2012-04-02





Photo retirada do mural de
Resim & Fotoğraf.

Languesce o ouro nas sombras e os fossos
ampliam-se no terreno. Mas o poeta
dá lastro aos focos de lonjura,
os seus sinais. Nas tábuas reconhece


um deserto de incêndios, um fragor
de rochas e de pântanos. Mas quer, ainda,
recrudescer pelo silêncio amplo, tomar
nas mãos a viva aresta do universo, a mordedura


em que os espaços se perderam,
entre dissipações anil, azuis e violeta.
Os dias da volúpia já estão longe, mas repercute
nas têmporas o que nota, uma zagaia,


um carril infinito, uma vergasta rápida
sobre os que à sua volta estão, desanimados.
Está nu e dança. E sabe que as vozes
se reconhecem ao longe, sendo de homens.


Diz que tem fome e partem-lhe os dentes.
Diz que tem frio e tocam-lhe o fogo.
Mas, ainda assim, escreve – escreve sempre.
E sabe que o mundo há-de escutá-lo.


E assim compõe o desgarrado rumo
dos seus versos: clâmide, esterno, punho,
enquanto a luz penetra o rombo da muralha
e, inquietando tudo, tudo ilumina.






© de Amadeu Baptista
in 100 poemas para Albano Martins

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