2013-09-18

À BELEZA



Photo by Sandra forResim & Fotoğraf































À Beleza

Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.

És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.

Miguel Torga

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2013-09-14

Jón úr Vör, 11



Imagem retirada de Facebook J'aime l'art et la nature Flora(Josiane Cuppens).


PAZ ARMADA


O velho canhão
no musgoso forte
olha o céu
com o seu olho silencioso,
e um pássaro fez
o seu primeiro ninho
e elegeu para ele
o largo tubo.


 Jón úr Vör,
Stund milli strída, 1942

(Tradução de Amadeu Baptista)

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Poemário; Jón úr Vör, 10




































Imagem retirada do facebook Resim & Fotoğraf

A MEIO DO INVERNO


Cri que nevavam
rosas vermelhas e brancas
e o ar cheirava suave
a meio do inverno.
Aquela a quem amava
caminhava ao meu encontro.


Poemário; Jón úr Vör,
Stund milli strída, 1942

(Tradução de Amadeu Baptista)

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Jón úr Vör, 9




Imagem retira de de Facebook "J'aime l'art et la nature Flora(Josiane Cuppens)"



PARA QUE NASCESTE?


Para que nasceste?
O que se te encomendou?
Arrancas umas pedras da terra
para que cresça a erva
e o baldio da aldeia ri-se de ti
pois a montanha ainda não está nem meio erodida,
rugosos os penhascos, nuas as quebradas.
Nasceste hoje,
mas a tua cova foi cavada ontem.


Jón úr Vör,
Thorpid, 1946

(Tradução de Amadeu Baptista)

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Jón úr Vör, 8

Imagem retirada de Facebook "J'aime l'art et la nature Flora(Josiane Cuppens)"

TRANQUILA E SILENCIOSA


Tranquila vela a luz
na mão branca do candelabro,
suave e silencioso cruza o sol
as terras em penumbra.


Tanta algazarra
não apagará a miséria do mundo.
Tranquilo e silencioso e na terra
o grão faz-se pão.


Jón úr Vör,
Med hljódstaf, 1951

(Tradução de Amadeu Baptista)

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Jón úr Vör, 7





Imagem retirada de Facebook "Project Noah" (Kakapo, o papagaio que não voa, extinto na vida selvagem)

A LUZ DO DIA


A luz do dia canta nos teus cabelos
caminhas pela margem
e até as pedras amaciam
sob os teus pés nus.


O teu silêncio é a pulsação
daqueles pássaros
que perdido o seu rumo
morrem no mar.


Jón úr Vör,
Med örvalausum boga, 1951

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Jón úr Vör,














Imagem retirada de Facebok "J'aime l'art et la nature Flora(Josiane Cuppens)"

SOU UM PUNHADO DE TERRA


Oh, aonde estás,
verdade do simples,
clara como o arroio
que nasce de uma fonte.


Oh, aonde está a tua terra,
pura como as lágrimas de uma criança,
clara como os olhos assombrados
que desfrutam do sol pela primeira vez.


Oh, aonde estás,
verdade do simples,
descalço escutarei a tua fria resposta.


Como pássaro só na escuridão,
longe de toda a fé,
sei que dormirei esta noite,
despertarei amanhã?


Mas aonde, oh, aonde.


Eu sou apenas um punhado de terra
e tu o vento.

Jón úr Vör,
Med örvalausum boga, 1951

(Tradução de Amadeu Baptista)

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Jón úr Vör, 5

GAIVOTA DE INVERNO


O mar guarda o meu canto,
igual aos demais
segredos seus,
num silêncio hermético.


No seu olho vivaz
eu criança, vigilante,
procuro uma
e outra
concha maravilhosa
e frágil.


E vejo ainda
as asas estendidas
da gaivota de inverno
sobre a onda que cai.


Jón úr Vör,
Vetrarmávar, 1960

(Tradução de Amadeu Baptista)

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Jón úr Vör, 4

Imagem retirada de Facebook "BEAUTIFUL PLANET EARTH"


O CAVALO CEGO

Os que ainda tinham olhos
em Hiroshima
viram o cavalo cego,os flancos chamuscados,
a cauda queimada, sem crinas,
correr ao abandono
pelas ruínas da cidade,
nem a morte
ousava montá-lo.


Jón úr Vör,
Maurildaskógur, 1965

(tradução de Amadeu Baptista)

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Jón úr Vör, 3

Imagem retirada de Facebook, "J'aime l'art et la nature Flora (Josiane Cuppens)"



CHINESAS

Recorda essas pedras minúsculas,
pequena
pupilas polidas pelas ondas
da fria eternidade.


Coloca-as uma a uma
sob a raiz da língua,


até encontrares no fim
aquela
que se derreta nos teus lábios
e se faça poesia.


Jón úr Vör,
Maurildaskógur, 1965

(Tradução de Amadeu Baptista)

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Jón úr Vör2

GEADA

A ti,
mulher maravilhosa
com coração
de geada.

O alado corcel
cabisbaixo te aguarda
junto ao rio
com a dor por brida.

Jón úr Vör
Mjallhvítarkistan, 1968

Tradução de Amadeu Baptista.

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Jón úr Vör1

SOMENTE POESIA


A minha vida
não era
senão poesia,


dança ao som maravilhoso
que ninguém ouvia
senão eu,


os meus dias,
os curtos e os compridos,
estrofes e palavras
sem rima.


Gott era d lofa, 1984

TRadução de Amadeu Baptista

Jón úr Vör nasceu em 1917 e faleceu em 2000. O seu terceiro livro, Thorpid (A Aldeia),
causou sensação no panorama literário islandês pelo uso do verso livre, algo insólito na lírica da época. Os seus versos cantam, sobretudo, o fazer quotidiano, em tom reflexivoe ponderado, matizado, por vezes, de ironia. Publicou doze colectâneas de poesia.

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