PARAÍSOS
Imagem conseguida através de: BEAUTIFUL PLANET EARTH. Autor: Stephen Amm
1.
A cena agora: o tempo a esbracejar
neste
café, uma mesa limpíssima,
chão a fingir-se de azulejos brancos
sem vestígios de pó.
Nem emigrante
aqui. Emprestada a um tempo
onde nem crueldade
de opressão: em vez, o proibido dom
do olhar.
2.
Os papéis ilegais, o terror
de desejar
viver no paraíso. Ganhar
menos devido, mas é o paraíso
tão melhor.
Associações para o excesso de peso
para o excesso de fumo, para pais
maltratados. O paraíso
em excesso e circular.
Trabalhar para os carros,
trabalhar para a relva bem cortada,
o tempo a esbracejar
na televisão, os anúncios a sério,
como guerra, abolido o racismo,
abolidas
diferenças, o paraíso. Deus
é branco e é homem.
3.
Um país de fronteiras alargadas
até ao hemisfério mais
oposto, sem fronteiras a sério, mas
tão sérias.
Nem emigrante. Onde nem crueldade
de opressão.
Aqui, no quartel-general do paraíso,
os acessos são duros.
«A minha carta ao mundo que nunca
me escreveu.»
Perdida numa casa de poder/que sonho
megalómano escondido?
«São estas as matérias
(instrumentos)»;
«Língua do opressor»
Mas quem oprime
e é oprimido?
4.
A cena agora: uma neve finíssima
e constante, árvores tão de repente.
Belas.
O tempo a dilatar-se,
imenso.
Paraíso em parecença, em
desconserto, como se lá nevasse
um tempo mais que sério,
e os seus rios
proibidos (e tão
brancos
Ana Luísa Amaral
in “Às vezes, o Paraíso, 1998.
Etiquetas: poemário
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