2012-04-22

CORDÕES DA PRESENÇA


Photo by Flores


Nem com imaginar
eu te consigo ausente:
o tempo mais se rompe e é tarefa
impensável
não pensar-te aqui.

Forço o sonho ao
contrário: em pesadelo,
e não consigo elo
que me ligue ao nada.

E porque imaginar-te
assim ausente
é um trabalho de Hércules,
ou Atlas ( e as minhas mãos: nem seda):

fica – como as serpentes de Medusa;
fica, como Cassandra,
onde em vez de presságio
de cavalo mudo,
um tempo esplendoroso
de unificação.

Relança agora o fio,
feito cordão,
e em tom de dobadoura
puxa-o para aqui.

Que a Ítaca no Verão é mais brilhante,
Ariadne sorri
e olha, o novelo,
inteiro:
ainda deste lado.

Ana Luísa Amaral
in “Às vezes, o Paraíso, 1998.

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