Concerto de David Fonseca na Casa das Artes
Bacharel em Cinema, vertente de Imagem, pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, David Fonseca foi aluno da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1992/94). Foi fotógrafo, colaborando com diversos catálogos de moda e participou em exposições colectivas e individuais. Nos discos que edita tem sido também o responsável pela imagem gráfica. Para além de vocalista, é autor de letras musicais e toca vários instrumentos musicais.
Em 2003, estreou-se a solo com o álbum Sing Me Something New.
Em 2005, David Fonseca lançou o álbum Our Hearts Will Beat as One com o lançamento do single em 300 rádios nacionais.
Regressa em Outubro de 2007 com o álbum Dreams In Colour.
(Fonte: Wikipédia)
Dreams in Colour inclui onze temas compostos por David Fonseca e a sua própria versão de Rocket Man – uma canção de Elton John que se enquadra na temática de Dreams in Colour, a qual se debruça sobre a solidão e, de certa forma, na anomia, presente nos ambientes urbanos. Como contraponto, surgem canções a falar da tranquilidade e da paz em ambientes bucólicos.
Ao ser questionado sobre o porquê da temática na qual incidiu o concerto, David Fonseca admite oscilar entre o ambiente campestre e o das grandes metrópoles, comentando ser “…uma pessoa citadina, mas a tempos, porque a cidade deprime-me um bocadinho. Vivo um bocado entre esses dois mundos”.
E explica:
“A cidade traz a ideia falsa de que a vida é muito preenchida; na “aldeia”, é o oposto, o que move a nossa vida é a nossa acção (…) tem a ver com o facto de olharmos à nossa volta do ponto de vista do consumo (...) talvez porque, na aldeia se foque mais o olhar nas pessoas…ou talvez porque se ouça mais as pessoas.”
A sobriedade de David Fonseca, em palco, sem o mais leve vislumbre de vedetismo, juntamente com o carinho que coloca nas palavras dirigidas ao público famalicense (na sua maioria, muito jovem), foram o factor decisivo para que o concerto de sexta-feira, dia 23 de Novembro, realizado na Casa das Artes, despertasse a reacção entusiástica da plateia.
Para não falar dos impecáveis arranjos musicais e da performance da banda que acompanhava o cantor. O grande écran, como pano de fundo, permitia a visualização dos cenários, outra mais-valia a adicionar e a potenciar o efeito final.
O refinado sentido de humor de David Fonseca, que demonstra numa excelente capacidade para se rir de si próprio, ajudou a “quebrar o gelo” e a esbater a fronteira entre o público e o palco.
O contraste rítmico entre os vários temas apresentados contribuiu para o dinamismo, patente ao longo de todo o concerto, o qual contou com canções como Someone that can not love ou Secret Voyd, sendo a voz de David modificada com a ajuda de um sintetizador, neste último tema.
A qualidade vocal de D.F. é inquestionável: o cantor consegue atingir notas altíssimas – sem entrar em voz de falsete –, as quais alterna com os sons baixos que costuma introduzir nos ritmos mais lentos.
O público famalicense mostrou uma incrível capacidade para reproduzir o ritmo musical de algumas canções, chegando mesmo a requerer a performance de Kiss Me, oh Kiss Me marcando o compasso com o bater de palmas, deixando o cantor verdadeiramente deliciado.
Seguiram-se alguns momentos de humor, com a reprodução e paródia a alguns temas kitsch dos anos oitenta como Touch Me de Samantha Fox ou Boys de Sabrina (O cantor recusou-se, no entanto a reproduzir, Mónica Sintra!). O objectivo foi exclusivamente o de fazer a distinção entre a música pimba anglo-saxónica – caracterizada pela ênfase na repetição, quer textual que das notas musicais – e a música mais elaborada. No entanto, sublinha que gostaria de ter composto The Eye of the Tiger…
Já a versão de Da, da, da dos Trio foi reproduzida na íntegra, deixando-nos impressionados com a velocidade com que pronuncia Ich liebe dich, du liebst mich nicht, mais uma das suas muitas habilidades vocais.
Os encores foram incisivos. A presença de David Fonseca seria indubitavelmente apreciada pelo triplo do tempo em que esteve no palco da Casa das Artes.
O concerto terminou com Temptation, um tema inédito, o qual afirma ser “um disco diferente dos outros: o lado bucólico não está tão omnipresente”.
De facto, o ritmo electrizante de Temptation é puramente urbano, frenético. Uma verdadeira tempestade de sons.
David Fonseca despediu-se do público com uma verdadeira jóia musical que começa com o som de um despertador, prosseguindo com o tique-taque de vários relógios a fazer lembrar o início do filme Delicatessen. O compasso dos relógios, que marca o ritmo de “uma viagem ao tempo em palco” transforma-se, gradualmente, num ritmo galopante, atingindo um paroxismo quase demoníaco, abruptamente interrompido, regressando logo a seguir, ao ritmo compassado do despertador, como um coração que tenta normalizar a alternância sistólica e diastólica, após a realizar um esforço sobrenatural.
O acorde final, após a última batida do relógio cardíaco, é dado por uma caixa de música.
A suprema e derradeira tentação.
Cláudia de Sousa Dias
Etiquetas: Evento: casa das artes
4 Comments:
david fonseca
delicatessen
caixa de música
que bela salada de sons e formas!! :)
beijO.cláudia! ~
Que delícia de comentário!
Mas acho que irias adorar conhecer o David Fonseca!
Achei super-simpático.
Sem o mínimo de pretensiosismo como algumas pseudo-estrelas...
Csd
sem dúvida cláudia!
tem todo o ar de não se
impressionar com estrelatos.
e digo-te que ía adorar conhecê-lo!
sorte a tua!!! :)))
beijO
:-)
Beijo
CSD
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