IX O DILÚVIO
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Diz-se ainda também: quarenta dias,
feérica a paisagem de animais e de gente;
seres na mesma corrente de água e dor
gritos por entre as trevas; o silêncio
dos raios iluminando tudo; a chuva
cega, fúria anterior
às próprias Fúrias, mãe das cores
desoladas e da ausência de luz,
mãe doce do terror e das falas
dos ventos; os trovões de silêncio
sobre as bocas morrentes,
saciadas de chuva. E então o corvo
e então a pomba (duas vezes ela)
trazendo em bico alheio e inocente:
ordem divina, em ramo
consagrada: o ramo da esperança,
do perdão
pela ameaça seca do
«não mais»
Ana Luísa Amaral
in' "Às vezes, o Paraíso"
Etiquetas: poemário; Ana Luísa Amaral
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