NATAL A FINGIR BRANCO
Photo by Sandra for Resim & Fotoğraf
Ah! os natais de infância
que não tenho em memória,
mas em nostalgia
- através das memórias dos
outros, das suas melodias:os
natais da minha infância
Natais de infância mas que neve?
Também eu sonho (e quem o não?)
um Natal branco.
Queria neve no meu
natal de nostalgia. Queria
fechar os olhos
e ver por dentro neve. Queria-
-me em país nórdico, ao menos
na nostalgia possível.
Mas o salto nos símbolos
de que é feita a vida:
uma falha de salto por degrau
ausente.
Ah! um natal inocente de ternura
e figos, amigos e a mesa em
nostalgia, como as cores
do presépio.
Um natal inocente
e de perdão
[transler: a maldição de ser
assim: sempre presente
a outra culpa: direito a nostalgia
de Natal: ( a morte, a fome,
o frio): um privilégio]
Também não ter Natal
nem em memória. Só uma nostalgia
de doer.
Até a nostalgia
finalmente
começando a ceder:
nem país nórdico,
nem a neve por dentro,
nem a neve a sério
na memória.
Como em receita,
adicionada a culpa dos direitos,
associada a lucidez da
trans-leitura.
Hoje, na noite de Natal
...
ah! os natais de infância
que em nostalgia
me cegam de ternura
Ana Luísa Amaral
in "Às Vezes, o Paraíso", 1998
Etiquetas: poemário
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