Johann Sebastian Bach: Largo, do Duplo concerto em ré menor
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Não toquei o vento, vi-o
ungir as árvores cor de salmão
onde os caminhos se bifurcam
e um animal regride para dentro do céu
num uivo lento,
selvaticamente aterrador.
Uma vez que o vi, posso afirmar
que é como um líquido,
distinguindo-se espessamente entre as casas
em que reluz o oiro,
em que reluz o oiro e anoitece como alguém
que se emociona
e não pode conter as lágrimas,
não pode estancar o coração.
O vento é mais pesado e muitíssimo mais frágil
que o ar, vi-o em Eisenach
e foi como se visse uma criança a nascer,
uma mulher a modelar o barro, suspensa do tempo,
com as mãos carregadas de giz.
Não o toquei, vi-o
para que a cegueira chegasse mais cedo,
para que todas as coisas pudessem ampliar-se
no perigo desconhecido que recompensa e protege.
in O Bosque Cintilante, Maia, Cosmoroama, 2008
Etiquetas: poemário
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