2015-11-16

Poema de Joana Emídio Marques, em memória de sexta-feira 13 de Novembro de 2015


















Imagem: "Verão de São Martinho" de Pedro Hirondino Duarte


[Beirute-Paris]

Beirute
e já não há carne que possa chamar um nome,
fico a vê-la
ir pela estrada de pó
que não leva à cave-escombro sem interior
mas aos hologramas que atravessam os olhos
e abrem neles um grande buraco.
Beirute morre
ou serão os hologramas
que a comandam e lhe arrancam a carne à desolação?
Ele atravessa Beirute
sem ver senão o que paira nos lábios do que não responde.
Já não há carne que possa evocar um nome
nem sequer Beirute.


Ele atravessa Beirute
e não vê o corpo que carrega.
Só ela sabe que Ele veio dessa vez
a única vez.
E carregou-a nos braços
depositou-a no sono.
Só ela sabe que Ele veio dessa vez
tomar-lhe a carne
espalhá-la pelas ruas de pó
pela face dos que fogem
pela boca dos que gritam
Beirute
Beirute.

E já não há carne
a que se possa chamar um nome.
Só Deus atravessando uma palavra,
carregando-a nos braços
devolvendo-a ao sono, anuncia:
Beirute.

[Ritornelos, 2007]

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