2012-02-27

"The Bird May Die"









Foto: Sandra para 
 Resim & Fotoğraf.




I feel sad,
I feel blue.

I go outside and rub my cold fingers–
on the sleek shell of the silent night.

I see that all lights of contact are dark.
All lanes to relate us- are blocked.

Nobody will introduce me to the sun.
Nobody will take me- to the gathering of doves.

Keep the flight in mind,–
The bird may die.


Forough Farrokhzad, 1962
(Trans.: MD, September 2006, Montreal)
.

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2012-02-26

Ahmad Shamlou (Parts of The Hyman Abraham in Fire*, 1973)


Foto de Kenya (Lake Manyara)















The deluge of dawn,
wounded and bleeding, 
runs to hail a man, a man–
beyond the ground–
of the mundane.

What a man!
What a man!

A man who believed–
the truth of a man can only blaze–
in its fated tryst with the blades.
Such loyal to Love!

And ,the mystery of his end–
constantly streams, 
in the sorrows of Love–
and the torments of Solitude.

**&**

“And who-
was ever as dignified–
as to draw the lines of My Destiny?
Which One?”

I, I alone, screamed: No!
I, I alone, soared away–
from the Fall.

I was a voice and a face-–
amongst the collection of depictions.

But then,
I was animated in the dimensions of sense.

I was,
But then I became;
Not alike a bud thriving into a rose;
and not like roots into stems;
and not like seeds into forest;
But like a man, just a man–
surging into a martyr,
The Martyr!

(Trans.: MD, June 2010, New Brunswick)
.
* 'The Hymn of Abraham in Fire' was composed by Ahmad Shamlou as an elegiac poem for the execution of one of his friends, Mehdi Rezaei, in the pre-revolution Iran.
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Por: Persian Poetry in English

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2012-02-22

cinzas e rosas






Foto do mural de Isabel Mendes Ferreira, imagem disponível no google








existo sem continuidade.existo em folhas em cinza em pétalas. em memórias bravias umas aparentes outras. existo para dizer esventradamente a renúncia e a subtileza do mato e da água doce que me existe vagabunda insana e respiração.
existo em cinzas de rosas. em rosa ao lado das cinzas.




de Isabel Mendes Ferreira

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2012-02-21

Ser Poeta




Foto: Jornal Público


S. stenophylla  planta do pleistocénico congelada há cerca de 30.800 anos descoberta e "ressuscitada" pela equipa de cientistas russos liderada por  Svetlana Yashina e David Gilichinsky













Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


Florbela Espanca

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2012-02-20

"De cereja translúcidos"







Foto de Maasai












Para Jacob 


Quem fomos naquele quarto
Se não desespero de carnes, animais vulcânicos
Sem tino nem despedida digna da tua criança
Que se perdeu tão sozinha numa mancha vermelha
Talvez eu seja um pouco religioso, talvez um pouco antiquado, talvez um porco
Mas agora que a tua criança se foi eu estou triste
e o teu sorriso ficou velho
o meu fôlego faliu
Nem coragem tenho para contar de como mal sobrevivo
à partida da tua criança que tinhas desde criança
há tão poucas horas atrás
Tão só, só eu sou agora,
Esqueceste-te de alguma coisa, amor?
Guardaste tudo na mala? Não, deixa os sabonetes do hotel
Eu compro-te aqueles de cereja translúcidos na loja das alfazemas (para virgens)
Deixa tudo anjo, que a tua criança partiu
E a única graça que deixou foi o teres pensado que foi bom
mas eu sei que o amor que te dei, que me deu vida, matou
a criança que foste, a criança que se esfumou como um fantasma
na escuridão incerta de um quarto
cujas toalhinhas brancas mudam-se dia a dia.

August Miller, in, "The old Hotel"

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2012-02-19

"Bandoleiro"



Foto de Alain Hanel












Fossem ciganos a levantar poeira
A misturar nas patas
Terras de outras terras, ares de outras matas
Eu, bandoleiro, no meu cavalo alado
Na mão direita o fado
Jogando sementes nos campos da mente
E se falasses magia, sonho e fantasia
E se falasses encanto, quebranto e condão
Não te enganarias, não te enganarias
Não te enganarias, não!
Fossem ciganos a levantar poeira
A misturar nas patas
Terras de outras terras, ares de outras matas
Eu, bandoleiro, no meu cavalo alado
Na mão direita o fado
Jogando sementes nos campos da mente
E se falasses magia, sonho e fantasia
E se falasses encanto, quebranto e condão
Feitiço, transe-viagem, alucinação
Miragem...





Ney Matogrosso

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2012-02-17

Odor a Jasmim



Foto: Inspire me (partilhada através do Facebook)







E o Monstro disse à sua amada:
“Ainda não tenho saudades dos teus
Lábios rendilhados, bordados a jasmim”.
E a Bela retorquiu: 
“ Terás mais tempo de todo o mundo, de todas as saudades do relevo meus lábios Rendilhados”.

Virgílio Liquito

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2012-02-15













Foto de Sandra para   Resim & Fotoğraf.








Paura / Medo
Paura

Nuda come uno sterpo
nella piana notturna
con occhi di folle scavi l’ombra
per contare gli agguati.
Come un colchico lungo
con la tua corolla violacea di spettri
tremi
sotto il peso nero dei cieli.

Antónia Pozzi

Medo

Nua como uma vara
em chão noturno
com olhos de loucura escavas a sombra
para contar as emboscadas.
Como um açafrão-do-prado
com a tua corola violácea de espectros
tremes
debaixo do negro peso dos céus

(trad: alberto augusto miranda)

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o amor é todos os dias...

Foto de Emira para Resim & Fotoğraf.











Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís Vaz de Camões

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2012-02-08

Escritor Francisco José Viegas, Secretário Geral da Cultura, visita Ceide para comentar filme de José Fonseca e Costa, baseado na obra de José Cardoso Pires



Francisco José Viegas nasceu no Pocinho, precisamente a última paragem da linha do Douro e esteve cá em Famalicão na passada 6ª dia 27 de Janeiro para falar sobre o filme “A Balada da Praia dos Cães”, realizado por José Fonseca e Costa, também presente no evento. O filme é baseado na obra homónima do escritor José Cardoso Pires
Francisco José Viegas foi professor de Linguística e Semiótica na Universidade de Évora, director da Casa-Museu Fernando Pessoa de 2006 a 2008, director da revista “Ler”; foi, também, apresentador de televisão em vários programas relacionados com a Cultura e a promoção da Literatura. É autor de vários romances policiais, ensaios e, também, poeta. Foi, ainda, director da editora Quetzal e deputado independente pelo PSD tendo sido, em 2011, nomeado para a função de Secretário de Estado da Cultura.

Francisco José Viegas afirma ter escolhido este filme de José Fonseca e Costa pelo facto de o mesmo filme ser baseado numa obra de José Cardoso Pires, escritor da sua preferência, e por este filme não estar disponível em DVD, tendo sido necessária a autorização do realizador para exibir o exemplar depositado no acervo da Cinemateca Portuguesa..

«Escolhi esta obra por ter um conjunto de personagens muito bem construídas que, no filme, adquirem uma dimensão que me comove muito. E, claro, por causa da cena erótica no elevador, que vem na página 110 do livro, mas onde no filme os actoresrespiramde forma particularmente intensa. Depois, gosto mais do Elias Santana do filme do que do livro, por causa da melancolia no olhar de Raul Solnado, que me comove muito, também. É um filme português, de um autor português... José Cardoso Pires e eu tivemos uma amizade muito tardia. Quis entrevistá-lo a propósito deA Balada da Praia dos Cãese deAlexandre Alpha. Fomos almoçar e...embebedámo-nos. E não fiz a entrevista. (risos)».

«A Balada...é fascinante porque acaba por ser o romance policial típico. Sou da opinião que toda a literatura é policial onde são usadas determinadas marcas como fórmulas: a morte, a vida , o mistério, o medo, a paixão. Quis homenagear a obra de José Cardoso Pires e de José Fonseca e Costa num filme ao qual fiqueipreso

O interesse demonstrado pelo cineasta José Fonseca e Costa em relação à realização do filme, tem a ver com a temática em si e com o hábito de José Cardoso Pires misturar personagens fictícias com personagens reais.

«Gosto do filme, porque tanto eu como o(Cardoso Pires) tivémos conhecimento dos factos que estão na origem do romance, ainda antes de se tornarem conhecidos (a morte do General Almeida Santos). Também penso que todas as histórias que se contam são policiais porque toda a história que não mete, paixão, medo e mistério, para mim não têm interesse nenhum. Um dos maiores realizadores de filmes policiais é, para mim, a figura de Michelangelo Antonioni.»

José Cardoso Pires parece ter explorado todo um conjunto de infelizes coincidências e “A Balada da Praia dos Cães” envolvendo um conjunto de personagens presos nas suas convicções políticas e desejos pessoais, tornando possível um complexo jogo de conflitos, pelo que, se não fosse isso, o desenvolvimento da trama seguiria um caminho muito mais formal.

Face a isto, Francisco José Viegas confessa sentir-se movido pela personagem Elias Santana, a qual inspirou a criação do seu detective, Jaime Ramos, presente em todos os seus romances policiais. A figura do inspector da polícia é, segundo o escritor, quase sempre uma figura da contra-cultura”.

«Maso Eliasestá nos antípodas. Ele é o produto típico da sociedade do Estado Novo. No romance, são mantidos dois tipo de tensão: a tensão política e a tensão passional

José Fonseca Costa, confrontado com a questão relativa à adaptação do livro ao cinema , responde à questão lançada pelo moderador do debate, Dr. José Manuel, director do Centro de Estudos Camilianos, sobre o que teria retirado da história original, o cineasta afirma ter suprimido, como pano de fundo, a cidade de Lisboa, a qual aparece sempre nos romances de José Cardoso Pires.

«No romance, José Cardoso Pires faz de Elias Santana um pequeno vicioso (o sonho voyeurista na cena do elevador) e que faz grandes deambulações por Lisboa. Mas naquela época (anos 80) era impossível filmar essa Lisboa porque os passeios estavam atulhados de carros e era impossível reconstituir o ambiente dos anos 60, altura em que havia muito menos carros.»

O realizador afirma, também, ter sido a escolha de Raul Solnado algo complicada não só porque o actor nunca antes tinha explorado a sua faceta dramática, tendo, à primeira abordagem, recusado o papel. Mas também, porque o próprio José Cardoso Pires não acreditava no resultado da escolha. Solnado, no entanto, muda de ideias e Cardoso Pires, ao ver o filme concluído, dos poucos elementos que aprecia realmente na obra é, precisamente, o desempenho de Raul Solnado.

José Fonseca e Costa fez notar que “A balada da Praia dos Cães” teve um grande impacto fora de Portugal, particularmente em Espanha e França, devendo muito o sucesso à participação e desempenho dos actores. Além do mais, tratando-se de uma co-produção entre Portugal, Espanha e França, houve muitos actores a falar várias línguas diferentes tendo de se recorrer à dobragem em algumas vozes.

«Assim, tivemos Mário Viegas a fazer a voz do capitão, Paula Guedes a fazer a voz de Mena (interpretada pela belíssima actriz Assumpta Serna) e António Feio a dar a voz à personagem Roque.»
O realizador sublinha que, a gravação das vozes em estúdio, em substituição do uso do som directo, é muito comum no cinema comercial americano e, também nos filmes italianos - Fellini recorria sempre a esta técnica – enfatiza o realizador.

Relativamente a Elias, José Fonseca e Costa afirma não se tratar de uma personagem inspirada em Salazar , mas no sistema.

«Elias Santana é produto da sociedade do Estado Novo mas não é inspirado em Salazar. É antes o retrato do salazarismo, um homem tipicamente lisboeta, solitário, tem muitos tiques de Fernando Pessoa na figura de Bernardo Soares. A decoração do quarto, a religiosidade...só podia ser português . Tem algo de um personagem do escritor grego Petrus Makaris. Makaris tem uma personagem um pouco assim, misógino; embora Elias Santana não é propriamente misógino, mas é solitário. O José Cardoso Pires deu-lhe um tom mais malandro».

«José Cardoso Pires escreve o livro como se de uma peça processual se tratasse. A escrita dele é muito perigosa, faz notas de rodapé, tal como emO Delfim. É uma escrita muitoburguesa, típica do século XIX. No entanto, José Cardoso Pires é, também, muito marcado pela influência dos escritores americanos como Norman Mailer no aspecto do apuramento documental e na mistura de situações fictícias com factos reais.»

Também agindo um pouco como Elias Santana, José Cardoso Pires parece ter-se inspirado na personagem real Maria José para construir a figura de Filomena Ataíde. Para tal, espiava-lhe os movimentos. O realizador, que a conhece pessoalmente , afirma ter ainda acrescentado alguns elementos que não estão no livro, salientando que “ uma história muito interessante para contar do ponto de vista da Maria José.

No livro, a intriga é aumentada pelo facto de a PIDE querer fazer constar que o crime tem origem na oposição ao regime, quando se trata na verdade um crime passional. A confusão é lançada com intenção de aproveitamento político.

A conversa foi empolgante embora a sala contasse com um público pouco participativo. No entanto, o diálogo a três, com os tópicos lançados estrategicamente pelo moderador, compensaram a timidez da audiência, numa sala praticamente repleta.


Cláudia de Sousa Dias

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2012-02-02

POSSIBILIDADES





Fotografia discretamente roubada do mural de Carlos Vaz Marques no Facebook




Prefiro cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.
Prefiro Dickens a Doistoievski.
Prefiro-me gostando dos homens
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrever.
No amor prefiro os aniversários não redondos
para serem comemorados cada dia.
Prefiro os moralistas,
que não prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países conquistadores.
Prefiro ter abjecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
e outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro levar em consideração até a possibilidade
do ser ter a sua razão.


Wislawa Szymborska, in "rosa do mundo" assírio & alvim, 2001
Prémio Nobel 1996


Falecida ontem dia 01.02.2012

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