2012-04-29

RISCAS AS ÁGUAS







Photo: Lim Eng Hoo para Project Noah










Riscas as águas,

sob o umbigo, encerrado,


puxa-te a mão para um céu que chora,


e sais


entre dedos sedentos do teu negrume,


lodo fétido,


festa louca e de viver tão farto;


passas à beira das árvores, gritas


o monte de visco, a feia besta


que nasceu contigo;


estremece a água, dentro da casca


que te afogou retorces-te


qual morte dentro do olho que te criou.


De um mau sonho, de uma escuridão,


agora cospes fogo e escuridão, escuridão;


amendrontas-te, procuras


como uma serpente aquele mamilo de rocha:


até secá-lo.


Tens amargura no amargo da boca.


Tens o cheiro do pai.






Arnau Pons

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