se nas necessidades daqueles que o rodeiam.
A intensa actividade mental, expressa mo monólogo interno de George é característica da estrutura mental típica de quem faz da escrita criativa a sua ocupação principal: é a mente de alguém que está em constante diálogo consigo próprio e a reconstituir as situações do quotidiano.
Por outro lado, o diálogo real entre George e Diana, é o espelho que reflecte o dia-a-dia de duas pessoas que não têm muitos interesses em comum e que optam por formas de estar e de se relacionar com os outros completamente diferentes, para não dizer opostas. O que as obriga necessariamente a uma ruptura. Sobretudo quando ambos têm personalidades fortes – como é o caso – tornando impossível a submissão de um face à forma de estar do outro. Ou têm ambos de passar por uma fase de amadurecimento e crescimento para tornar possível uma vida em comum.
Por todas estas razões As Mulheres da minha Vida é uma peça imperdível. Pelo menos, enquanto o elenco estiver em digressão em Portugal...
Cláudia de Sousa Dias
Etiquetas: Evento: casa das artes
2 Comments:
As mulheres são poderosas em nossas vidas. eu tive e tenho algumas mulheres na minha vida.
bjs
SIm, é verdade.
Na minha também. Aminha mãe4, a minha avó, as minhas tias, etc...isto enquanto eu ainda não tenho filhas...
E claro, as minhas amigas, que valem mais do que qualquer jóia!
bjs
CSD
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