2007-03-25

" Um perfume brilhantemente Surrealista"



Choosing 1864 George Frederick Watts (1817-1904)

CHOIX “Um perfume biihantemente surrealista”. Lançado pela marca DADADANDY, este perfume sem odor foi inspirado no quadro Choosing do pintor G.F. Watts. Este perfume foi apresentado na exposição Surrealism and The Shop 2007 no Palais Des Etoiles.



A escolha entre o mundano e virtuosidade.
Camélias.Violetas.Vanguarda.Sabedoria.
Devo confessar que tenho um grande fascínio por fragância, aromas, odores. Fazem-me sonhar, transportam-me para o tempo que eu desejo. Assinatura intemporal aquela que deixamos com o nosso perfume. Sublinho o que Coco Chanel disse " a mulher que não usa perfume não tem futuro". Sonho com lugares e pessoas. Sonho com cheiros. O futuro está presente na minha memória olfactiva.
Uma curiosidade: existe um projecto em curso para tornar possível(!!!) cheirar pefumes na internet em 2015(!!!).

2007-03-17

Uma noite com Yann Tiersen na Casa das Artes



Para muitos espectadores a enorme expectativa criada à volta do concerto de Yann Tiersen, que teve lugar no passado dia 6 de Março na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão prendia-se, sobretudo, com o trabalho que deu origem às bandas sonoras dos filmes O fabuloso destino de Amélie Poulain e Goodbye Lenin.

No entanto, as arranjos musicais elaborados pelo compositor que, no seu último trabalho, sintetiza dois géneros musicais completamente opostos – o clássico e o rock – possibilitaram o reconhecimento imediato das melodias de pendor mais clássico, presentes em trabalhos anteriores, que surgem agora “vestidas” de um dinamismo proporcionado pelos instrumentos eléctricos, cuja energia contagiou o público. Este viu-se literalmente transportado para o estado de euforia e delírio, que se traduziu num dos mais entusiásticos aplausos da História da Casa das Artes.

A guitarra eléctrica substituiu, por diversas vezes, ao longo do concerto, o violoncelo, enquanto que, noutros momentos, o virtuosismo do violino manipulado por Tiersen, quase imitava o som das gaivotas e das orcas, ao interpretar uma das melodias do seu trabalho Le Phare, onde predominam os sons da beira-mar – uma das prestações mais aplaudidas do espectáculo.

Uma das guitarras foi, muitas vezes, percutida como se se tratasse de um xilofone – golpe de audácia criativa que caracteriza o compositor - , instrumento utilizado com bastante frequência nos trabalhos de Tiersen, enquanto que a imitação do som do vento resultava de uma combinação do som do violino com a manipulação de uma serra de carpinteiro.

O concerto revestiu-se de um grande ecletismo rítmico, onde o espectador melómano pôde sentir-se passar, de uma momento para o outro, do paraíso ao Inferno, através da criação de um contraste chocante entre a agressividade da guitarra e dos instrumentos de percussão, com a doçura do xilofone.

Por outro lado, a calma e a envolvência da voz de Tiersen, que substituía o timbre aquático da voz de Shannon Wright, opunha-se ao ritmo dos instrumentos electrónicos impróprio para cardíacos.

Mais perto do final do espectáculo, nos temas instrumentais retirados do álbum Les Retrouvailles, a guitarra e o órgão criam como que uma música fantasmal a lembrar uma viagem nocturna na auto-estrada do silêncio.

Subitamente, os gemidos do violino rasgam a noite com os seus requebros, a fazerem lembrar os mais complexos capricci de Paganini. O canto do violino é, por sua vez, cortado pelo impressionante abalo sísmico da bateria, após o qual, a voz de Yann Tiersen, regressa como um narcótico.

Por fim, chega aos nossos ouvidos a doçura dos acordes de um acordéon, a trazer à memória as cenas interpretadas por Audey Tautou ao interpretar Amélie Poulain, numa melopeia repentinamente transmutada num ritmo galopante, onde o arco do violino de Tiersen se movimenta num frenesi dionisíaco, parando abruptamente.

A multidão aplaude, em êxtase absoluto.

O concerto termina. A multidão grita “bravos”. Ouvem-se assobios estridentes. O público permanece de pé a bater palmas durante mais de dez minutos seguidos, exigindo o regresso do músico.

Yann Tiersen volta ao palco para os encores.

O violino e o som do marulhar das ondas inundam o auditório. O compositor terá ainda de regressar mais duas vezes ao palco. O Público está simplesmente insaciável.

A seguir veio a sessão de autógrafos, após a qual o compositor ainda cedeu alguns minutos do seu tempo para uma mini-entrevista, antes de partir com a sua banda para Lisboa.

Em resposta ao pedido do Jornal Cidade Hoje para falar um pouco do seu último trabalho, Yann Tiersen afirma:

«A minha intenção foi a de construir versões completamente diferentes da minha anterior discografia, partindo das velhas canções. Foi como que um começar de novo, um renascimento, um abrir de novas portas.»

A formação de Yann Tiersen é clássica, tal como tivemos a oportunidade de observar pela mestria demonstrada nos seus solos ao violino ou, em trabalhos anteriores, ao piano.

«Eu estudei piano e violino desde os seis até aos doze anos de idade. Depois, já “farto”do estilo clássico, descobri o rockn’roll, nos anos da minha adolescência. Fundei uma banda. E agora, com este novo “live álbum” fecha-se o ciclo ao reunir os dois estilos em palco!».

Quando lhe perguntamos se para o próximo ano ou daqui a dois anos, poderemos contar com Yann Tiersen na Casa das Artes de Famalicão, acompanhado por uma orquestra ele responde simplesmente:

«Talvez as duas coisas: a orquestra e a guitarra eléctrica…»

E foi assim a noite de 6 de Fevereiro de 2007 em que Yann Tiersen levou ao rubro a cidade de Famalicão.

Um compositor contemporâneo, cujo talento o colocará, sem sombra de dúvida, na galeria dos Imortais.

Ficámos à espera, num eterno encore.

Cláudia de Sousa Dias

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