Concerto de Mariza, na Casa das Artes – O Fado no Dia Internacional da Mulher
A terminar a Cerimónia de Abertura do Famafest 2008, o concerto de Mariza trouxe o glamour dos anos 20 ao evento, onde o visual do charleston, exibido pela cantora, veio emprestar ao Fado um colorido cinematográfico ao estilo de Hollywood.
A lotação esgotou, num dos espectáculos de maior qualidade performativa na história da Casa das Artes.
Na noite do passado dia 8 de Março, a expectativa após o final da abertura do Famafest é grande. A Casa das Artes está completamente cheia. Já só há espaço para alguém se sentar, nas escadas. O momento mais esperado da noite aproxima-se. Afinal, Mariza é a primeira cantora portuguesa nomeada para o Grammy.
As luzes apagam-se após a saída de Lauro António do palco, feitas as devidas homenagens aos 100 anos de Manoel Oliveira e a menção da atribuição do Prémio Goya a Carlos do Carmo.
Sobe o pano.
Os músicos entram, enquanto a plateia aguarda, no mais profundo silêncio. Ouvem-se os primeiros acordes de guitarra.
As palmas despoletam.
A diva entra, vestida de negro absoluto, num violento contraste com o cabelo platinado, uma vaga reminiscência de Jean Harlow.
Logo no primeiro tema cantado tomamos consciência da afinação perfeita de uma voz de registo grave, numa cantora que sabe utilizar as pausas e os volteios, para contornar a dificuldade em chegar às notas mais agudas, como muito poucas o conseguiram fazer ao longo da História da Música – entre elas, Amália ou Maria Callas.
Os dotes de actriz, que a cantora afirma serem inatos, aliados a uma extraordinária percepção auditiva e sinestésica, permitem-lhe jogar com as luzes, ao retirar-se para a sombra, sempre que necessário realçar o desempenho dos músicos que a acompanham.
" É um prazer estar na abertura do Famafest…aproveito para saudar as mulheres que estão aqui, esta noite…”
De Paulo de Carvalho, Mariza cantou Meu Fado Meu, emprestando um novo colorido ao Fado – Páthos.
Com o ritmo sincopado de Barco Negro acompanhada pela espectacular percussão de João Pedro Varela, Mariza contou, ainda, com a participação do público que a acompanhou no refrão, mostrando-se agradavelmente surpreendida e radiante ao deparar-se com “um coro tão afinado…”
Mas foi com Alfama e a beleza da poesia de Ary dos Santos que ficámos todos com a voz presa na garganta, emudecidos, com a emoção que se escapa dos versos do poeta, dos trinados da guitarra, do drama contido na voz…
Alfama cheira a saudade
Cheira a tristeza e a pão…
Do mesmo modo, a poesia de Florbela Espanca transformada em música.
Mariza está, neste momento, a preparar um álbum que inclui alguns temas inéditos com que a cantora nos brindou com o concerto de Sábado.
Na segunda parte do espectáculo, Mariza introduz um pouco do folclore e da música tradicional portuguesa com Feira de Castro acompanhada por Pedro Castro, na guitarra portuguesa, Diogo Clemente, na guitarra, e João Pedro Varela, na percussão.
Finaliza com o seu fado preferido; Primavera, levando o público ao rubro o qual aplaudiu de pé, atirando as rosas brancas – oferecidas às senhoras, na noite do Dia Internacional da Mulher, à entrada para o espectáculo -, para o palco, ao mesmo tempo que exigia os encores da praxe.
O primeiro encore surgiu com Oh, gente da minha terra, onde Mariza sublinhou o prazer de ter trocado Madrid por Famalicão nesse dia, após o que o público volta a insistir num segundo encore.
A cantora passeia-se por entre o público, durante o último tema deixando, escapar um suspiro por entre o cansaço…os aplausos soam mais uma vez.
Despede-se, finalmente, com Oh Gente da minha Terra, desta vez cantado à capela, com a ajuda do público que entoa o refrão, totalmente rendido à magia do Fado.
As rosas choveram no palco, semi-abertas, pelo calor emanado de uma sala de espectáculo a abarrotar desabrichadas na noite do fado e caindo como estrelas de feérica luz branca em fundo negro absoluto.
Uma noite inesquecível.
Cláudia de Sousa Dias
Na noite do passado dia 8 de Março, a expectativa após o final da abertura do Famafest é grande. A Casa das Artes está completamente cheia. Já só há espaço para alguém se sentar, nas escadas. O momento mais esperado da noite aproxima-se. Afinal, Mariza é a primeira cantora portuguesa nomeada para o Grammy.
As luzes apagam-se após a saída de Lauro António do palco, feitas as devidas homenagens aos 100 anos de Manoel Oliveira e a menção da atribuição do Prémio Goya a Carlos do Carmo.
Sobe o pano.
Os músicos entram, enquanto a plateia aguarda, no mais profundo silêncio. Ouvem-se os primeiros acordes de guitarra.
As palmas despoletam.
A diva entra, vestida de negro absoluto, num violento contraste com o cabelo platinado, uma vaga reminiscência de Jean Harlow.
Logo no primeiro tema cantado tomamos consciência da afinação perfeita de uma voz de registo grave, numa cantora que sabe utilizar as pausas e os volteios, para contornar a dificuldade em chegar às notas mais agudas, como muito poucas o conseguiram fazer ao longo da História da Música – entre elas, Amália ou Maria Callas.
Os dotes de actriz, que a cantora afirma serem inatos, aliados a uma extraordinária percepção auditiva e sinestésica, permitem-lhe jogar com as luzes, ao retirar-se para a sombra, sempre que necessário realçar o desempenho dos músicos que a acompanham.
" É um prazer estar na abertura do Famafest…aproveito para saudar as mulheres que estão aqui, esta noite…”
De Paulo de Carvalho, Mariza cantou Meu Fado Meu, emprestando um novo colorido ao Fado – Páthos.
Com o ritmo sincopado de Barco Negro acompanhada pela espectacular percussão de João Pedro Varela, Mariza contou, ainda, com a participação do público que a acompanhou no refrão, mostrando-se agradavelmente surpreendida e radiante ao deparar-se com “um coro tão afinado…”
Mas foi com Alfama e a beleza da poesia de Ary dos Santos que ficámos todos com a voz presa na garganta, emudecidos, com a emoção que se escapa dos versos do poeta, dos trinados da guitarra, do drama contido na voz…
Alfama cheira a saudade
Cheira a tristeza e a pão…
Do mesmo modo, a poesia de Florbela Espanca transformada em música.
Mariza está, neste momento, a preparar um álbum que inclui alguns temas inéditos com que a cantora nos brindou com o concerto de Sábado.
Na segunda parte do espectáculo, Mariza introduz um pouco do folclore e da música tradicional portuguesa com Feira de Castro acompanhada por Pedro Castro, na guitarra portuguesa, Diogo Clemente, na guitarra, e João Pedro Varela, na percussão.
Finaliza com o seu fado preferido; Primavera, levando o público ao rubro o qual aplaudiu de pé, atirando as rosas brancas – oferecidas às senhoras, na noite do Dia Internacional da Mulher, à entrada para o espectáculo -, para o palco, ao mesmo tempo que exigia os encores da praxe.
O primeiro encore surgiu com Oh, gente da minha terra, onde Mariza sublinhou o prazer de ter trocado Madrid por Famalicão nesse dia, após o que o público volta a insistir num segundo encore.
A cantora passeia-se por entre o público, durante o último tema deixando, escapar um suspiro por entre o cansaço…os aplausos soam mais uma vez.
Despede-se, finalmente, com Oh Gente da minha Terra, desta vez cantado à capela, com a ajuda do público que entoa o refrão, totalmente rendido à magia do Fado.
As rosas choveram no palco, semi-abertas, pelo calor emanado de uma sala de espectáculo a abarrotar desabrichadas na noite do fado e caindo como estrelas de feérica luz branca em fundo negro absoluto.
Uma noite inesquecível.
Cláudia de Sousa Dias
Etiquetas: Evento: casa das artes
8 Comments:
Após a leitura do seu texto
senti-me na plateia de um grande
e belo espectáculo.
Obrigada, sinto-me lisonjeada...
Abraço
CSD
Pelo que dizes foi um grande sucesso.
Que é habitual na Marisa, de resto.
Beijinhos.
Foi belíssimo, sim Nilson!
:-)
beijinho
CSD
ouvi cláudia.
cheirei as rosas
das tuas pa
lavras... :)
E ainda não foi desta que nos encontrámos!
beijo grande
CSD
Gosto tanto desta casa das artes ...
Sabes que nesta terra tenho os meus amores. Os meus lindos amores ...
:))
Bj* Cláudia
E eui então...
Quanto a amores, nesta terra já não...pelo menos actualmente!
mas tenho alguns entes queridos, cá na terra...
CSD
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