2010-04-19

Ex vocalista de Três Tristes Tigres e dueto Musical triunfam na Fundação Cupertino de Miranda







A sessão do dia 30 de Março último do Programa Ciclos de Música e Poesia da Fundação Cupertino de Miranda – um projecto que tem vindo, desde Janeiro último, a primar pela diferença na qualidade de apresentação de espectáculos nestas duas áreas – superou largamente as expectativas que, só pela menção no programa, do curriculum dos participantes, eram já bastante elevadas.




Risto Vuolane, o contrabaixista finlandês convidado para esta récita, tendo já passado pela Orquestra de Munique e do Algarve, Orquestra Sinfónica de Helsínquia e dos Países Baixos, possui um repertório variadíssimo que vai desde a música clássica ao jazz. Nuno Caçote, por sua vez, é um virtuoso do piano que leccionou já em vários conservatórios portugueses e alemães encontrando-se, neste momento, a concluir o mestrado na universidade de Aveiro sob orientação de Nancy Lee Harper.
Ambos os músicos proporcionaram no auditório da Fundação Cupertino de Miranda um espectáculo de qualidade superior com obras de Werner Henze, Hindemith e Karadimcev, nas quais sobressaiu a mestria de ambos os intérpretes – o virtuosismo do contrabaixo de Risto, expresso nos efeitos de velocidade da manipulação do arco e das escalas, numa alternância perfeita de ritmo lentos e rápidos, conjugada com a invulgar destreza das mãos de Nuno Caçote, que desciam verticalmente sobre o teclado, sublinhando a expressividade das notas e marcando o ritmo – pequenas particularidades que o distanciam de um principiante ou de um intérprete medíocre ou mediano.




Após a habitual pausa para a “flute” de champagne, como é da praxe nestas sessões, seguiu-se o momento da poesia apresentado por Isaque Ferreira com a rubrica Mulheres com Verso em que é sempre convidada uma presença feminina ligada à escrita poética ou à arte de declamar. Desta vez , brindou-nos com o talento inquestionável de Ana Deus, ex vocalista da banda Três tristes Tigres, cujas deambulações pelo teatro (que inclui uma peça baseada num texto da recentemente falecida escritora Maria Gabriela Llansol – CCB e Rivoli – e o espectáculo “Sono” a partir da poesia de Ernesto Melo e Castro, apresentados – Fundação de Serralves – e participação nas Quintas de Leitura no Teatro Campo Alegre ), música (actualmente com os projecto Nadadores de Inverno e D. Chica). Reparte, também, o seu talento pelas Artes Plásticas.
A teatralidade, a voz aguda, o ritmo e uma musicalidade quase que inata na voz de Ana Deus não deixaram ninguém indiferente. Mesmo aqueles que não gostam de poesia. Ana Deus é uma verdadeira actriz, um animal de palco, que declama quase como quem canta, modulando a voz com um trinado de pássaro canoro, cujas oscilações nada mais são do que provocações dirigidas a um público deliciado. O alinhamento esteve a condizer , apesar de não sabermos se foi a actriz que esteve à altura dos poetas e poemas seleccionados ou o contrário…ou não fossem eles os, também, provocadores e sensualíssimos Alberto Pimenta, Adélia Prado, Alexandre O’Neill, Regina Guimarães e Eugénio Melo e Castro.




A excelência prima, cada vez mais, pela audácia e o bom gosto nas noites de poesia na Fundação Cupertino de Miranda.

Cláudia de Sousa Dias

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