2006-08-31

Porosidade

Absorvo teu cheiro
Fresco, animal
Refinado

Pelo prazer exala aventuras
Utopias
Modelado pela tua individualidade
Meu corpo evoca
Paisagens olfactivas
Num exercício estético
Cheiro a ti
Foto:Jean-Baptiste Mondino

2006-08-29


" a dependência é uma besta, quando dá cabo do desejo e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo"

Jorje Palma

2006-08-28

Anos 80

Ontem fizeste-me lembrar que houve uma época em que vestia de preto, que tinha o cabelo espetado e usava umas botas que, se não eram da tropa, andavam lá perto. Fases. Pois. O meu grupo de amigos, com algumas excepções, curtia muito as depressões associadas à música que ouviam, povoando o imaginário de crucifixos, drogas e alucinações. Eu, com eles, tinha a cumplicidade das canções e das vestimentas. Ontem, bright eyes, fizeste-me lembrar tudo isso e as canções desse tempo, que também partilhavas e partilhas. The Felt, Jesus and Mary Chain, The Sound, The Mission, Sisters of Mercy, eu sei lá que mais. A nossa juventude teve, de facto, a melhor banda sonora do mundo. E canções de amor como esta:

REEL AROUND THE FOUNTAIN
The Smiths

It's time the tale were told
Of how you took a child
And you made him old

It's time the tale were told
Of how you took a child
And you made him old
You made him old


Reel around the fountain
Slap me on the patio
I'll take it now
Oh ...


Fifteen minutes with you
Well, I wouldn't say no
Oh, people said that you were virtually dead
And they were so wrong


Fifteen minutes with you
Oh, well, I wouldn't say no
Oh, people said that you were easily led
And they were half-right
Oh, they ... oh, they were half-right, oh


It's time the tale were told
Of how you took a child
And you made him old
It's time that the tale were told
Of how you took a child
And you made him old
You made him old


Oh, reel around the fountain
Slap me on the patio
I'll take it now
Ah ... oh ...


Fifteen minutes with you
Oh, I wouldn't say no
Oh, people see no worth in you
Oh, but I do.
Fifteen minutes with you
Oh, I wouldn't say no
Oh, people see no worth in you
I do.
Oh, I ... oh, I do
Oh ...


I dreamt about you last night
And I fell out of bed twice
You can pin and mount me like a butterfly
But "take me to the haven of your bed"
Was something that you never said
Two lumps, please
You're the bee's knees
But so am I


Oh, meet me at the fountain
Shove me on the patio
I'll take it slowly
Oh ...


Fifteen minutes with you
Oh, I wouldn't say no
Oh, people see no worth in you
Oh, but I do.
Fifteen minutes with you
Oh, no, I wouldn't say no
Oh, people see no worth in you
I do.
Oh, I ... I do
Oh, I do
Oh, I do
Oh, I do

2006-08-25

“Luna”



“Luna”

Foi aos 30 anos, o meu primeiro beijo. Numa tarde de Domingo de um Verão moribundo. E, na mesa do canto da minha pastelaria favorita, onde servem uns deliciosos croissants com molho de chocolate.
Dantes, eu tinha o hábito de lá ir em busca desses croissants quentinhos, que a simpática senhora de olhos verdes e sorriso rasgado abria para,em seguida, os regar com a deliciosa calda de chocolate liquefeito. Que eu me deliciava a saborear, enquanto descia o Chiado para devorar com os olhos as montras das livrarias. Por vezes, distraída, nem reparava que a calda do chocolate me escorria, subrepticiamente, para a manga do casaco. Uma vez, só me dei conta do facto quando um transeunte, impecavelmente vestido no seu facto de executivo e agasalhado com uma requintada Burberrys, me chamou a atenção, apontando para a manga com um sorriso divertido…
Claro que corei até à raiz dos cabelos, apesar de rir de mim própria, enquanto despia o casaco e descia o Chiado em direcção ao Rossio e apesar, também, do frio de Outubro...

Mas naquele dia, foram uns lábios carnudos, vermelhos e suculentos que me tiraram o apetite e me provocaram um estranho e inexplicável sorriso de orelha a orelha intrigando todos aqueles que me eram próximos.

- De onde lhe vem aquela misteriosa felicidade? – perguntavam-se.


Luna, a minha dona era então uma jovem de trinta anos que arvorava constantemente um ar melancólico, expressão taciturna.

O olhar, duas estrelas negras, insondáveis, coroadas por sobrancelhas de carvão, em contraste absoluto com uma pele claríssima, quase transparente, mas que se harmonizavam perfeitamente com os cabelos castanhos escuros.

O seu meio sorriso dava-lhe a expressão idiomática de uma Gioconda.
Uma beleza sombria.

Além disso, era uma intelectual, mas de uma personalidade algo cismática e introvertida…
Luna gostava da auto-análise, da introspecção. Queria conhecer-se em profundidade, sondar os mais obscuros recantos da sua mente, para melhor poder controlar as suas próprias reacções. Porque o auto-domínio é a chave do Poder.

Luna adorava mostrar-se aos outros como um ser racional, ostentar a sua cultura como o pavão gosta de ostentar a cauda para seduzir a companheira, Luna gostava impressionar pelo saber e pelo amor profundo ao Conhecimento.

Era uma devota fidelíssima da deusa Razão. E, por isso, evitava tudo o que extravasasse os seus limites. Receava até a dependência emocional de alguém.

Mas ela sabia que, lá no fundo de si mesma, havia algo escondido, no mais profundo abismo da sua mente, que era imprevisível, indomável. E que teimava em assomar à superfície nos momentos mais inconvenientes.

Quando o auto-domínio, a presença de espírito era mais necessária.

Bastava que alguém soubesse accionar a mola que despoletava o ataque de riso incontrolável – no momento exacto em que a situação requeria que se munisse de toda a fleuma possível e imaginária, do seu sentido crítico, do seu sentido de equilíbrio – a sua blindagem face ao ridículo e ao burlesco.

Ou então que alguém escarnecesse em público de uma falha cometida. As críticas destrutivas conseguiam sempre o seu objectivo: aniquilar, reduzir a pó a sua auto-estima. Nesses momentos, a vontade de sucumbir ao choro só era controlável porque Luna possuía uma vontade de ferro e um orgulho faraónico.

A ira, só assomava à superfície quando ela se sentia defraudada ou então quando era verbal e maldosamente ofendida.

Então as pupilas dilatavam-se-lhe ao mesmo tempo que se lhe alterava o tom de pele primeiro, para uma palidez de morte, para em seguida adquirir um tom vermelho- púrpura enquanto que os dois sóis negros dardejavam raios fulminantes.

Luna, nessas alturas, não conseguia articular uma única palavra. Mas o seu agressor ia, gradualmente, recuando e os seus insultos ou agressões iam também, pouco a pouco, baixando de volume até este desviar os olhos e bater em retirada.

Ninguém consegue olhar fixamente as Fúrias nos olhos de Luna durante muito tempo.

Mas um belo dia, quando trabalhava num projecto de investigação sociológica, os seus olhos de noite encontraram um olhar de âmbar. Uma cor que se repetia nuns cabelos castanhos-claros, ligeiramente compridos, e numa barba aloirada de textura surpreendentemente macia.

Tinha um ar helénico, um perfil que fazia lembrar um filósofo da antiguidade.

Mas o que captou a atenção de Luna foi a forma displicente como o jovem cruzava as suas longas pernas, ao mesmo tempo que degustava um cigarro, num trejeito levemente dândi.

Tinha um sorriso felino.

Um gato que gosta de brincar cruelmente com a sua presa antes de a devorar.

Um sorriso hipnótico.

Ela sentiu-se aprisionada como o insecto negro no âmbar dos seus olhos leoninos.

Quanto mais queria libertar-se mais presa se sentia, envolvida na teia de sedução que o Belo lhe lançava…

Todos os sinais de alarme dispararam…

Ela ignorou-os.

Pura e simplesmente…




Cláudia de Sousa Dias

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2006-08-23

A minha paixão


Existem coisas que não deixo na minha ausência: os meus livros. A eles vão desaguar todas as minhas alegrias e tristezas. Há dias, um desses livros fez-me chorar, senti a nossa história, o nosso amor platónico, sim mas só até eu te pôr a mão. A sintonia de afectos fazia escorrer lágrimas até à última página. Não é o meu estilo chorar, mas aquele livro só o sente quem ama. Além desse, existem outros lá na prateleira. A minha vida virou uma página.

2006-08-14

"Gato Empoleirado em Janela Aberta"




"Gato empoleirado em Janela aberta"

O meu pêlo é negro como a noite sem estrelas nem lua e os meus olhos, esmeraldas incandescentes que cintilam à mais pequena oscilação de luz. Que quando repouso, empoleirado, à janela da biblioteca, transformam-me em objecto de adoração da minha dona.

Nas noites de Verão, costumam deixar essa janela aberta. E eu divirto-me, semi-deitado no parapeito, a observar as suculentas borboletas nocturnas que teimam em voltear, provocantes, insolentes, diante dos meus bigodes...

Durante o dia, são os pardais ou, porventura um melro, mais afoito, que assomam diante do meu extasiado nariz, curiosos. Ou que apenas buscam as migalhas do bolo de chocolate que a pequena Catarina gosta de saborear à janela, à hora do lanche...

As borboletas continuam a passar mas são de outras cores – amarelas, brancas, cor-de-fogo, listradas como zebras e até lilases. E não querem nada comigo...

Só estão interessadas em sugar o néctar das rosas e sentir o perfume das suas pétalas aveludadas...

Às vezes dou um saltito lá para baixo e vou explorar a parte do jardim junto ao pinhal. Adoro o cheiro a caruma e, sobretudo, de poder esticar os músculos numa corrida alucinante atrás de um ou outro esquilo, ali pelo bosque.

Se soubessem a loucura que é persegui-los pelas árvores, pelos canteiros, pelos recantos mais insondáveis do jardim, garanto-lhes que não hesitariam em experimentar!

Durante o Inverno, prefiro sentar-me naquela poltrona em frente à lareira, muitas vezes ao colo da minha dona, enquanto lê um livro ou escreve no seu diário ou poemário...

Sabem, ela gostaria de escrever um livro! Mas ainda não se convenceu totalmente de que é uma escritora.

Talvez eu a consiga convencer...

Quem sabe?


Cláudia de Sousa Dias

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2006-08-12

O que custa a liberdade!


2006-08-11

O treino das janelas de oiro - um conto Zen


Um conto que mergulha nas profundezas do nosso ser e que apela a que saibamos estar disponíveis para receber lições de nós próprios:

"Quando Koshi Takisawa tinha três anos, agarrou pela primeira vez o seu avô pela manga e indicou com o dedinho a outra parte do vale, gritando de felicidade: “Ali!”
Ao fazê-lo, a sua voz límpida tremeu comicamente e o avô riu-se. Depois, o velho continuou a saborear lentamente o seu cachimbo e acenou com a cabeça:
“Sim, sim, olha, um momento!
Koshi nascera numa pequena aldeia de montanha camada Fan Tan Si. Os seus pais eram camponeses, e por isso tinham de se levantar cedo todas as manhãs. O dia acompanhava o percurso do Sol. E exactamente como as cabras, os bois e as galinhas, Koshi ia para a cama ao pôr-do-sol.
Uma vez, quando Koshi tinha seis anos, pouco antes de escurecer, perguntou ao pai:”Papá, porque é que aquelas janelas são de ouro?”, indicando com a mão o outro lado do vale, onde havia casas. No entanto, o pai limitou-se a responder: “Ainda não o entendi”.
O vale estendia-se de norte a sul, e no seu fundo durante milénios, um rio impetuoso escavara um leito profundo. Muitas vezes Koshi brincara na sua margem com as barquinhas de bambu, mas todas as crianças conheciam o grande perigo existente na travessia do rio. Viviam na parte ocidental já há gerações, e apenas os homens com as suas grades barcas podiam navegar no rio profundo.
Aos nove anos, Koshi perguntou à mãe porque é que as janelas do outro lado eram de ouro, e as da sua aldeia, pelo contrário, não. A mãe nem sequer o olhou, dizendo “ Mas Koshi, sempre as mesmas perguntas…”
Entretanto, koshi aprendera muitas coisas e atingira os doze anos. Sabia distinguir ervas e plantas, sabia fazer a fogaça de arroz, e era capaz de ajudar um vitelinho a vir ao mundo. Mas uma coisa Koshi ainda não conseguira entender: Porque é que as casas do outro lado do vale tinham janelas de ouro e as da sua aldeia, pelo contrário, não?
Aos quinze anos, Koshi já não fazia tantas perguntas como antes. E a quem teria podido fazê-las? Tinha a impressão de que existiam diferentes qualidades de perguntas. Havia perguntas que ninguém sabia dar respostas…e havia perguntas que ninguém fizera ainda…e evidentemente, havia perguntas que não se podiam fazer.
E, precisamente, a pergunta sobre janelas de ouro do outro lado do vale era uma pergunta que reunia em si as três qualidades.
Aos 17 anos, era considerado uma pessoa de poucas falas, e precisamente no dia do seu aniversário, perguntou ao pai mais uma vez: “ Mas diz-me, já estiveste do outro lado, onde existem as janelas de ouro?
O pai olhou-o e respondeu: “ Koshi, somos gente simples, mas temos do que viver e não invejamos ninguém. De que nos servem as janelas de ouro? Pára de sonhar com ouro e riqueza, e conseguirás viver bem aqui.”
Nessa noite, Koshi Takisawa desceu o vale, apanhou uma das barcas maiores e atravessou o rio. As ondas, os escolhos e a escuridão exigiram toda a sua força, coragem e a sua destreza. Levou muito tempo e foi empurrado para lá do sítio onde pretendia chegar. Deste modo, só alcançou a outra margem já passava muito da meia-noite. Iniciou então a subida e, atravessando caminhos inacessíveis e terrenos selvagens, subiu directamente ao cimo, às casas com janelas de ouro.
O Sol começava a elevar-se lentamente, e Koshi estava morto de cansaço, do esforço. Continuou à mesma o seu caminho, jurara a si próprio só parar depois de alcançar as casas com janelas de ouro.
“Não invejamos…haviam-lhe dito. Mas não era isso que o movia. Tinha uma grande pergunta, tratava-se de encontrar a resposta.
O Sol nascera já há muito tempo e Koshi chegou à aldeia das janelas de ouro. Mas que desilusão! Não eram janelas de ouro! Teria talvez seguido a estrada errada?
Koshi sentou-se, completamente esgotado, num banco diante de uma casa, mesmo em frente a uma das janelas gastas pelo tempo e nada dourada, e olhou para o rio. Ali, do outro lado estava Fan Tan Si. Conseguia avistar a casa da sua família e…e…a casa da sua família tinha janelas de ouro! E todas as outras casas também!"

in O Zen e a Arte de Gerir

2006-08-10

Serve-me um café


A informação é um bem inegável.Um recurso abundante mas que requer um manuseamento precioso. Os cenários onde se desenrolam as tramas informacionais são fascinantes:
desde poderosos nas areias dos desertos que governam o mundo a gritos de socorro de crianças alvejadas por uma guerra santificada em meia-dúzia de cérebros.Cada individuo faz o esforço da informação que pretende abarcar e o mundo que quer dominar.

2006-08-09

Rendez-vous!

Este lugar virtual dará lugar a pessoas reais.
Será um ponto de encontro, onde o pensar , sentir e agir de cada um de nós manifestar-se-á em plena liberdade.
Bem-vindos!