2012-07-17

TEMAS


Photo by Tourism in Turkey

I

Ela é uma árvore
que se soltou
das suas velhas raízes
e flutua na rua
com as folhas
sobre os ombros.

II

Quando uma jovem
vizinha
vai à cidade
é como se as árvores
se tivessem desprendido
das suas velhas raízes
e flutuassem nos passeios
com os cabelos
pelos ombros.

E a mulher
sacode as folhas
para que possamos
seguir as suas pegadas
neste formoso dia de primavera.

III

Os teus olhos
não eram espelhos
mas terra escura
que eu toquei com dedos invisíveis
com arado profundo
que entrou no teu coração.

IV

Há uma lagoa no páramo.
Pedras negras assomam
sobre a superfície da água.

Assim assomas tu em meu coração.

V

Surpreendeu-nos o dia
deitados no sofá.
Levantei-me
e corri as cortinas.

Senti na obscuridade
que ela escrevia na minhas costas –

Eu não sabia o que ele escrevia
mas os dedos eram raios.

Eu era a montanha com o seu cume branco
e ela o sol do páramo.
Assim me chegou a primavera.

VI

Os meus olhos desejam-te,
toco-te com as minhas mãos brancas,
os meus dedos são trepadeiras
que se entrelaçam aos teus cabelos,
os meus pensamentos pássaros invisíveis
que esvoaçam entre os teus ramos.

Sim não, como dizê-lo:
amo-te?



Mathías Jóhannessen
Morg eru dags augu, 1972


Tradução de Amadeu Baptista

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