2007-07-06

Conversa e sessão de Autógrafos com Bruna Lombardi











Afastada há já mais de uma década das telenovelas e a viver nos EUA, Bruna Lombardi é uma mulher activa e multifacetada. A escrita, o cinema e a apresentação de um programa televisivo são actividades que a realizam profissionalmente. A cultura é, para ela, uma paixão à qual se dedica com a motivação de um cruzado impregnado dos ideais de progresso e desenvolvimento intelectual como motores de mudança.

Bruna Lombardi esteve em Vila Nova de Famalicão no dia 30 de Junho, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, para a apresentação do seu romance Filmes Proibidos, uma reedição com a chancela da Magnólia, a irmã mais jovem das Quasi Edições. Extremamente empática, Bruna Lombardi é uma mulher envolvente que utiliza as suas mais do que desenvolvidas competências na arte de comunicar ao interagir com o público.

Discreta e muito distante da imagem de mulher fatal que quase sempre a acompanhou nas telenovelas, BL é uma mulher culta e extremamente inteligente. Algo que sobressai na escrita e no imaginário que projecta no romance Filmes Proibidos (vide http://www.hasempreumlivro.blogspot.com/ arquivo de Fevereiro de 2005) – um livro que fala da tentação do abismo, da possibilidade de fazer a escolha errada. Uma dentada na maçã para sair da perfeição edénica e depois empreender o caminho de volta.

A respeito do livro Bruna comenta, em conversa com um público que evidenciou uma forte curiosidade relativamente ao desenvolvimento da sua faceta como escritora:
“É o meu primeiro romance. Já tinha escrito poesia, um livro infantil (…)”.

E, também, um diário aquando da sua participação na novela Grande Sertão – Veredas, um papel muito duro, no qual interpreta uma mulher que esconde a sua feminilidade, assumindo uma identidade masculina. Provavelmente o melhor papel da sua carreira televisiva onde contracena com Tony Ramos, numa adaptação do romance homónimo de Guimarães Rosa para o pequeno écran. O isolamento, a desolação do lugar durante as filmagens, levaram a actriz a uma atitude introspectiva e a procurar na escrita uma compensação para a solidão esmagadora, causada pela desolação da paisagem sertaneja.

Filmes Proibidos foi um trabalho posterior a este diário, transformado, depois, em livro.

“Filmes Proibidos é a história de uma mulher que se apaixona perdidamente, que se entrega sem rede de segurança…é uma paixão impossível de resistir. É como ser-se tomada por uma faísca de loucura. Depois, a personagem passa por uma acção de modificação, transformadora. Porque nunca somos a mesma pessoa depois de uma paixão.”

Quando lhe pedimos para falar um pouco mais acerca da personagem central do romance, para desvendar um pouco a personalidade da mulher que ousa pisar a linha vermelha que indica o limiar do perigo, a escritora responde:

“É uma mulher urbana, do nosso século, que tenta fazer com que a vida dê certo, mas as circunstâncias são sempre adversas. Ela entra numa espiral, onde acaba por perder o controle de si mesma e dos outros. É um processo de desconstrução. Mas é impossível crescer sem antes passar por uma floresta escura. Acha-se sempre a luz depois do furacão. E ela está no olho do furacão.”

Bruna Lombardi mostrou-se impressionada com o aspecto da cidade, apreciando especialmente os espaços verdes e…a comida! - “ Devia ser proibida…!” – achando-a irresistível, sobretudo os doces.

Bruna Lombardi salientou, ainda, o impacto dos diferentes meios de comunicação enfatizando que:

“A televisão é mais rápida (na transmissão da mensagem), mas o livro é que permanece. O livro abre as portas da alma. Transporta-nos, exercita a imaginação. O que você lerá, vai-te acompanhar a vida inteira. A Biblioteca, para mim, é um lugar sagrado. Um legado de história e cultura, sem preço. Quando alguém diz que não quer morrer sem plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro, está a pensar em legar algo para a posteridade. Ler é tão importante quanto escrever. O escritor precisa de, pelo menos, um leitor. E para o leitor é bom quando lê um livro, se identifica com o personagem e pensa: não estou sozinho. Já imaginou um mundo sem livros, sem bibliotecas? Num mundo sem livros vamos ficar mais cruéis, mais desumanos. Vamos, pois, preservar o Livro e as bibliotecas.”

Quando, do público irrompe a pergunta:

“Qual, na sua carreira de artista, actriz e escritora, a faceta que se sobrepõe, que predomina?”, Bruna Lombardi afirma que “elas acabam se somando. Um escritor é um actor “para dentro”. São mais tímidos, mais introvertidos, mas na hora em que estão escrevendo, eles estão interpretando vários papéis. E como actores, também se transformam em vários personagens (...). Ambas as facetas sempre correram muito paralelas. Finalmente, com o cinema, consegui fazer com que elas se encontrassem: eu faço o guião para o filme e trabalho como actriz.”

Bruna elogiou, ainda, o espírito empreendedor das Quasi Edições e do Grupo DoImpensável, do qual também faz parte a editora Magnólia, sublinhando a dificuldade em triunfar no mundo editorial. E que, apesar das dificuldades no mercado, esta pequenina editora famalicense está a conseguir impor-se no mercado Brasileiro. Teceu, ainda, rasgados elogios ao executivo local, aproveitando para incentivar a multiplicação de eventos semelhantes, ao referir a necessidade de investir nesta área:

“A Arte sempre dependeu de mecenas. Senão não teríamos a Capela Sistina. Não teríamos as Caravelas e os Descobrimentos. Não teríamos Mozart. Fernando Pessoa fez mais, com a Poesia, do que muitos. Transformou Portugal num país mundialmente conhecido. Nos EUA lê-se e chora-se com Fernando Pessoa. Um país é conhecido pela sua Arte. E, também, pela comida. Mas isso não é problema para vocês (risos). Por isso, é importante que quem tenha a possibilidade de ajudar ao desenvolvimento da cultura, é importante que o faça. Porque a cultura abre portas, canais.”

Inquirida em relação aos autores portugueses da sua preferência, para além do já mencionado Fernando Pessoa, Bruna Lombardi revela:

“Fiz, durante dez anos, uma programa de entrevistas – Gente de Expressão. Numa dessas entrevistas conheci José Saramago, que é um ser humano muito interessante. O livro Ensaio sobre a Cegueira está a ser adaptado para cinema pelo mesmo director de A Cidade de Deus e a ser rodado no Canadá. Olha só quantas portas se abriram através de um livro.”

E foi assim a conversa com uma das mulheres mais belas e inteligentes do século XX, após a qual se seguiu a sessão de autógrafos no Auditório da biblioteca onde distribuiu cumprimentos e simpatia.

Aguardamos ansiosamente nova visita.

E um novo livro.

Para abrir portas para novos mundos.


Cláudia de Sousa Dias

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4 Comments:

Blogger un dress said...

desde que a conheci como poeta fiquei ~FÃ...:)

adorei pôr um poema dela no meu blog...belíssimo, aliás...



beijO

8/7/07 11:14 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Mmmmm...! Claro que vou lá ver!

A minha amiga Filipa também tem um livro de poemas dela, comprado há muitos anos num alfarrabista e diz que é o máximo!

Tenho de conseguir uma edição, custe o que custar!

CSD

9/7/07 11:31 da manhã  
Blogger lupuscanissignatus said...

Obrigado por revelar uma faceta - para mim desconhecida - da Bruna Lombardi...

Uma aliança perfeita: beleza e cultura.

11/7/07 4:12 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Sem dúvida, Lupus, sem dívida nenhuma!


CSD

12/7/07 2:10 da tarde  

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