2012-04-09

IRLANDA (TRÊS POEMAS) Poema2


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ROXOS E ONDULANTES OS CAMINHOS

Que terra mutilada
e relativa
se surpreende assim,
obliterando a própria luz
que bebe?

Uma curva de rio
- serpente em Paraíso
não vencida,
mas sempre triunfante.
Roxa em paixão: a urze,
nevoeiro vestindo rocha e
verde;

e as palavras tão lisas
para o que só no olho
se deslumbra

Que terra mutilante
de sentidos,
rasgando ao mesmo tempo
luz e sombra?

Ah! cantá-la de cor:
as serpentes tão célticas e puras,
as cruzes ondulando
(navios entre moléculas de espanto),
o fogo que venceu
mosteiros e castelos,
vencendo-se depois pelas ruínas.

Nas palavras mentindo
e impossíveis,
falar dessa beleza
excessiva e tão longa como Ganges,
nem de Ganges pendente.
Antes os nomes enrolados longos,
os sons tão pacientes.

Que terra relativa?
Mil escamas, dragões sorrindo
longos,
a sua chama ainda
em carne viva.


Ana Luísa Amaral
in "E muitos os Caminhos", 1995

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