2010-08-04

O meu Éden


A laranjeira da minha avó dava sombra.

Mas não comíamos as laranjas por serem demasiado ácidas. Deitávamo-nos debaixo dos ramos de folhas verdes-escuras, pesados porque grávidos de frutos, em cima de uma cama de fetos, que fomos buscar ao monte. Sentíamos o aroma das uvas americanas que pendiam da latada, por cima de nós, enquanto as vespas zumbiam à volta. As abelhas preferiam a fúcsia dos brincos de princesa, por debaixo da laranjeira, ou a beleza nívea das sempre noivas.

As dálias, imensas e pesadas, de cores sensuais como as dançarinas espanholas, ficavam junto ao muro, próximas da ameixoeira e daquele pessegueiro que eu gostava de trepar em busca daqueles frutos de polpa farinhenta, mais doce que o mel, e que abríamos ao meio para tirar o caroço deparando-me, quase sempre, com um bicharoco mais guloso do que eu...


Deitada na cama de fetos, fechava os olhos e sonhava...ou lia. Era feliz.

Hoje no lugar da cama de fetos há cimento. A latada das uvas americanas foi cortada rente, tal como a moita de amoras pretas que ficava junto ao poço.

A avó partiu, as dálias desapareceram e as árvores já não dão fruto.


CSD

3 de Agosto de 2010

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2 Comments:

Blogger Gustavo Carneiro said...

Um conto bastante agridoce...

4/8/10 12:35 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

perfumes de infância


csd

4/8/10 4:49 da tarde  

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