2007-12-26

Visita de Virgílio Alberto Vieira à Biblioteca Municipal de Vila Nova de Famalicão




VERGÍLIO ALBERTO VIEIRA (nascido em 1950, Amares, Braga) formou-se em Letras na Universidade do Porto, passando a leccionar em Lisboa a partir de 1993. Nos últimos anos, reuniu quase toda a sua poesia no volume A Imposição das Mãos (1999) e parte da sua actividade crítica em A Sétima Face do Dado (2000). No domínio da ficção publicou, entre outros, os livros: Chão de Víboras (1982), agora em reedição corrigida, O Navio de Fogo (1993) e A Biblioteca de Alexandria (2001). Está representado nas seguintes antologias: Antologia do Conto Português Contemporâneo (Lisboa, 1984), A Imagem de Marrocos/Relatos Portugueses de Viagens (Fez, 1998), Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea (Rio de Janeiro, 1999), Vozes Poéticas da Lusofonia (Lisboa, 1999), Antologia da Ficção Portuguesa Contemporânea (Budapeste, 2000) e Antología del Cuento Portugués del Siglo XX (México, 2001). Está traduzido para castelhano, francês e búlgaro, línguas em que acaba de ser publicada uma antologia poética — Peregrinação ao Sul (Sófia, 2004). Autor de doze títulos (poesia, narrativa, teatro) no domínio da literatura infantil e juvenil, editou As Palavras São Como as Cerejas (2001), experiência criativa levada a cabo no âmbito de um Projecto de Oficinas de Escrita. Escreveu sobre livros no Diário de Lisboa, revista África, Jornal de Notícias e semanário Expresso. Integrou o júri dos principais prémios literários portugueses (APE, PEN Club, Eixo-Atântico, Correntes d’Escritas, etc.). Depois de Cidade Irreal e Outros Poemas (1999/ 2.a edição, 2003), publicou O Voo da Serpente (2001), Coágulos (2002) e Crescente Branco (2004), também de poesia.

Fonte: www.editorial-caminho.pt

O escritor esteve no 16 de Novembro de 2007, na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Famalicão onde, à semelhança de outras visitas anteriores, deliciou as crianças do ensino básico com as suas histórias e poemas.

As recordações das suas viagens, retiradas da sua “arca do tesouro” portátil, isto é, de uma mala – tão cheia de livros que era impossível fechá-la – cheia de histórias fantásticas onde cabiam, também, cavalos marinhos secos, corais da Costa Rica, rosas do deserto (pedras belíssimas esculpidas pelos ventos caprichosos do deserto marroquino, em forma de rosa), um fragmento solto de uma varanda do Convento de Cristo em Tomar. "Ainda vou preso. Qualquer dia tenho de lá ir devolver a pedra…Mas ela estava solta…Eu só a apanhei…" - afirma o escritor. Da arca ou mala mágica escaparam também uma outra pedra, em forma de cabeça de mocho, esculpida por ventos e marés da Normandia,isto para não falarmos dos insectos: besouros e moscardos verdadeiros, extraídos de uma caixinha de jóias.

Virgílio Alberto Vieira falou da importância das pequenas coisas do dia-a-dia, das pequenas maravilhas que tendem a escapar aos mais novos, devido às longas horas passadas agarrados ao pequeno écran ou à Internet.

Falou também da importância em destrinçar o lixo televisivo dos programas que valem a pena, destacando o National Geographic e os desenhos animados direccionados para as crianças, como detentores de elevado nível de qualidade.

Depois vieram as histórias. Belíssimas. E os poemas. E as canções de Ivo Machado com a poesia de Virgílio Alberto Vieira.

Foram muitas as histórias. E várias delas inéditas. E até um poema para Inês, improvisado na hora.

O talento para a mímica e para a imitação do Autor – que consegue reproduzir na perfeição o som de um trombone, o gorjeio de um pássaro, ou dar a um poema o ritmo e a cadência de uma locomotiva, juntamente com os seus ruídos característicos – junta-se a extraordinária capacidade de entabular um diálogo construtivo com os mais pequenos, despertando-lhe a imensa curiosidade que é a sede inesgotável de querer saber sempre mais.

Mas o momento alto do evento foi despoletado pelo Pedro, o menino especial que volteava o olhar como o voo de uma borboleta, durante toda a sessão, inquieto, até postar-se diante do contador de histórias. Uma festa no cabelo é o suficiente para cativar-lhe a atenção e a afectividade incondicional, traduzida num carinhoso e comovente abraço.

Virgílio afirma que aqueles que nascem em desvantagem são, precisamente, aqueles a quem devemos amar mais.

Sem dúvida.

Cláudia de Sousa Dias

Etiquetas:

2007-12-15

Concerto de Nina Nastassia na Casa das Artes: a música e o humor por uma cantora Gourmet (e Gourmande) de voz excepcional



Duas guitarras aguardam a entrada da cantora, como duas guardiãs, postadas no centro do palco.

Uma jovem, semelhante a um duende, entra descontraidamente, olhando sub-repticiamente para o público. A postura e os gestos são tão despretensiosos que ninguém diria tratar-se de uma estrela. Sai do palco, advertindo expressivamente o público que volta em seguida…

Regressa, com uma garrafa de água, e senta-se. Pega numa das guitarras e solta uma acorde…de fazer acordar todos os mortos do cemitério!!!!

Começa, então, a dedilhar algumas notas e, então, a voz enche a sala. Uma voz fortíssima que quase dispensa o uso de microfone. O timbre é límpido, não muito grave, transparente e sussurrante como a voz de Enya nos pianissime, ou tonitruante como a de Skunk Anansie nos fortissime. Flexível e versátil. O potencial desta cantora torna-se inesgotável, ao aliar os dotes vocais com o perfeito à-vontade com que manipula os instrumentos, tornando-se desnecessário o acompanhamento de uma banda. Nina é compositora além de cantora. Criativa e originalíssima e, sobretudo, despretensiosa.

Dialoga com o público, explica o contexto de cada uma das canções. “I souldn’t gossip”. Isto é, não deveria falar dos colegas que a acompanham na banda. Mas a verdade é que não resiste a contar os pormenores mais divertidos, das suas digressões. As gargalhadas saltam como fogo de artifício. Um membro do público, com acentuadíssimo sotaque português do Norte, tenta conversar com a cantora (!!!!) a qual afirma não perceber uma única palavra daquele inglês, para ela, tão exótico. Resultado: gargalhada geral.

Nina comenta e elogia a gastronomia portuguesa – um dos seus maiores prazeres parece ser o facto de desfrutar de boa comida – à qual se rende incondicionalmente.

As canções sucedem-se numa alucinante variedade de ritmos a fazer lembrar uma montanha russa. Ou a alternância entre uma suave brisa marinha e a violência de um tufão no Pacífico.

Destaque para a belíssima balada “She” onde se misturam emoções como amor, desamor, ódio e nostalgia, a tónica dominante na lírica de Nina Nastassia.
E foi assim a noite de 16 de Novembro na Casa das Artes em Vila Nova de Famalicão.
Com Nina Nastasia, vinda de Nova Iorque.

A cantora da voz de vento que se apaixonou por Portugal.
(Principalmente por causa da comida)
:-)


Cláudia de Sousa Dias

Etiquetas:

2007-12-10

Concerto de Lauren Field na Casa das Artes



Beleza, requinte e muita sedução.

São os adjectivos que coloriram o concerto realizado no passado dia 20 de Outubro no Grande auditório da Casa das Artes.

Lauren Field, já foi actriz, mas a sua verdadeira vocação é, indiscutivelmente, a música, pelo que, há alguns anos atrás, sofreu uma reconversão na sua carreira, redireccionando-a.

Lauren fez o seu début na música jazz, onde predomina a melancolia dos blues e à qual adiciona um pouco do estilo de bossa nova no álbum “Modern Woman”, um trabalho de há cerca de dois anos atrás.

As melodias saíram, na sua maior parte da sua própria pena, embora o concerto de sábado contasse com algumas incursões de temas novos e de compositores clássicos como “I’ve got you under my skin” de Cole Porter.

A sua música está classificada como pertencente à categoria de jazz acústico/blues à qual se junta uma pitada do aroma apimentado dos ritmos latinos, de onde emerge, por vezes, a sensualidade da rumba cubana, que se junta à influência do estilo de Janis Joplin e Billie Holiday, em canções como “Havana”, por exemplo.
Segundo a própria cantora, algumas das suas letras originais têm muito de autobiográfico. Na realidade, está patente nos seus poemas musicados uma certa ironia, algo amarga, no que diz respeito à igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

Quanto à voz, a versatilidade e qualidade superior em diferentes registos, bem como a riqueza tímbrica demonstrada, colocam-na ao nível de cantoras de destaque como Diana Krall ou Norah Jones.

A beleza das melodias foi amplamente realçada pelo acompanhamento dos outros membros da banda, particularmente pelos solos vindos do piano, que foram entusiasticamente aplaudidos.

Destaca-se a beleza melancólica de canções como “Funny Valentine” e sobretudo “My Man”, cujos acordes iniciais remetem para o romantismo de clássicos como Débussy ou Chopin.

Um concerto que, para os espectadores, fechou a semana com chave de ouro.



Cláudia de Sousa Dias

Etiquetas: