António Pinho Vargas formou-se em
História na
Universidade do Porto. Estudou posteriormente, no
Conservatório de Roterdão, entre
1987 e
1990, onde se formou em Composição. É professor de
Composição na
Escola Superior de Música, em Lisboa, desde 1991. E, também, um dos principais nomes do jazz em Portugal, fortemente influenciado pela música contemporânea. O primeiro dos seus álbuns intitula-se,
Outros Lugares (
1983), tendo produzido, também, bandas sonoras para filmes e peças de teatro.
Após regressar dos Países Baixos, tem sido sobretudo um compositor clássico. Escreveu três óperas, e ensembles orquestrais para várias peças. No início da década de oitenta, faz uma breve incursão pelo rock, ao colaborar com os Arte e Ofício e com a Banda Sonora de Rui Veloso, cujo trabalho o aproxima dos blues. Após este trabalho dedica-se ao jazz, que constituiu um ponto de inflexão na sua carreira, deixando uma marca bastante profunda na linguagem musical de Pinho Vargas: um jazz melódico de construção e inspiração tradicionais, recordando ora as paisagens atmosféricas popularizadas pela editora alemã ECM, ora o virtuosismo de Keith Jarrett (from: Wikipedia).
A partir de finais da década de 1980 e início da década seguinte, as suas gravações de jazz serão mais espaçadas, dividindo o seu tempo, cada vez mais, entre o jazz e a música contemporânea.
A partir de 1996, o compositor regressa a uma linguagem ainda mais depurada de jazz com A Luz e a Escuridão, álbum a três onde, ao piano de Pinho Vargas e ao saxofone de José Nogueira, é adicionada a voz de Maria João. Editou, posteriormente, As Mãos (1998) seguindo-se Versos (2001), Dias Levantados (2003), Grafitti (2008) e Solo (2008).
O concerto do passado dia 28 de Fevereiro abriu com o belíssimo Quedas d’Água com Lágrimas cujo espectacular glissando, no final, fez lembrar o tilintar de múltiplos cristais. Seguiu-se June, do álbum Vilas Morenas, dedicado a José Afonso, uma música de sabor romântico seguida, depois, pela fabulosa Dança dos Pássaros a embrar, um pouco, a música da Andaluzia e, por fim, Dinky Toys, para finalizar a primeira parte do concerto.
“Esta foi a música que compus antes de me dedicar à música contemporânea, que é aquela de que quase ninguém gosta; que descende daquilo a que chamam de “alta cultura” ou “high culture”…eu não partilho dessa opinião (…) são línguas diferentes, jazz e música contemporânea. Pode-se falar inglês ou chinês mas nunca anglo-chinês que é coisa que não existe…! (sic)”
Na segunda parte, APV tocou Fado Negro de onde saíram tonalidades sombrias e melancólicas, a unir o jazz ao tango e ao fado, seguido de temas como General Complex e o celebérrimo Tom Waits, um dos seu temas mais emblemáticos, após o que deliciou o público com a melodia Lindo Ramo, verde escuro, inspirada nos cantares do Alentejo, antecedida pelo respectivo fugatto inspirado em Bach, Shostakovich e Ballestrini, antes do tema final, La Corazón, a lembrar novamente a Andaluzia.
O entusiasmo do público trouxe um encore com uma belíssima composição intitulada Cantiga para Amigos, cuja melancolia, aliada a um ritmo marcado por pausas sincopadas e à tonalidade grave dos acordes, fazem com que não haja uma única nota que não se ame, nesta cantiga de amigo cheia de reminiscências medievais…
Mais um momento especial a juntar à já longa galeria de espectáculos de superior qualidade na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão.
Cláudia de Sousa Dias
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