2012-04-07

AMOR MARÍTIMO


Photo by Teresa Sá-Couto


Tudo o que é tempo de viver amando
e alguma hora de morrer de dor
[a métrica perfeita e ondulando,
a rima mais que óbvia seja amor]

Inverter os sentidos, as sintaxes,
barcos que passam longos sobre o cais,
mas que nunca se encontram (nunca mais?)
[esperava-se por aqui dor mais presente]

O céu azul. O tempo mais de verão,
uma pequena angústia em forma de asa,
comprar a incomparável solidão
e com a sua ausência fazer casa.

Tudo o que é tempo de viver morrendo
e alguma hora de morrer de amor
[uma rima final que, ao envolvendo
o verso, possa ser dita de cor]

Como se fosse: a linha mais pungente,
o batimento tão mais regular
que os barcos a passar (só a passar):
Titanic icebergueanamente.

Morrer
por muito amar.


Ana Luísa Amaral
in "E muitos os caminhos", 1995

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