2006-10-18

Sortilégio Lunar




O luar entra pela janela aberta do terraço. Uma luminosidade nacarada atravessa os cortinados diáfanos, agitados pela brisa marítima que inunda a sala, nua, com o cheiro da maresia.

A superfície espelhada do chão de granito negro reflecte a sombra do piano de ébano, em contraste com a brancura imaculada das paredes e da gigantesca lua branca que entra pela janela, nele projectada.

O calor é opressivo, sufocante.

Ela levanta-se da cama, encharcada de suor, e dirige-se para a sala.
A brisa refrescante acaricia-lhe o corpo nu. O suave bater das ondas produz-lhe um efeito estranhamente calmante.

Subitamente o olhar de veludo negro repara na grande pérola suspensa no firmamento que se prepara para desaparecer no horizonte. O seu reflexo move-se lentamente no lago de trevas do chão da sala.

O seu reflexo e o da Lua.

Movem-se em direcção ao piano.

Vêm-lhe à mente Débussy e o seu Clair de Lune e, em seguida, a Sonata ao Luar de Beethoven, alguns Nocturnos de Chopin.

Sente a magia lunar entranhar-se nas veias seduzir-lhe o olhar e enfeitiçar-lhe o ouvido…

O impulso de se sentar ao piano invade-a como a maré.

A sede de produzir música torna-se insuportável.

Os longos e esguios dedos caem sobre o teclado como as primeiras gotas de chuva na areia...

Soam as primeiras notas.

Lentas.

Graves.

Lembram o bater das ondas.

O canto de uma ave nocturna.

Um melro.

Negro.

Como o cabelo do amante adormecido.

Como as teclas dos acordes da música nocturna de Debussy...

...o Amante desperta.

A sua sombra, reflectida na parede pela penumbra, move-se lenta e silenciosamente seguindo rasto da música enluarada...

O feitiço da música transmutado em pura sedução.

Um estranho sortilégio percorre-lhe os nervos num apelo directo à posse.

Diana. A deusa da Lua. Indomável. Inatingível. Impossível de tomar nos braços.

Mas não hoje.

Hoje a Deusa incarnou o corpo da amada.

Possui-la será como possuir a Lua.

Ou Diana.

Ou Arthemis.

Ela sente-o aproximar-se.

Sente as ondas de calor que emanam do corpo dele ainda antes de tocar a sua pele.

O veludo asa de corvo do seu cabelo roça-lhe a pele da cor da Lua.

O som de um disparo rompe a harmonia da Noite.

A música pára.

A luz branca da lua mergulha no abismo negro do oceano iluminando-o durante alguns segundos.

Suspiros de angústia confundem-se com o rumor das ondas...

Altiva, a Deusa regressa ao Olimpo.

A lua acabou de morrer.



Desert Rose

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Viva,DESERT ROSE!

LINDO,ADOREI.
Fiquei com suores/arrepios frios só de ler este texto magnifico!

Além da escrita,tens uns ombros muito bonitos e esculturais.

Esse amante ou melro existe mesmo?
Desculpa a minha frontalidade ou abuso,respondes se quiseres!;)

Bjinhos,LINDA!Continua o bom trabalho!
Ps:Espero que não leves a mal,o meu elogio fisico?!

24/10/06 7:15 da manhã  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Olá Iceman!

Sei quem tu és. Identifiquei-te,mais uma vez, pela escrita.

O texto é todo ficção,mas inspitei-me na fisionomia de alguém que amei para o retrato físico do amante de Luna...

Ainda bem que gostaste.

Beijo

Desert Rose

24/10/06 12:16 da tarde  
Blogger iva said...

GENIAL!!!!

24/10/06 2:41 da tarde  
Blogger Elipse said...

andas na lua, desert rose...
lindos os mitos e a forma de os dizer...

24/10/06 8:16 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Iva e Elipse, um grande beijinho às duas!

CSD

26/10/06 4:11 da tarde  
Blogger arabie said...

" caiu la luna se apagou lo farol"

27/10/06 11:52 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Arabie, sua malandra, tués o máximo!

Beijinho grande


Desert Rose

28/10/06 10:24 da manhã  

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