OUTROS MOLDES DE MEMÓRIA
Photo by Resim & Fotoğraf
I
Os cavalos de pedra
que vejo hoje na fotografia
precisei de os tocar: as narinas
a edra arrefecida e húmida, os
contornos de pedra
era domingo e esses cavalos
grandes demais na minha
mão
II
que passeava à lua
sobre as crinas, húmidos e redondos
desatentos, o tempo que deixara
de ser tempo
para ser um sem-tempo:
um tempo a menos
III
e os cavalos de pedra
a latejar,
narinas ofegantes, as minhas mãos nas
crinas (dos cavalos), a pedra
sobre o lago galopando-se e notas
audíveis (indistintas)
os cavalos rodeando em valsa
IV
e finalmente (ou só)
de tanta roda ou tanta valsa
(ou tanta mágoa, que ela só comparável
à que sentia então
de ter nas minhas mãos cavalos
frios
e finalmente de tanto rodear
indicador, polegar, palma da mão,
as crinas, as narinas, o torso (tudo frio)
remontar
V
com saudade (enternecida,
como deve ser sempre a saudade)
ao momento retido:
pape impressionado pela luz de repente
(o flash deslumbrante)
VI
em suma,
re-moldar deslumbramentos
de pedras, de cavalos, ou de
nada.
ANA LUISA AMARAL in "Minha senhora de quê", 1990.
Os cavalos de pedra
que vejo hoje na fotografia
precisei de os tocar: as narinas
a edra arrefecida e húmida, os
contornos de pedra
era domingo e esses cavalos
grandes demais na minha
mão
II
que passeava à lua
sobre as crinas, húmidos e redondos
desatentos, o tempo que deixara
de ser tempo
para ser um sem-tempo:
um tempo a menos
III
e os cavalos de pedra
a latejar,
narinas ofegantes, as minhas mãos nas
crinas (dos cavalos), a pedra
sobre o lago galopando-se e notas
audíveis (indistintas)
os cavalos rodeando em valsa
IV
e finalmente (ou só)
de tanta roda ou tanta valsa
(ou tanta mágoa, que ela só comparável
à que sentia então
de ter nas minhas mãos cavalos
frios
e finalmente de tanto rodear
indicador, polegar, palma da mão,
as crinas, as narinas, o torso (tudo frio)
remontar
V
com saudade (enternecida,
como deve ser sempre a saudade)
ao momento retido:
pape impressionado pela luz de repente
(o flash deslumbrante)
VI
em suma,
re-moldar deslumbramentos
de pedras, de cavalos, ou de
nada.
ANA LUISA AMARAL in "Minha senhora de quê", 1990.
Etiquetas: poemário
2 Comments:
Como o pensamento
crinas ao vento
gáveas ao alto
Obrigada, Mar Arável!
é uma imagem particularmente inspiradora.
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