O LUME DA CHEGADA
Photo by Resim & Fotoğraf
Que mais posso fazer, se à frente
dos meus olhos se espraia: chaminé?
Que mais, se nem escrever?
Como em sonho imperfeito,
um quadro meio flamengo ou quase lá,
a chaminé só está: recortada
em cinzento de uma noite de lua
mal crescida
Que mais pedir à vida, senão chaminé
solta
sobre casa, sugerindo confortos,
abandonos,
e sonos de ternura?
Que mais pedir à vida?
Que mais posso fazer, se mesmo casa
adentro
e flores na jarra, a minha chaminé,
como uma asa azul,
me persegue, tão fáunica e nascente?
Que mais, tão realmente?
Senão cantá-la em rima mil cuidada,
senão voá-la em ninho de palavra
e embalá-la em perfume?
Que mais posso fazer, se à frente
dos meus olhos se espraia agora em
cume:
o fumo dos seus dedos?
Que mais pedir à vida, senão que em
vez
de medos
me incendeie o lume
da chegada?
Ana Luísa Amaral
in “Às vezes, o Paraíso, 1998.
Etiquetas: poemário
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home