2012-04-30

a palavra que ofusca



Photo by Resim & Fotoğraf

CHEGAS, acreditas, ao fim,

que a água obtura

com a sua espectral maneira

do não dizer,

e lanças-te aí

para respirar a falta de ar,

fendida pelos vivos

tremores da emanação concêntrica

formada dentro de ti. Então voltas ao barro;

sobre os seixos crescem

os flocos de ninguém que lês e fazes teus.

Atravessas a hora,

a cicatriz gasta daquele olho;

persistes: dele extrais,

a pouco e pouco, a luz viscosa

da adormecida estrela que abandonas,

sonhando,

num ramo incertamente escrito.


Um peixe morto, desolhado,

rasteja pelo abismo, seguindo a invertida

Via Régia

rumo à promessa que quebraste.

Dois reis giram à tua volta;

és posto

fora

de todos os lugares,

e a ti mesmo te investes como rei.




Arnau Pons

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