2010-10-11

"O Desprezo" (Le Mépris) de Jean-Luc Goddard












Elenco





Brigitte Bardot .... Camille Javal
Michel Piccoli .... Paul Javal
Jack Palance .... Jeremy Prokosch
Giorgia Moll .... Francesca Vanini
Fritz Lang .... ele mesmo


Esta 6ª feira terão a oportunidade de (re)ver o filme seguido do debate sobre o livro de Alberto Moravia que serviu de base para o argumento do filme, ba Biblioteca Municipal de Vila Nova de Famalicão às 21 e 30.

A crítica mostrou-se entusiasta pela forma como o realizador conseguiu adaptar uma obra de carácter reflexivo como a de Alberto Moravia.




Renan Fogaça (crítico cinematográfico) publicou em Setembro de 2009 o texto que se segue, relativo ao filme no blogue sobre cinema intitulado "O Esporte favorito dos homens".









A trágica emoção, visceral, que vaza da película. A pureza da imagem, bela, meticulosa, pensada, mas tragicamente espontânea. A câmera que segue a emoção, que captura os elementos e absorve a estética plena do mundo. Um voto pela intensidade, pelo lírico, pelo cinema.
A introdução na qual a atriz caminha suavemente pela rua, acompanhada pela câmera que desliza pela grua, grosseira e artificial, introduzem a experiência do que é viver o cinema de dentro para fora. O convite ao espectador em dividir mentalmente o plano, e na sutileza imergir no que a câmera traz. Ser absorvido pela câmera, que focaliza de maneira dura e fria o espectador. O mundo irreal, onírico, mas pleno. O mundo no qual as emoções são sentidas, na qual o homem não tem medo do sentir e o cinema é apenas cinema, e não um objeto de estudo no balcão de laboratório sobre a mira de um frígido microscópio.





E a mulher. Mas não uma mulher regular, e sim uma deidade. Traz a perfeição estética desejada pelo homem, mas sem a lascívia, com um distanciamento contemplativo. A câmera apenas acompanha o corpo, belo e pleno, enquanto o homem se oferece. O quarto como reduto do belo, o homem como felizarda testemunha e a câmera como olhar do fraco presenciando uma epifania. Brigitte Bardot como mulher-desejo, perfeição divina. Perfeição incompreensível, imensurável, incapaz de um simples homem possuí-la como um todo. O homem como olhar, a mulher como emoção. A quebra na fluidez da imagem, adquirindo um tom azulado ou avermelhado, afastando a veracidade daquele momento. Eles estão, mas não estarão mais.





O casal em ruptura. O deslocar-se pelo apartamento enquanto discutem o amor que se esvai. O homem, dissimulado, fingindo que se importa. A mulher, intensa, voraz. O indescritível plano de um relance do antigo fervor no qual a mulher desliza a perna por entre as pernas do homem. A cumplicidade e o desejo que não existem mais.





A realização do cinema dentro do próprio cinema, baseado no que é considerado por muitos a obra que demarcou as possibilidades da literatura: Odisséia, de Homero. Fritz Lang como realizador fictício, como ele mesmo, como ponte com o próprio Godard. E Jack Palance como o produtor egocêntrico, desenfreado, maior que o próprio cinema. Michel Piccoli como o roteirista focado na sua própria arte, arte a qual está distante dos sentimentos, é fria e metódica, e na qual nunca acontece. E que entrega a própria mulher, no mais frio individualismo, no desapego de quem não sente as próprias emoções.





As locações na Ilha de Capri, Itália. Um olimpo terrestre. As pessoas, que se deslocam pela estranha arquitetura e o amor que acaba na fria entrega da mulher ao produtor. O homem que se desinteressa, trava, é vazio. E a realização do cinema. Os planos representando a encenação de Odisséia. A cabeça das estátuas perante o céu azul. Lirismo absoluto.
E o desfecho trágico, incompleto, porém pleno no cinema. O filme que talvez nunca seja finalizado, o roteirista que nunca acabará seu projeto, a mulher que nunca será desse mundo, a emoção que nunca será tão intensa. Tudo isso sendo levado pela monumental trilha sonora de Georges Delerue. Godard filma com uma intensidade voraz e é dessa força, pouco metódica e muito sensorial que surge esse filme magnífico.




ENTRADA LIVRE...!

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2 Comments:

Blogger M. said...

Não vi o filme, mas li (e tenho) o livro há uns anos, do qual gostei muito ;)
Bjsss,
Madalena

13/10/10 10:37 da manhã  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

o filme é de uma beleza ofuscante.

para fazer uma ideia, foi rodado em Roma e Capri,além de possuir um elenco de luxo...


csd

15/10/10 9:19 da manhã  

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