Sortilégio Lunar
O luar entra pela janela aberta do terraço. Uma luminosidade nacarada atravessa os cortinados diáfanos, agitados pela brisa marítima que inunda a sala, nua, com o cheiro da maresia.
A superfície espelhada do chão de granito negro reflecte a sombra do piano de ébano, em contraste com a brancura imaculada das paredes e da gigantesca lua branca que entra pela janela, nele projectada.
O calor é opressivo, sufocante.
Ela levanta-se da cama, encharcada de suor, e dirige-se para a sala.
A brisa refrescante acaricia-lhe o corpo nu. O suave bater das ondas produz-lhe um efeito estranhamente calmante.
Subitamente o olhar de veludo negro repara na grande pérola suspensa no firmamento que se prepara para desaparecer no horizonte. O seu reflexo move-se lentamente no lago de trevas do chão da sala.
O seu reflexo e o da Lua.
Movem-se em direcção ao piano.
Vêm-lhe à mente Débussy e o seu Clair de Lune e, em seguida, a Sonata ao Luar de Beethoven, alguns Nocturnos de Chopin.
Sente a magia lunar entranhar-se nas veias seduzir-lhe o olhar e enfeitiçar-lhe o ouvido…
O impulso de se sentar ao piano invade-a como a maré.
A sede de produzir música torna-se insuportável.
Os longos e esguios dedos caem sobre o teclado como as primeiras gotas de chuva na areia...
Soam as primeiras notas.
Lentas.
Graves.
Lembram o bater das ondas.
O canto de uma ave nocturna.
Um melro.
Negro.
Como o cabelo do amante adormecido.
Como as teclas dos acordes da música nocturna de Debussy...
...o Amante desperta.
A sua sombra, reflectida na parede pela penumbra, move-se lenta e silenciosamente seguindo rasto da música enluarada...
O feitiço da música transmutado em pura sedução.
Um estranho sortilégio percorre-lhe os nervos num apelo directo à posse.
Diana. A deusa da Lua. Indomável. Inatingível. Impossível de tomar nos braços.
Mas não hoje.
Hoje a Deusa incarnou o corpo da amada.
Possui-la será como possuir a Lua.
Ou Diana.
Ou Arthemis.
Ela sente-o aproximar-se.
Sente as ondas de calor que emanam do corpo dele ainda antes de tocar a sua pele.
O veludo asa de corvo do seu cabelo roça-lhe a pele da cor da Lua.
O som de um disparo rompe a harmonia da Noite.
A música pára.
A luz branca da lua mergulha no abismo negro do oceano iluminando-o durante alguns segundos.
Suspiros de angústia confundem-se com o rumor das ondas...
Altiva, a Deusa regressa ao Olimpo.
A lua acabou de morrer.
Desert Rose
Etiquetas: Luna e o gato
7 Comments:
Viva,DESERT ROSE!
LINDO,ADOREI.
Fiquei com suores/arrepios frios só de ler este texto magnifico!
Além da escrita,tens uns ombros muito bonitos e esculturais.
Esse amante ou melro existe mesmo?
Desculpa a minha frontalidade ou abuso,respondes se quiseres!;)
Bjinhos,LINDA!Continua o bom trabalho!
Ps:Espero que não leves a mal,o meu elogio fisico?!
Olá Iceman!
Sei quem tu és. Identifiquei-te,mais uma vez, pela escrita.
O texto é todo ficção,mas inspitei-me na fisionomia de alguém que amei para o retrato físico do amante de Luna...
Ainda bem que gostaste.
Beijo
Desert Rose
GENIAL!!!!
andas na lua, desert rose...
lindos os mitos e a forma de os dizer...
Iva e Elipse, um grande beijinho às duas!
CSD
" caiu la luna se apagou lo farol"
Arabie, sua malandra, tués o máximo!
Beijinho grande
Desert Rose
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