“A Bela Adormecida” de Tchaikovski: um espectáculo que deliciou o público de Famalicão no Grande Auditório da Casa das Artes
A Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão apresentou, este fim-de-semana, nos dias 5 e 6 de Outubro, o espectáculo de bailado, intitulado “A Bela Adormecida”, uma peça musical da autoria de Piotr I. Tchaikovski, trazida à cena pela escola Ginasiana de Vila Nova de Gaia.
O corps de ballet era composto, essencialmente, por alunos amadores – ainda a frequentar o conservatório – mas de entre o qual já se faz notar algumas interpretações de elevadíssimo nível, a denunciar um potencial de qualidade superior. Sobretudo Mirella, a Fada Cor-de-Rosa – na apresentação de Sábado – cuja leveza de pássaro lhe facilita o elevado nível de performance técnica, demonstrada nos saltos e piruetas. Já Kátia, a Fada Lilás, mostra uma excelente capacidade de interacção com o público, onde facilmente nos apercebemos, também, que a capacidade de expressão ultrapassa a técnica propriamente dita, a qual já se encontra no patamar de “Bom”. O porte e a altura da jovem bailarina reforçaram a beleza dos movimentos executados.
Destacou-se, ainda, e antes de tudo, o desempenho da bailarina que interpreta o papel da Princesa – Elena Martinova – que nos chega da Escola Russa de Leninegrado e que conta, já, com um vasto currículo nos círculos balléticos, tal como o irmão, que interpretou a figura do Príncipe.
Elena personificou a beleza grácil nos movimentos sincrónicos das mãos, no voltear da perna, na extrema segurança ao executar saltos e piruetas e na fluidez mostrada durante as ligações entre várias sequências de passos.
Já a exibição de Andrei Martinov revelou-se um pouco mais modesta, em virtude de se encontrar lesionado.
Durante uma curta entrevista, após o final do espectáculo, o coreógrafo e director artístico Marcelo de Souza afirmou que, ao idealizar o guarda-roupa para a peça, pretendeu que esta se situasse, de certa forma, “fora do tempo” ou atemporal. Onde as fadas surgem como aparições, indo ao encontro da concepção mais tradicional do figurino e da coreografia do ballet clássico, o mesmo acontecendo em relação ao par protagonista. Já o guarda-roupa das restantes personagens, permite ao espectador situar a história em qualquer época, seja ela medieval, renascentista, na belle époque ou contemporânea.
Marcelo enfatizou, ainda, a intenção de introduzir o contraste entre o elemento clássico e o moderno, ao confrontar a dicotomia dos arquétipos do Bem e do Mal, que são sublinhados por dois estilos opostos quer no que toca ao guarda-roupa, quer a dança propriamente dita. Isto é: ao artificialismo do ambiente da corte, espartilhado no protocolo regido pelo Mestre-de-Cerimónias, Marcelo opõe a entrada da ultra-rebelde Fada Má e do seu séquito.
Ela é, nitidamente e desde o primeiro momento, “ pessoa indesejada, cuja presença é fisicamente incómoda, segundo afirma Marcelo Souza.
É, sobretudo, sexualmente provocadora, exibindo uma sexualidade ambígua e um visual inspirado nas drag queen – cabelo rapado, botas com plataformas e um vestido vermelho e preto de onde emerge um corpo musculado, a sugerir uma bomba de sensualidade, prestes a explodir.
A Fada Má e os seus seguidores tentam, ainda, introduzir o erotismo na corte, ao aliciar os outros intervenientes.
A interpretação desta Fada Má, com algo de dominatrix, esteve a cargo de Isabel Ariel e foi, sem sombra de dúvida, a melhor interpretação de todo o espectáculo, nivelada apenas com a de Elena Martinova.
Isabel alia, ao perfeito domínio da técnica de dança, um excepcional talento como actriz. Um verdadeiro “animal de palco”. Ou a Callas da dança moderna.
Um belo espectáculo, onde a improvisação do corpo de baile infantil proporcionou um momento de especial deleite e descontracção na plateia.
Um belo projecto de desenvolvimento e formação de novos talentos.
A continuar.
Em nome da Arte.
Cláudia de Sousa Dias
O corps de ballet era composto, essencialmente, por alunos amadores – ainda a frequentar o conservatório – mas de entre o qual já se faz notar algumas interpretações de elevadíssimo nível, a denunciar um potencial de qualidade superior. Sobretudo Mirella, a Fada Cor-de-Rosa – na apresentação de Sábado – cuja leveza de pássaro lhe facilita o elevado nível de performance técnica, demonstrada nos saltos e piruetas. Já Kátia, a Fada Lilás, mostra uma excelente capacidade de interacção com o público, onde facilmente nos apercebemos, também, que a capacidade de expressão ultrapassa a técnica propriamente dita, a qual já se encontra no patamar de “Bom”. O porte e a altura da jovem bailarina reforçaram a beleza dos movimentos executados.
Destacou-se, ainda, e antes de tudo, o desempenho da bailarina que interpreta o papel da Princesa – Elena Martinova – que nos chega da Escola Russa de Leninegrado e que conta, já, com um vasto currículo nos círculos balléticos, tal como o irmão, que interpretou a figura do Príncipe.
Elena personificou a beleza grácil nos movimentos sincrónicos das mãos, no voltear da perna, na extrema segurança ao executar saltos e piruetas e na fluidez mostrada durante as ligações entre várias sequências de passos.
Já a exibição de Andrei Martinov revelou-se um pouco mais modesta, em virtude de se encontrar lesionado.
Durante uma curta entrevista, após o final do espectáculo, o coreógrafo e director artístico Marcelo de Souza afirmou que, ao idealizar o guarda-roupa para a peça, pretendeu que esta se situasse, de certa forma, “fora do tempo” ou atemporal. Onde as fadas surgem como aparições, indo ao encontro da concepção mais tradicional do figurino e da coreografia do ballet clássico, o mesmo acontecendo em relação ao par protagonista. Já o guarda-roupa das restantes personagens, permite ao espectador situar a história em qualquer época, seja ela medieval, renascentista, na belle époque ou contemporânea.
Marcelo enfatizou, ainda, a intenção de introduzir o contraste entre o elemento clássico e o moderno, ao confrontar a dicotomia dos arquétipos do Bem e do Mal, que são sublinhados por dois estilos opostos quer no que toca ao guarda-roupa, quer a dança propriamente dita. Isto é: ao artificialismo do ambiente da corte, espartilhado no protocolo regido pelo Mestre-de-Cerimónias, Marcelo opõe a entrada da ultra-rebelde Fada Má e do seu séquito.
Ela é, nitidamente e desde o primeiro momento, “ pessoa indesejada, cuja presença é fisicamente incómoda, segundo afirma Marcelo Souza.
É, sobretudo, sexualmente provocadora, exibindo uma sexualidade ambígua e um visual inspirado nas drag queen – cabelo rapado, botas com plataformas e um vestido vermelho e preto de onde emerge um corpo musculado, a sugerir uma bomba de sensualidade, prestes a explodir.
A Fada Má e os seus seguidores tentam, ainda, introduzir o erotismo na corte, ao aliciar os outros intervenientes.
A interpretação desta Fada Má, com algo de dominatrix, esteve a cargo de Isabel Ariel e foi, sem sombra de dúvida, a melhor interpretação de todo o espectáculo, nivelada apenas com a de Elena Martinova.
Isabel alia, ao perfeito domínio da técnica de dança, um excepcional talento como actriz. Um verdadeiro “animal de palco”. Ou a Callas da dança moderna.
Um belo espectáculo, onde a improvisação do corpo de baile infantil proporcionou um momento de especial deleite e descontracção na plateia.
Um belo projecto de desenvolvimento e formação de novos talentos.
A continuar.
Em nome da Arte.
Cláudia de Sousa Dias
Etiquetas: Evento: casa das artes