2012-04-02

PONTO DE PARTIDA:GAIVOTAS



Photo by Sompob Sasismit

Um arrepio ao vê-las,
deslumbrantes,
voando em rodopio

Vontade de dizer
palavras grandes,
de redondas nasais,
entontecendo um longo texto
e céu

Palavras de guindastes
em demora, em meia luz,
marítimas e puras
e que rodopiassem
pelo texto,
em cadência,
cadentes

Em diferente
contexto
do usado:

brancas e longas,
o voo desdobrado
sobre o branco,
asa de nuvem,
asa como mão

Asas dadas
cantantes
à volta do meu texto,
uma canção de roda,
palavras infantis
e sonolentas
pelo cair
da tarde

De nasais
mais redondas
que as nasais da manhã,
desejosas de casa,
as mãos dadas tremendo

O texto em rodopio
e cada vez mais tonto
e cada vez mais
lento,
e finalmente
pronto

Em arrepio
de areia,
marcas evanescendo-se
nas ondas

Ana Luísa Amaral
in "Epopeias", 1994

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