Duas entrevistas e dois livros de Mia Couto, num hiato de seis meses
Mia Couto é considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos que escrevem em português da actualidade. Nascido na Beira, Moçambique, em 1955, Mia Couto foi director da
Conversa com Mia Couto 4ª feira, dia 13 de Fevereiro à hora de jantar – Póvoa de Varzim, durante o Encontro Internacional de Escritores de Expressão Ibérica Correntes d’Escritas
CE – É a primeira vez que participa no Correntes d’Escritas?
MC – Já é, talvez, a terceira ou quarta vez que estou na Póvoa…Não. Já cá estive umas quatro ou cinco vezes e duas delas foram no Correntes d’Escritas…
CE – Desta vez, para apresentar O outro Pé da Sereia, obra com a qual também concorreu ao prémio…
MC – Sim e é a primeira vez que faço uma incursão no domínio do romance histórico…
CE – Como se desenvolve a trama?
MC – Há duas histórias cruzadas, uma no presente e outra no tempo passado – os capítulos respeitantes ao tempo passado estão escritos num papel amarelecido…
CE – E qual é o fio condutor que as une?
MC - O que as liga é uma estátua de Nossa senhora, legada por um missionário no século XVI – D. Gonçalo da Silveira – com o objectivo de converter o imperador local (em África). O imperador tenta, primeiro, agradar o missionário oferecendo-lhe ouro – o que ele recusa afirmando não aceitar bens terrenos. Então, o imperador decide enviar-lhe algumas belas jovens. Uma oferta que é, mais uma vez, recusada pelo missionário com a justificação de que já tem “a quem devotar o coração”, indicando, simultaneamente, a estátua de Nossa Senhora. O imperador apaixona-se pela estátua, que julga tratar-se de uma mulher terrena…No fim, ocorre uma tragédia e o missionário é assassinado e enterrado num local escondido, junto à estátua.
Depois, há uma maldição associada ao lugar do assassínio e àquela imagem de Nossa Senhora…
Eu peguei nesta lenda e decidi convertê-la num romance, fazendo com que um casal de camponeses reencontrasse a referida estátua, já no tempo presente, e a depositasse numa igreja…
Depois a ligação entre as duas histórias vai-se construindo, ao longo do romance. Faz-se no tempo. Há, depois, uma espécie de maldição que une as duas histórias. A maldição prolonga a história do missionário no tempo – prologa-se para o tempo presente – e faz com que a mulher que transporta esta relíquia transporte, também a mesma maldição personificada nos espíritos que povoam o lugar.
CE – A pedra toque é o realismo mágico…
MC – É o que eu faço, desde o primeiro livro que escrevi. Não poderia fazer outra coisa. Quando se fala de África, a realidade está sempre misturada com o fantástico. Não se trata de algo mágico ou religioso, mas de algo relativamente diferente: há toda uma cosmogonia, um modo de entender como os vários mundos que compõem um universo coexistem em harmonia.
CE – A capacidade de acreditar no maravilhoso como contraposição ao cepticismo ocidental?
MC – Sim, eu sou cientista, sou biólogo, e aprendi que, em África, uma árvore não é apenas um vegetal. Pode ser transformada num animal ou numa pessoa. Há uma percepção de que as entidades físicas podem viajar entre si…
CE – É um sistema religioso diferente…
MC – Sim, mas não existe um tempo para definir um sistema religioso. O deus ocidental construiu o mundo e depois isolou-se, demitiu-se, desiludiu-se com a humanidade. Em África, o homem tem uma relação muito próxima com os pequenos deuses: os antepassados. Com o deus distante a relação tem de ser mediada pelo feiticeiro. O homem mais velho do seu clã será sempre sacerdote, no seu tempo. É uma religião que não está institucionalizada. O sacerdote é chefe político, administra a terra, está integrado em todas as esferas sociais…
CE – Não há, portanto, uma divisão estanque entre os papéis sociais…
MC – Não.
CE – Sobre o livro O Gato e o Escuro, um livro que causa um impacto considerável nas crianças como surgiu esta escrita infanto-juvenil, em Mia Couto?
MC – Como pensava que nunca escreveria nada para crianças mandei o conto para uma revista que nunca o publicou. Um dia, a Caminho pregou-me uma partida: mostrou-me as ilustrações da Danuta e depois o aspecto profissional do texto juntamente com as ilustrações…
CE – Porque pensou nunca escrever para crianças?
MC – Não gosto da classificação de Literatura Infantil. Nós, escritores, escrevemos sempre este género de livros para a criança que há em nós…Este, por exemplo, é um livro que fala do medo. E o medo é um sentimento tão antigo como a necessidade de sobrevivência da espécie…
Aqui há tempos, dei um autógrafo a um menino que tinha lido esse livro. Conversámos um pouco, mas só quando lhe perguntei se ele tinha medo do escuro é que ele respondeu, é que ele falou realmente comigo: “Sim. E Tu?” e eu respondi “Também.” Então aconteceu algo de extraordinário: Ele sentiu-se na obrigação de me consolar e com isso citou-me uma frase do livro como se fosse dele! Para mim foi o melhor prémio literário que tive até hoje!
Mas isso fez-me pensar o quanto infantilizamos as crianças, achando que elas não são capazes de entender metáforas e coisas complexas.
Escrevi, também, um outro livro para crianças, publicado no Brasil, que falava sobre a morte e todas as crianças que o leram foram unânimes em mostrar que compreenderam a mensagem, sem necessidade uma protecção especial…
CE – E a próxima publicação?
MC – Vai sair em meados deste ano…e mais não posso dizer (sorriso) … ainda estou a escrever e não sei como vai terminar…
O cansaço está estampado nos olhos sonhadores de Mia Couto…É tempo de retemperar energias…O jantar está na mesa.
CE – É a primeira vez que participa no Correntes d’Escritas?
MC – Já é, talvez, a terceira ou quarta vez que estou na Póvoa…Não. Já cá estive umas quatro ou cinco vezes e duas delas foram no Correntes d’Escritas…
CE – Desta vez, para apresentar O outro Pé da Sereia, obra com a qual também concorreu ao prémio…
MC – Sim e é a primeira vez que faço uma incursão no domínio do romance histórico…
CE – Como se desenvolve a trama?
MC – Há duas histórias cruzadas, uma no presente e outra no tempo passado – os capítulos respeitantes ao tempo passado estão escritos num papel amarelecido…
CE – E qual é o fio condutor que as une?
MC - O que as liga é uma estátua de Nossa senhora, legada por um missionário no século XVI – D. Gonçalo da Silveira – com o objectivo de converter o imperador local (em África). O imperador tenta, primeiro, agradar o missionário oferecendo-lhe ouro – o que ele recusa afirmando não aceitar bens terrenos. Então, o imperador decide enviar-lhe algumas belas jovens. Uma oferta que é, mais uma vez, recusada pelo missionário com a justificação de que já tem “a quem devotar o coração”, indicando, simultaneamente, a estátua de Nossa Senhora. O imperador apaixona-se pela estátua, que julga tratar-se de uma mulher terrena…No fim, ocorre uma tragédia e o missionário é assassinado e enterrado num local escondido, junto à estátua.
Depois, há uma maldição associada ao lugar do assassínio e àquela imagem de Nossa Senhora…
Eu peguei nesta lenda e decidi convertê-la num romance, fazendo com que um casal de camponeses reencontrasse a referida estátua, já no tempo presente, e a depositasse numa igreja…
Depois a ligação entre as duas histórias vai-se construindo, ao longo do romance. Faz-se no tempo. Há, depois, uma espécie de maldição que une as duas histórias. A maldição prolonga a história do missionário no tempo – prologa-se para o tempo presente – e faz com que a mulher que transporta esta relíquia transporte, também a mesma maldição personificada nos espíritos que povoam o lugar.
CE – A pedra toque é o realismo mágico…
MC – É o que eu faço, desde o primeiro livro que escrevi. Não poderia fazer outra coisa. Quando se fala de África, a realidade está sempre misturada com o fantástico. Não se trata de algo mágico ou religioso, mas de algo relativamente diferente: há toda uma cosmogonia, um modo de entender como os vários mundos que compõem um universo coexistem em harmonia.
CE – A capacidade de acreditar no maravilhoso como contraposição ao cepticismo ocidental?
MC – Sim, eu sou cientista, sou biólogo, e aprendi que, em África, uma árvore não é apenas um vegetal. Pode ser transformada num animal ou numa pessoa. Há uma percepção de que as entidades físicas podem viajar entre si…
CE – É um sistema religioso diferente…
MC – Sim, mas não existe um tempo para definir um sistema religioso. O deus ocidental construiu o mundo e depois isolou-se, demitiu-se, desiludiu-se com a humanidade. Em África, o homem tem uma relação muito próxima com os pequenos deuses: os antepassados. Com o deus distante a relação tem de ser mediada pelo feiticeiro. O homem mais velho do seu clã será sempre sacerdote, no seu tempo. É uma religião que não está institucionalizada. O sacerdote é chefe político, administra a terra, está integrado em todas as esferas sociais…
CE – Não há, portanto, uma divisão estanque entre os papéis sociais…
MC – Não.
CE – Sobre o livro O Gato e o Escuro, um livro que causa um impacto considerável nas crianças como surgiu esta escrita infanto-juvenil, em Mia Couto?
MC – Como pensava que nunca escreveria nada para crianças mandei o conto para uma revista que nunca o publicou. Um dia, a Caminho pregou-me uma partida: mostrou-me as ilustrações da Danuta e depois o aspecto profissional do texto juntamente com as ilustrações…
CE – Porque pensou nunca escrever para crianças?
MC – Não gosto da classificação de Literatura Infantil. Nós, escritores, escrevemos sempre este género de livros para a criança que há em nós…Este, por exemplo, é um livro que fala do medo. E o medo é um sentimento tão antigo como a necessidade de sobrevivência da espécie…
Aqui há tempos, dei um autógrafo a um menino que tinha lido esse livro. Conversámos um pouco, mas só quando lhe perguntei se ele tinha medo do escuro é que ele respondeu, é que ele falou realmente comigo: “Sim. E Tu?” e eu respondi “Também.” Então aconteceu algo de extraordinário: Ele sentiu-se na obrigação de me consolar e com isso citou-me uma frase do livro como se fosse dele! Para mim foi o melhor prémio literário que tive até hoje!
Mas isso fez-me pensar o quanto infantilizamos as crianças, achando que elas não são capazes de entender metáforas e coisas complexas.
Escrevi, também, um outro livro para crianças, publicado no Brasil, que falava sobre a morte e todas as crianças que o leram foram unânimes em mostrar que compreenderam a mensagem, sem necessidade uma protecção especial…
CE – E a próxima publicação?
MC – Vai sair em meados deste ano…e mais não posso dizer (sorriso) … ainda estou a escrever e não sei como vai terminar…
O cansaço está estampado nos olhos sonhadores de Mia Couto…É tempo de retemperar energias…O jantar está na mesa.
Póvoa de Varzim, Fevereiro 2008
Mia Couto lança no dia 12 de Junho “Venenos de Deus, Remédios do Diabo” na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Famalicão
No passado dia 12 de Junho, Mia Couto marcou presença em Vila Nova de Famalicão para lançamento do seu último livro, cuja apresentação esteve a cargo do Professor Henrique Pereira, o qual ao referir-se ao escritor Moçambicano afirmou que:
«Uma das coisas que mais admiro em Mia Couto é a liberdade. Mia Couto é um escritor livre. Tudo quanto faz, fá-lo de uma forma não pensada…aconteceu-lhe ser escritor. Não se nasce escritor, mas está-se disponível para essa embriaguez, quase sensual, de criar estórias. Mia Couto deslumbra o leitor com a arte de recriar a linguagem com aparentes, distraídas, “brincriações”…Mia Couto, escolheu, ainda, a poesia como “escola de Desobediência”. E, neste livro, há pelo menos três poetas».
Uma vez que Moçambique é hoje um país multilingue com, nada mais nada menos do que dezoito línguas oficiais, para Mia Couto «…as palavras traduzem, em cada língua, a cultura que lhes está subjacente, com os seus neologismos ou “aportuguesamento de palavras”, assim como o uso de provérbios, máximas ou aforismos para exprimir o sincretismo da cultura africana na qual «…a relação com o sagrado tem de ser mediada pelo feiticeiro».
Mia Couto salienta que, «este romance é uma rede de mentiras» ou melhor, que é feito das “verdades que diz mentindo”.
Para Mia Couto, a respeito da realidade no contexto da cultura africana, «as coisas podem ser, não ser, ou…quase ser. Como naquela estória da cobra que cantava o hino nacional», uma vez que, nas estórias contadas e recontadas oralmente, a realidade é sempre transformada, de forma progressiva, com a passagem de boca em boca…
Depois há as dificuldades, onde uma palavra pode ter uma multiplicidade de significados…
Em conversa com o público, face às temáticas recorrentes na obra de Mia, sobre se em Venenos de Deus, Remedios do Diabo há uma continuidade relativamente a O outro Pé da Sereia, o autor sublinha ter havido um corte entre uma obra e outra, embora se verifiquem sempre temáticas recorrentes como o Tempo e a Identidade. No entanto, esta estória, «é completamente distinta das anteriores».
A sessão prosseguiu com um mini-debate entre o escritor e a plateia, composta por jovens adolescentes vindos das principais escolas do concelho e, também, por bibliómanos e analistas, que não quiseram perder a oportunidade de trocar impressões sobre os livros do Autor:
Plateia – Gostaria de lhe lançar duas perguntas à laia de provocação:
Mia Couto “inventa desenhos com as palavras”. Pergunto se o faz para contribuir para a evolução da língua. E se trabalha para o Prémio Nobel.
MC – Em relação á primeira pergunta a resposta é não. Faço-o porque me dá prazer. Em Moçambique a língua é como que um caldeirão a ser cozinhado, fruto de uma fusão de culturas. É uma coisa muito plástica e que, além de plástica, é muito bonita.
Quanto à segunda pergunta é, de facto, uma provocação…Obviamente que NÃO. Em relação a todos os prémios faço o mesmo que em relação ao acordo ortográfico. Faço de conta que não existe.
Plateia – O que o levou a escrever este livro?
MC – A necessidade de me desfazer de alguns fantasmas. E transformar isso em história.
Plateia – O protagonista tem algo a ver com Mia Couto?
MC – Não. Tem muito pouco de mim.
Plateia – Porque não “Remédios de Deus, Venenos do Diabo”? Será que no final os dois termos se invertem?
MC – Esta pergunta é complicada (risos)…talvez porque a questão mais importante…Há lugares em que a lógica do mundo se inverteu. Essa vida ficou tão distante, que Deus (ou os deuses) deixou de ouvir os homens. Então, o Diabo é o parceiro a que se torna possível recorrer. Os dois termos estão sempre cruzados porque, muitas vezes, requerem-se de Deus coisas que não são possíveis…
Plateia – Qual é o tema mais importante do livro?
MC – A importância de “rir junto”. É uma ponte extraordinária entre as pessoas. Quando falamos com uma pessoa que não é da nossa cultura, ou língua, e nos rimos da mesma coisa, há um elo que se cria…
E foi assim o diálogo com Mia Couto que transpira aquela humildade a ultrapassar o senso comum e a contagiar públicos de todas as idades num Auditório com a lotação esgotada.
No passado dia 12 de Junho, Mia Couto marcou presença em Vila Nova de Famalicão para lançamento do seu último livro, cuja apresentação esteve a cargo do Professor Henrique Pereira, o qual ao referir-se ao escritor Moçambicano afirmou que:
«Uma das coisas que mais admiro em Mia Couto é a liberdade. Mia Couto é um escritor livre. Tudo quanto faz, fá-lo de uma forma não pensada…aconteceu-lhe ser escritor. Não se nasce escritor, mas está-se disponível para essa embriaguez, quase sensual, de criar estórias. Mia Couto deslumbra o leitor com a arte de recriar a linguagem com aparentes, distraídas, “brincriações”…Mia Couto, escolheu, ainda, a poesia como “escola de Desobediência”. E, neste livro, há pelo menos três poetas».
Uma vez que Moçambique é hoje um país multilingue com, nada mais nada menos do que dezoito línguas oficiais, para Mia Couto «…as palavras traduzem, em cada língua, a cultura que lhes está subjacente, com os seus neologismos ou “aportuguesamento de palavras”, assim como o uso de provérbios, máximas ou aforismos para exprimir o sincretismo da cultura africana na qual «…a relação com o sagrado tem de ser mediada pelo feiticeiro».
Mia Couto salienta que, «este romance é uma rede de mentiras» ou melhor, que é feito das “verdades que diz mentindo”.
Para Mia Couto, a respeito da realidade no contexto da cultura africana, «as coisas podem ser, não ser, ou…quase ser. Como naquela estória da cobra que cantava o hino nacional», uma vez que, nas estórias contadas e recontadas oralmente, a realidade é sempre transformada, de forma progressiva, com a passagem de boca em boca…
Depois há as dificuldades, onde uma palavra pode ter uma multiplicidade de significados…
Em conversa com o público, face às temáticas recorrentes na obra de Mia, sobre se em Venenos de Deus, Remedios do Diabo há uma continuidade relativamente a O outro Pé da Sereia, o autor sublinha ter havido um corte entre uma obra e outra, embora se verifiquem sempre temáticas recorrentes como o Tempo e a Identidade. No entanto, esta estória, «é completamente distinta das anteriores».
A sessão prosseguiu com um mini-debate entre o escritor e a plateia, composta por jovens adolescentes vindos das principais escolas do concelho e, também, por bibliómanos e analistas, que não quiseram perder a oportunidade de trocar impressões sobre os livros do Autor:
Plateia – Gostaria de lhe lançar duas perguntas à laia de provocação:
Mia Couto “inventa desenhos com as palavras”. Pergunto se o faz para contribuir para a evolução da língua. E se trabalha para o Prémio Nobel.
MC – Em relação á primeira pergunta a resposta é não. Faço-o porque me dá prazer. Em Moçambique a língua é como que um caldeirão a ser cozinhado, fruto de uma fusão de culturas. É uma coisa muito plástica e que, além de plástica, é muito bonita.
Quanto à segunda pergunta é, de facto, uma provocação…Obviamente que NÃO. Em relação a todos os prémios faço o mesmo que em relação ao acordo ortográfico. Faço de conta que não existe.
Plateia – O que o levou a escrever este livro?
MC – A necessidade de me desfazer de alguns fantasmas. E transformar isso em história.
Plateia – O protagonista tem algo a ver com Mia Couto?
MC – Não. Tem muito pouco de mim.
Plateia – Porque não “Remédios de Deus, Venenos do Diabo”? Será que no final os dois termos se invertem?
MC – Esta pergunta é complicada (risos)…talvez porque a questão mais importante…Há lugares em que a lógica do mundo se inverteu. Essa vida ficou tão distante, que Deus (ou os deuses) deixou de ouvir os homens. Então, o Diabo é o parceiro a que se torna possível recorrer. Os dois termos estão sempre cruzados porque, muitas vezes, requerem-se de Deus coisas que não são possíveis…
Plateia – Qual é o tema mais importante do livro?
MC – A importância de “rir junto”. É uma ponte extraordinária entre as pessoas. Quando falamos com uma pessoa que não é da nossa cultura, ou língua, e nos rimos da mesma coisa, há um elo que se cria…
E foi assim o diálogo com Mia Couto que transpira aquela humildade a ultrapassar o senso comum e a contagiar públicos de todas as idades num Auditório com a lotação esgotada.
Vila Nova de Famalicão, Junho de 2008
Cláudia de Sousa Dias
Etiquetas: correntes d'escritas