VIII BABEL
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E todos tinham uma língua igual
ciosamente amada e venerada
por noites de luar, por dias claros
Com ela nomeavam os sentidos
das coisas sem sentido antes de ser,
por ela se espelhavam na memória,
já que a memória era também de todos
e a todos preenchia o pensamento
E se o céu era alto e eles fortes
no poder todo que a palavra dá,
e se o céu oferecia habitação
às aves e às nuvens e ao sol,
porque não conquistá-lo em desafio
profano?
Diz-se que a punição surgiu precisa
em exacta medida para o crime,
que a confusão cresceu junto às palavras,
ensombrando o silêncio outrora amado,
descompassando os dias
e as coisas
Diz-se que a punição se cumpriu justa
no divino saber
Mas foi decerto gesto de ciúme,
desajeitada afirmação de quem
já não tem demais céus
a conquistar
Ana Luísa Amaral
in "Às vezes, o Paraíso"
Etiquetas: poemário; Ana Luísa Amaral
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