TERRA VERTIDA ONDE MENOS
photo by Flores
Estamos de passagem mas em caso algum
esqueceremos o orvalho (o rosto dela
húmido de luz). Os nossos poros ossificaram
o sangue, é o que a terra diz:
- o alcatrão não é o meu vestido de luto,
mas a pele irrespirável da minha carne.
Agora quem vai querê-la por noiva?
As grinaldas estão cheias de poeira e a
marcha nupcial desafina as estrelas.
O sol feito de gasolina na nossa pele
de verão apodrece depressa nas rugas.
Ainda ris por entre as frestas negras
e deixas entrever outro destino nas folhas
de chá. Mesmo assim o teu cadáver é belo
entre as flores do campo que resta
e o fumo dos incêndios que te cinzam.
O orvalho é uma palavra dócil (pensa ela).
À primeira hora quando os despojos quedam
invisíveis ainda me extasias como a uma princesa
a florar a erecção inicial antes da radiografia pulmonar.
Terra, é por nós que choramos quando te morremos?
Rosa Alice Branco
In Gado do Senhor, 2011
Estamos de passagem mas em caso algum
esqueceremos o orvalho (o rosto dela
húmido de luz). Os nossos poros ossificaram
o sangue, é o que a terra diz:
- o alcatrão não é o meu vestido de luto,
mas a pele irrespirável da minha carne.
Agora quem vai querê-la por noiva?
As grinaldas estão cheias de poeira e a
marcha nupcial desafina as estrelas.
O sol feito de gasolina na nossa pele
de verão apodrece depressa nas rugas.
Ainda ris por entre as frestas negras
e deixas entrever outro destino nas folhas
de chá. Mesmo assim o teu cadáver é belo
entre as flores do campo que resta
e o fumo dos incêndios que te cinzam.
O orvalho é uma palavra dócil (pensa ela).
À primeira hora quando os despojos quedam
invisíveis ainda me extasias como a uma princesa
a florar a erecção inicial antes da radiografia pulmonar.
Terra, é por nós que choramos quando te morremos?
Rosa Alice Branco
In Gado do Senhor, 2011
Etiquetas: poemário
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