2012-06-27

DE OUTRA REALIDADE

Photo by Flores.


Ponho-me doente do grito que pede realidade.
Estive demasiado próximo das coisas,
de modo que me queimei ao atravessa-las
e estou do outro lado delas,
onde a luz não está separada da obscuridade,
onde não se pôs nenhum limite,
só um silêncio que me lança para um universo de solidão,
de incurável solidão.
Olha, refresco a mão na erva fria:
Isto será a realidade,
será suficiente realidade para os teus olhos
mas estou do outro lado
onde as lâminas da erva são sinos sonoros de pena e



amarga expectativa.
Tenho nas mãos a mão de uma pessoa,
olho os olhos de um ser humano,
mas eu estou do outro lado
onde o homem é bruma de solidão e angústia.
Ai, se eu fosse uma pedra
que pudesse suportar o peso deste vazio,
mas eu sou um ser humano arremessado ao país fronteiriço,
e ouço rugir o silêncio,
oiço gritar o silêncio
de mundos mais profundos do que este.

Gunvor Hofmo
Fra en annen virkelighet, 1948

Tradução de Amadeu Baptista

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