2012-03-25

OUTROS MOLDES DE MEMÓRIA


















I

Os cavalos de pedra
que vejo hoje na fotografia
precisei de os tocar: as narinas
a edra arrefecida e húmida, os
contornos de pedra

era domingo e esses cavalos
grandes demais na minha
mão

II

que passeava à lua
sobre as crinas, húmidos e redondos
desatentos, o tempo que deixara
de ser tempo
para ser um sem-tempo:
um tempo a menos

III

e os cavalos de pedra
a latejar,
narinas ofegantes, as minhas mãos nas
crinas (dos cavalos), a pedra
sobre o lago galopando-se e notas
audíveis (indistintas)
os cavalos rodeando em valsa

IV

e finalmente (ou só)
de tanta roda ou tanta valsa
(ou tanta mágoa, que ela só comparável
à que sentia então
de ter nas minhas mãos cavalos
frios
e finalmente de tanto rodear
indicador, polegar, palma da mão,
as crinas, as narinas, o torso (tudo frio)
remontar

V

com saudade (enternecida,
como deve ser sempre a saudade)
ao momento retido:
pape impressionado pela luz de repente
(o flash deslumbrante)

VI

em suma,
re-moldar deslumbramentos
de pedras, de cavalos, ou de
nada.

ANA LUISA AMARAL in "Minha senhora de quê", 1990.

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2 Comments:

Blogger Mar Arável said...

Como o pensamento

crinas ao vento

gáveas ao alto

27/3/12 2:52 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada, Mar Arável!

é uma imagem particularmente inspiradora.

28/3/12 1:33 da tarde  

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