Wolfgang Amadeus Mozart: Andante " Elvira Madigan ", do Concerto para piano No. 21
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Há ainda a consistência do veneno, essa parte expectante
que para lá do sonho infunde pavor e mistério
a quem procura a alma. Talvez esse frasco negro
nos grite a imensa necessidade de vida que ainda aguardamos,
talvez mesmo o rosto do reflexo nessa superfície baça
nos faça lembrar o que ficou para trás, com que gatilho
superamos a realidade, as cores mortíferas da vertigem.
Redonda, a trama invectiva-nos a um gesto supremo e sagrado,
é tanto o silêncio que a oração mental das coisas
se pode ouvir e ainda hesitamos, como se não fosse
possível intuir em sequências fragmentárias
esse prazer unívoco da proximidade de algo avassalador
e agreste. O gesto abarca a precariedade de um continente,
perpetuamente suspende a tensão para que a tensão
ilumine o que é fulminante, pó branco que se separa
das paredes compactamente, como se
já não haja milagres à superfície da terra.
É uma pequena praia essa cinza finíssima, um dedo toca-a,
as recordações chegam porque algo ainda nos sustém
à amplitude do mundo, um dia, alguma vez,
um instante qualquer. A mão carrega sobre a boca
esse quinhão de aprendizagem e ignorância, mais leve que o ar
impulsiona os lábios, de novo o forte odor recobre tudo,
a língua estremece e tudo se consuma, mesmo essa árvore
que nos uniu ao passado e nos devolve ao amor, o sinal obscuro
em que a claridade alastra.
Não mais que três segundos e há-de ver-se a Deus e ao anjo.
Pela primeira vez a luz é escuridão.
O grito audível em séculos de distância
por um instante apenas: frei aber cinsam, o sonho
de qualquer homem em qualquer lugar do universo,
incontornável, tangível.
in O Bosque Cintilante, Maia, Cosmoroama, 2008
© de Amadeu Baptista
Há ainda a consistência do veneno, essa parte expectante
que para lá do sonho infunde pavor e mistério
a quem procura a alma. Talvez esse frasco negro
nos grite a imensa necessidade de vida que ainda aguardamos,
talvez mesmo o rosto do reflexo nessa superfície baça
nos faça lembrar o que ficou para trás, com que gatilho
superamos a realidade, as cores mortíferas da vertigem.
Redonda, a trama invectiva-nos a um gesto supremo e sagrado,
é tanto o silêncio que a oração mental das coisas
se pode ouvir e ainda hesitamos, como se não fosse
possível intuir em sequências fragmentárias
esse prazer unívoco da proximidade de algo avassalador
e agreste. O gesto abarca a precariedade de um continente,
perpetuamente suspende a tensão para que a tensão
ilumine o que é fulminante, pó branco que se separa
das paredes compactamente, como se
já não haja milagres à superfície da terra.
É uma pequena praia essa cinza finíssima, um dedo toca-a,
as recordações chegam porque algo ainda nos sustém
à amplitude do mundo, um dia, alguma vez,
um instante qualquer. A mão carrega sobre a boca
esse quinhão de aprendizagem e ignorância, mais leve que o ar
impulsiona os lábios, de novo o forte odor recobre tudo,
a língua estremece e tudo se consuma, mesmo essa árvore
que nos uniu ao passado e nos devolve ao amor, o sinal obscuro
em que a claridade alastra.
Não mais que três segundos e há-de ver-se a Deus e ao anjo.
Pela primeira vez a luz é escuridão.
O grito audível em séculos de distância
por um instante apenas: frei aber cinsam, o sonho
de qualquer homem em qualquer lugar do universo,
incontornável, tangível.
in O Bosque Cintilante, Maia, Cosmoroama, 2008
© de Amadeu Baptista
Etiquetas: poemário; Amadeu Baptista
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