2012-07-14

Amélia Vieira 1

Photo by Sandra for Resim & Fotoğraf.

Porque era uma árvore e não choveu. O dia longo do Paraíso não tinha noite.
Num mês qualquer, que o Paraíso não tem solo, mas era verde, talvez Maio, talvez Agosto, talvez um tempo deposto…era naquele momento em que havia mais planetas, todos ao torno da Floresta verde.
Transversais aos oceanos ficaram pequenos continentes, verdes, antes de serem tão certos como o labirinto coberto de abetos.
Era uma árvore e não choveu, era sempre tarde…o Sol não nos venceu, tornámo-nos assim, queimados, quentes, em ebulição, e nada se fez sem a tórrida presença…os anjos cobriram-se de pelo, a minha pele ardeu, o meu ser de outro oxigénio carbonizou num local onde antes era céu.
Temos um corpo para queimar, uma forma que não há, um sangue que ferve, tem febre, inflama …somos fogo, somos chama.
Mas, eu era a Árvore e não choveu. Do bem… do mal….era só Deus, nem bem nem mal ali tivéramos, nem nenhuma divindade aqui nos colheu.
Só este calor e a frescura da Árvore que não era deste céu.
E Deus que não era este Deus.
Nem tu que sendo tu nunca exististes.
Nem eu que sendo eu ninguém me viu.
Pois que na Árvore onde não choveu deixámos os segredos
Os segredos que são memórias…
A terra que me tapa não tarda destapa
Frondosos frutos da Árvore ….
Que nos mata na entrada de
Um tempo que já não era o Meu.



(inédito)

Poemas: © Amélia Vieira





Amélia Vieira. Nasceu em Lisboa, a 8 de Outubro de 1960. Dez livros editados, sendo o último título publicado Gabriel, de 2011. Estudos de Arte e Literatura Comparada. Inúmera colaboração em revistas nacionais e estrangeiras.