2012-04-17

VISITAÇÕES, OU O POEMA QUE SE DIZ MANSO

Photo by Esradan for Resim & Fotoğraf



De mansinho ela entrou, a minha filha.

A madrugada entrava como ela, mas não
tão de mansinho. Os pés descalços,
de ruído menor que o do meu lápis
e um riso bem maior que o dos meus versos.

Sentou-se no meu colo, de mansinho.

O poema invadia como ela, mas não
tão mansamente, não com esta exigência
tão mansinha. Como um ladrão furtivo,
a minha filha roubou-me inspiração,
versos quase chegados, quase meus.

E mansamente aqui adormeceu,
feliz pelo seu crime.


Ana Luísa Amaral
in "Às Vezes, o Paraíso", 1998.

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