"A festa do Sol e da Lua"
Julho.
O calor torna o ar irrespirável de tão opressivo.
A energia que emana da pedra granítica dos paralelos na rua dá-nos a ilusão do ondular da paisagem, como no deserto do Sahara, onde as rochas parecem derreter na linha do horizonte.
Mas a noite chega, enfim, e traz o manto de frescura e o canto dos melros a celebrar a beleza estonteante da lua cheia…
Em casa, com a varanda da fachada voltada para o jardim, Melina dá os últimos retoques na mesa pronta para o jantar.
O perfume da carne temperada com ervas aromáticas está espalhado pela casa toda.
Os doces repousam no aparador: a mousse de manga, com o seu perfume doce e ligeiramente acidulado; o creme de maçã com canela, polvilhado de bolacha pulverizada e recoberto com uma generosa camada de natas; o irresistível tiramisú – oferta de Grazia, cujo olhar verde só assemelha aos dos meus irmãos –; a mousse de abacate, enriquecida com vinho do porto; o doce da avó de Catarina – um guloso bolo de bolacha, guarnecido com uma finíssima camada de ovos-moles. E, claro, o bolo de Luna, feito pela mãe, com tâmaras, damascos e ameixas secas, figos desidratados e uma profusão de passas avelãs, amêndoas e nozes envolvidas na massa de cor escura do açúcar mascavado…E, por cima, uma generosa cobertura de chocolate preto.
Mas a mim não me deixam nem tocar com a pontinha dos bigodes no aparador…
Escondo-me debaixo da mesa, onde sempre acabo por lambariscar qualquer coisita…
Melina está atarefadíssima, desde o princípio da tarde, a cozinhar doces e salgados.
Agora mesmo está a retirar do forno o rolo de carne e as kiches de legumes verdes, frango e cogumelos…
É a mulher-estrela mais linda do mundo, com os olhos e cabelos dourados e as faces de coral e de avental atado à cintura…
Uma cara de sol.
Um riso estival, condensado numa gargalhada que enche a casa inteira de alegria.
Melina faz anos hoje. A casa está cheia de convidados.
Alegres e bem-dispostos.
Por causa do sorriso de Melina.
A melhor amiga de Luna, a minha amiga de beleza nocturna.
A duas: simétricas.
O dia e a noite.
Luz e sombra.
O Sol e a Lua.
Já encetadas as sobremesas, chega a altura de cortar o bolo de aniversário, trazido por Luna.
E a Lua está, agora, no seu zénite.
Melina exclama:
- Vejam, encomendei uma Lua gigante, de propósito para esta noite!
E corta o bolo.
Luna levanta-se e, em vez dos habituais Parabéns ouve-se:
Libiamo, libiamo ne' lieti calici
O calor torna o ar irrespirável de tão opressivo.
A energia que emana da pedra granítica dos paralelos na rua dá-nos a ilusão do ondular da paisagem, como no deserto do Sahara, onde as rochas parecem derreter na linha do horizonte.
Mas a noite chega, enfim, e traz o manto de frescura e o canto dos melros a celebrar a beleza estonteante da lua cheia…
Em casa, com a varanda da fachada voltada para o jardim, Melina dá os últimos retoques na mesa pronta para o jantar.
O perfume da carne temperada com ervas aromáticas está espalhado pela casa toda.
Os doces repousam no aparador: a mousse de manga, com o seu perfume doce e ligeiramente acidulado; o creme de maçã com canela, polvilhado de bolacha pulverizada e recoberto com uma generosa camada de natas; o irresistível tiramisú – oferta de Grazia, cujo olhar verde só assemelha aos dos meus irmãos –; a mousse de abacate, enriquecida com vinho do porto; o doce da avó de Catarina – um guloso bolo de bolacha, guarnecido com uma finíssima camada de ovos-moles. E, claro, o bolo de Luna, feito pela mãe, com tâmaras, damascos e ameixas secas, figos desidratados e uma profusão de passas avelãs, amêndoas e nozes envolvidas na massa de cor escura do açúcar mascavado…E, por cima, uma generosa cobertura de chocolate preto.
Mas a mim não me deixam nem tocar com a pontinha dos bigodes no aparador…
Escondo-me debaixo da mesa, onde sempre acabo por lambariscar qualquer coisita…
Melina está atarefadíssima, desde o princípio da tarde, a cozinhar doces e salgados.
Agora mesmo está a retirar do forno o rolo de carne e as kiches de legumes verdes, frango e cogumelos…
É a mulher-estrela mais linda do mundo, com os olhos e cabelos dourados e as faces de coral e de avental atado à cintura…
Uma cara de sol.
Um riso estival, condensado numa gargalhada que enche a casa inteira de alegria.
Melina faz anos hoje. A casa está cheia de convidados.
Alegres e bem-dispostos.
Por causa do sorriso de Melina.
A melhor amiga de Luna, a minha amiga de beleza nocturna.
A duas: simétricas.
O dia e a noite.
Luz e sombra.
O Sol e a Lua.
Já encetadas as sobremesas, chega a altura de cortar o bolo de aniversário, trazido por Luna.
E a Lua está, agora, no seu zénite.
Melina exclama:
- Vejam, encomendei uma Lua gigante, de propósito para esta noite!
E corta o bolo.
Luna levanta-se e, em vez dos habituais Parabéns ouve-se:
Libiamo, libiamo ne' lieti calici
Che la bellezza infiora,
E la fuggevol ora
S'inebri a voluttà.
Libiamo ne' dolci fremiti
Che suscita l'amore,
Poiché quell'occhio al core
Onnipotente va.
Libiamo, amor fra i calici
Più caldi baci avrà.
O brinde termina com uma ensurdecedora salva de palmas.
Melina é a felicidade em pessoa.
A transbordar de alegria para os convivas como uma dourada taça de champagne.
Desert Rose
O brinde termina com uma ensurdecedora salva de palmas.
Melina é a felicidade em pessoa.
A transbordar de alegria para os convivas como uma dourada taça de champagne.
Desert Rose
Etiquetas: Luna e o gato
11 Comments:
Estas sobremesas lembram a casa de uma querida amiga.
a maior surpresa foi a mousse de abacate regada com Vinho do Porto, é a minha sobremesa preferida!!!
Exactamente!
;-)
Também gosto muito!
CSD
A Melina, é uma mulher cheia de sorte...por ter uns olhos como os teus, a olharem, assim, para ela ;)
A Melina, creio, é uma mulher MUITO feliz
por ter os amigos lá em casa...
e por ter, claro, um gato tão atento, tão querido, tão carinhoso
tão, deliciosamente, guloso :)
beijo, linda.
amei.
beijo, tb, querida arabie ;)
M
Outro beijo para ti, M!
CSD
isto aqui é uma conspiração praguçar o apetite...!
:))
É mesmo!
É só "gente" gulosa!
Tanto humana como animal!
Um beijo
CSD
Fiquei cheio de fome...
Coitado do gato, merecia uma narradora mais complacente com os seus bigodes. Acho que devias deixá-lo comer qualquer coisa numa das próximas histórias (amanhã...?).
Nadei um pouco na parte em italiano, mas acho que apanhei o sentido.
Este conto é mais uma bela peça literária a que já estamos habituados.
Beijos.
O gato não pode meter os bigodes nos doces... pode fazer-lha mal...mas um peixinho de vez em quando, uma fatia de quijo (não muito salgado) ou uma fatia de salmão fumado em vez de fiambre e ele já de dá por contente...
:-)
Beijinho e obrigada pelos teus comentários!
CSD
É verdade!
Já tenho outro conto manuscrito!
Amanhã passo-o a computador!
Bjo
CSD
Ah!É verdade!
Esqueci-me de dizer que (para quem não sabe ou aprecia música lírica)o texto em italiano é retirado do primeiro acto da ópera "La traviatta" de verdi!
CSD
Não acredito!!!!!!!!!!!!!!!
Olha que nem eu escrevo tanto... meu lindo Coração santo! :)*
Pois, já nem tenho gatos, mas há pássaros cá em casa, sim. Não dentro nem em gaiolas, apenas no varandim do quarto da minha Mãe, onde deixo as sementes e o pão ou migalhas de bolo para os pombos e pardais.
É um som bem doce, ouvi-los aqui a piar. Por vezes, aproximo-me, muito devagar por trás das cortinas. Bem, os pombos não se importam muito, continuam a debicar descansados. Mas a pardalada não gosta de espias, mania da privacidade, ó Sousa Dias! :)
E onde moras, mui terna Cláudia? Talvez já me tenha cruzado contigo, aqui num dos parques junto a casa. Ah, por falar nisso, e recordando ainda os pássaros...
Neste inverno, saí muitas vezes a passear pela escuridão nocturna mesmo a desoras. Gosto do frio, se não houver vento, e mais ainda das ruas inteiramente desertas. De facto, aqui quase nem se vêem cães ou gatos, é mesmo uma raridade!
Mas, surpreendentemente, bem de madrugada os pássaros piavam! Creio que é talvez a exagerada luminosidade dos jardins, com essas lâmpadas reflectoras no solo, não sei. Era um som bem agradável, uma companhia terna na vastidão nocturna... estrelas, luar e imensa serenidade p'ra sonhar!!!
Senhora que só sei aqui imaginar...
Rui leprechaun
(...mas que pressinto divinalmente bela para amar!!! :))
PS: Satanás!?! Mas então isso diz-se ao rapaz?! ;)
Oh!!! But it as SO good writing all this crazy nonsense to You!!! I was really sad and downcast when I came here and now I smile and even laugh...
...Ísis divina!... Claude Smirnoff!!! :D
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