2008-03-29

Inauguração da Sala Eduardo Prado Coelho na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Famalicão e Cerimónia de Encerramento do Famafest – dois eventos que
















Foi no dia 15 de Março último, que tive a oportunidade de assistir à inauguração da sala Eduardo Prado Coelho na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco a qual passa, a partir dessa data, a ser depositária do espólio da biblioteca pessoal de escritor, ensaísta e cronista do jornal Público, incluindo cerca de oito mil e setecentos e sessenta livros – a maior parte deles anotados por Eduardo Prado Coelho – e cerca de mil oitocentas e sessenta e cinco revistas, disponíveis para consulta pública.
Eduardo Prado Coelho considerava a sua própria biblioteca "como um seguro de vida", "com tantos livros por ler, como os já lidos". Costumava dizer que tinha "livros para duas ou três vidas" e que, por isso, tinha muitas obras que nunca teria tempo para folhear.A jovem jornalista do Público diz mesmo que através dos livros e das anotações feitas neles é possível "construir um percurso biográfico" de seu pai. "É como se fossem dois livros num só: o original e aquele feito através dos seus comentários e anotações". Por outro lado, com esta colecção, "é possível ver os temas que lhe interessaram e em que altura da sua vida".

O espólio da Biblioteca Eduardo Prado Coelho abarca cerca de meia centena de temas, da filosofia à sociologia, do cinema à economia, do teatro à literatura, entre tantos outros acabou por se mostrar bastante superior aos seis mil volumes inicialmente previstos.

A sala é ampla, inundada de luz natural, convidando ao estudo, à pesquisa, à investigação, ou simplesmente ao prazer de desfrutar uma boa obra literária que Eduardo Prado Coelho o qual, como crítico literário exigente, coleccionava e seleccionava de forma criteriosa. Um espaço muitíssimo agradável.

Na cerimónia, levada a cabo pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Arq. Armindo Costa, estiveram presentes Alexandra Prado Coelho (filha) e Maria Manuel Viana (esposa).

Alexandra Prado Coelho frisou, durante a leitura de uma crónica do pai, a paixão deste pela leitura que se traduzia num frenesim, num impulso que o levava a coleccionar livros e a lê-los com a voracidade característica daqueles que alimentam uma sede absoluta e inesgotável de aquisição de Conhecimento, a que se associa a tomada de consciência de que uma só vida é muito curta para ler todas as obras que conseguiu adquirir. E que precisaria de mais duas vidas para ler todos os livros que se encontravam pelas estantes de sua casa…De onde começa a germinar o impulso de partilhar a sua paixão pelos livros com o público, optando pelo Município de Vila Nova de Famalicão, por sugestão de Lauro António, com quem mantinha uma estreita relação de amizade.

Entre as obras que se encontram na Biblioteca estão algumas edições bastante raras, presentes na biblioteca da família há várias gerações, como aquele volume, de cor dourada, de poesia de António Nobre que me mostrou Alexandra Prado Coelho – uma jovem de expressão doce, traços marcantes, olhar denso e sorriso franco nos fazem pensar estar diante da versão rejuvenescida e feminina do pai.

A presença de Maria Manuel Viana, distintíssima e discreta, com o luto espelhado nas unhas pintadas de azul, cor que, para ela, está associada à morte, como nos apercebemos pela leitura do texto de sua autoria na revista Correntes d’Escritas 2008, ostenta uma silenciosa melancolia no olhar e nos gestos…

Durante a cerimónia da passagem do legado de Eduardo Prado Coelho para a posse da Biblioteca Municipal, foi anunciada pelo Sr. Presidente da CMVNF a criação do Prémio Literário Eduardo Prado Coelho, com o objectivo de incentivar e premiar a criação literária dos escritores locais e não só.
Procedeu-se, também à atribuição a Eduardo Prado Coelho da Pena de Camilo, galardão atribuído no âmbito do Famafest, já em 2007, que nunca lhe foi entregue pessoalmente. De acordo com Alexandra Prado Coelho, na altura o escritor já estava doente, "queria muito vir a Famalicão receber o prémio e conhecer a terra onde viveu Camilo Castelo Branco". Como não foi possível, pois faleceu entretanto, os familiares decidiram que "o galardão deve ficar junto dos objectos que ele mais gostava, que eram os livros", acrescenta a filha do homenageado.

O dia 15 de Março de 2008 passa a ser uma data marcante para a Biblioteca Camilo Castelo Branco, que a partir de então, ficou consideravelmente mais rica.


A noite de Sábado reservou-nos, ainda, a Cerimónia do Encerramento do Famafest 2008 – Festival Internacional de Cinema de Vila Nova de Famalicão durante a qual foram atribuídos os seguintes prémios: O Grande Prémio do Júri, para o Encontro com Milton Santos do brasileiro de Sílvio Tendler.
Lauro António, coordenador responsável pelo evento comentou que “o filme, versa sobre a vida e obra de um dos mais importantes sociólogos brasileiros, abordando o tema da globalização e do seu impacto em países como o Brasil. Sílvio Tendler já tinha feito parte do júri do Famafest e disse-me hoje que o prémio lhe abre portas para o documentarismo noutros países, nomeadamente na Europa.” (sic)

Na opinião de Lauro António, "o Festival demonstrou que o documentarismo português, nomeadamente o ligado à literatura, atingiu um patamar de grande qualidade, que surpreendeu toda a gente, nomeadamente, o presidente do júri, o realizador português, Fernando Lopes
O júri – constituído por Fernando Lopes, realizador (presidente), Uxia Blanco, actriz (Galiza), Maria das Graças, actriz (Brasil), Anxo Santomil (director Cinemas Dixitais, Galiza), Otelo Saraiva de Carvalho , militar na reforma, Valter Hugo Mãe, escritor, e Filipa Macedo Baptista, antropóloga - entregou o Grande Prémio da Lusofonia Manoel de Oliveira - ao filme Terra Sonâmbula, de Teresa Pratas (Portugal) baseado no romance homónimo de Mia Couto, o Prémio Ficção, a Monsieur Max, de Gabriel Aghion (França), o de Documentarismo - ao conjunto das obras de António José de Almeida (Portugal), e o de Ficção Jovem, a Deus Não Quis, de António Ferreira (Portugal).
Já o Júri da Juventude, constituído por, alunos de escolas e universidades portuguesas no domínio do cinema e da comunicação social, atribuiu o Grande Prémio da Júri da Juventude, à película Monsieur Max, de Gabriel Aghion (França), o de Ficção, a O Mistério da Estrada de Sintra, de Jorge Paixão da Costa (Portugal) o de Documentarismo, ao filme Encontro com Milton Santos, de Silvio Tendler (Brasil), e o de Curta-metragem, à obra Deus Não Quis, de António Ferreira (Portugal).O Prémio Especial do Júri da Juventude distinguiu o conjunto das obras apresentadas pela produtora Panavídeo (Portugal).Durante a cerimónia do encerramento foram ainda homenageados a actriz Adelaide João e o Cineasta Fernando Lopes.O Festival, que decorreu entre 8 e 16 de Março, com entrada livre em todas as sessões, teve uma assistência de 17 mil pessoas.Para 2009, comemora-se os 10 anos do Famafest e, além de novos filmes e realizadores, está já a ser programada a realização de uma grande gala do cinema e do documentário.

Cláudia de Sousa Dias

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11 Comments:

Blogger Isabel Victor said...

Boas notícias Cláudia

Gostei de saber e de te ver

Um beijo de letras (como a sopa)


i*

6/4/08 12:01 da manhã  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Que giro!

Irei lá espreitar...


CSD

6/4/08 6:57 da tarde  
Blogger Nilson Barcelli said...

Famalicão ficou mais rico.

Beijinhos.

10/4/08 4:06 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Concordo plenamente!


Beijinhos


CSD

10/4/08 4:23 da tarde  
Blogger Cadinho RoCo said...

Mesmo estando cá do outro lado do oceano gosto muito de ler saber daquilo que impulsiona a cultura e em particular à literatura.
Cadinho RoCo

11/4/08 7:08 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Muito obrigada e um beijinho transoceânico...!

CSD

11/4/08 8:03 da tarde  
Blogger Mar Arável said...

BOA NOTICIA

APAREÇA SEMPRE

12/4/08 10:19 da tarde  
Blogger anad said...

Cláudia

Fiquei contente ao saber que esse espólio não foi só para as grandes cidades, mas sim por outras mais pequenas. Acho que o património não pode estar concentrado.
Bem haja por esta notícia tão completa e bonita.
Anad

13/4/08 1:03 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Anad e mar arável, o que tem de bom na net é mesmo isto: chega a todo o lado!

Abraço!


CSD

15/4/08 5:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

obrigada, cláudia. foi bom lê-la. que os livros do eduardo possam ser um percurso para uma educação sentimental como o foram para mim.
Mª Manuel Viana

20/4/08 6:20 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Sê-lo-ão, sem dúvida, Maria Manuel, para muita gente...!

Mas sobretudo para quem ama os livros...


...como Eduardo Prado Coelho.


Um abraço


CSD

21/4/08 12:30 da tarde  

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