2012-02-20

"De cereja translúcidos"







Foto de Maasai












Para Jacob 


Quem fomos naquele quarto
Se não desespero de carnes, animais vulcânicos
Sem tino nem despedida digna da tua criança
Que se perdeu tão sozinha numa mancha vermelha
Talvez eu seja um pouco religioso, talvez um pouco antiquado, talvez um porco
Mas agora que a tua criança se foi eu estou triste
e o teu sorriso ficou velho
o meu fôlego faliu
Nem coragem tenho para contar de como mal sobrevivo
à partida da tua criança que tinhas desde criança
há tão poucas horas atrás
Tão só, só eu sou agora,
Esqueceste-te de alguma coisa, amor?
Guardaste tudo na mala? Não, deixa os sabonetes do hotel
Eu compro-te aqueles de cereja translúcidos na loja das alfazemas (para virgens)
Deixa tudo anjo, que a tua criança partiu
E a única graça que deixou foi o teres pensado que foi bom
mas eu sei que o amor que te dei, que me deu vida, matou
a criança que foste, a criança que se esfumou como um fantasma
na escuridão incerta de um quarto
cujas toalhinhas brancas mudam-se dia a dia.

August Miller, in, "The old Hotel"

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1 Comments:

Blogger Claudia Sousa Dias said...

Qualquer coisa de Nabokov e de Humbert Humbert...

20/2/12 3:05 da tarde  

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