HERZEGOVINA, NO CALOR DO MEIO-DIA
Já aqui estive antes.
No calor do meio-dia fui subindo pela íngreme viela
entre limoeiros e agaves
entre as pesadas palmeiras do Hotel Bokas
senti o apelo de uma figura apenas intuída:
mirra
e o frufru de seda branca e refrescante.
Mas atrás de fechados postigos
as sombras do passado
iam prosseguir a sua luta decisiva
sacar o punhal e a espada com raiva:
vi uma cimitarra em torno do sol!
Indeciso quanto ao caminho
demoro-me agora na morna sombra.
Mas a buganvília vermelha,
que cai dos muros quentes,
não oculta nostalgia alguma. Tu és o presente.
E para além da fortaleza de Spanjola,
o minarete turco,
a história é uma névoa que descansa
sobre a deslumbrante superfície do mar,
um pacífico murmúrio do porto.
As flores da verdade abrem-se até à tarde.
Não lhes tenho medo.
Entre as flores vermelhas do meio-dia,
junto à buganvília púrpura,
estás comigo perto, perto.
Com rápidas pernas andarilhas
vens de súbito até mim –
sinto as tuas coxas cálidas
em torno dos meus quadris –
E abraço-te,
firme das raízes do que cresce,
certo das cores intensas
que florescem no calor do meio-dia
e mais próximo
junto à deslumbrante
obscuridade –
atrevemo-nos ao desusado:
o agora.
Strömöverföring, 1997
Versão minha - © Amadeu Baptista
Östen Sjöstrand, nasceu em Gotemburgo, a 16 de Junho de 1925. Foi ensaísta, crítico literário, autor de peças de teatro e de uma ópera. Na sua ampla produção poética, destaca-se o seu intelectualismo e as referências à sua fé católica e à ciência. Pertenceu à Academia Sueca. Foi tradutor de Auden, Ritsos, Bonnefooy, etc. Faleceu em 2006.
Etiquetas: poemário; Östen Sjöstrand
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