2015-12-31

Três poemas de Maria Teresa Horta


Na foto: uma reprodução de «Voar», de Marc Chagall



UM NOVO ANO

Conduz-nos o tempo
devagar
até um novo ano

por entre paixões
esperanças e ruínas

Conduz-nos o tempo
no seu extremo engano
ano, após ano, após ano

por entre dores
júbilos e vertigens

Conduz-nos o tempo
mudando
até um novo ano

por entre o sonho
princípios e ideais

A levar-nos voando
num segundo
até ao cabo do mundo

Maria Teresa Horta
Lisboa, 27/28 de Dezembro de 2015-12-29




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Foto retirada da página Oficial de Maria Teresa Horta



FRÉMITO DE LUZ

Há um frémito de luz
que se adivinha
um perfume louro adormentado

com bagas escarlates
de azevinho e rosas
brancas a decorar a tarde

Há um rasto de neve
e nascimento, doces de mel
lume e frutos secos

um sussurrar fugaz
a mitigar, um som dolente

Memória da infância a recordar
o perpassar do anjo
na viagem do tempo


Lisboa, 23 de Dezembro de 2015


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Foto retirada da página oficial de Maria Teresa Horta



SOLSTÍCIO DE INVERNO

Começo a juntar a fraca
claridade
dos dias demasiado curtos


e a sua gélida sombra
sobra entre os meus dedos

Mas eu teimo e sigo devagar
agasalhada de frio
ao encontro do sol mais a sul

Capricórnio – afirmam-me

Então as gralhas e os corvos
levantam voo da neve à minha frente
num fragor de gelo quebradiço

Inverno – digo em surdina

Esta é a geada do solstício
sei, sem no entanto entender
a sua respiração sustida

Trópico de Câncer – lembro

enquanto na esfera celeste
o sol num amplo movimento
atinge a sua maior inclinação

durante a noite tão longa

É então que chamo o meu amado
quem sabe perdido por entre
cardos, espinhos e lírios devastados

– “Vem para os meus braços!”

Clamo em vão, a procurar abrigo
na floresta onde fico
à espera entre as árvores

da vitória da luz sobre a escuridade

Maria Teresa Horta, 22 Dezembro de 2015