POEMA CONTRA A CIDADE
Imagem captada do mural de Maria Quintans.
Aqui na cidade nossos dedos não acabam gestos
E a incauta presença nos suga
O esforçado mel de todos os dias.
São inúteis todos os rios de resina,
Todas as amoras maduras
Que pisámos, bravas,
No intervalo das estações.
As primeiras chuvas são apenas
Primeiras chuvas
E as crianças brincando são apenas
Crianças brincando.
Punhais de duas lâminas nos correm nas veias
E cavalos selvagens penetram
Em nosso corpo, até à raiz dos ossos.
Falsos, caminhamos, esmagados os olhos
Pela indiferença das árvores,
Pelo silêncio dos cisnes.
Aqui na cidade, talvez tudo seja o contrário,
Do que digo, do que escrevo,
Mas a amada perde-se em florestas de ar puro
E meus dedos não acabam gestos,
Não conseguem a calma da sua presença.
Liberto Cruz,
[in Poesia Reunida, 1956-2011, Palimage, 2012]
E a incauta presença nos suga
O esforçado mel de todos os dias.
São inúteis todos os rios de resina,
Todas as amoras maduras
Que pisámos, bravas,
No intervalo das estações.
As primeiras chuvas são apenas
Primeiras chuvas
E as crianças brincando são apenas
Crianças brincando.
Punhais de duas lâminas nos correm nas veias
E cavalos selvagens penetram
Em nosso corpo, até à raiz dos ossos.
Falsos, caminhamos, esmagados os olhos
Pela indiferença das árvores,
Pelo silêncio dos cisnes.
Aqui na cidade, talvez tudo seja o contrário,
Do que digo, do que escrevo,
Mas a amada perde-se em florestas de ar puro
E meus dedos não acabam gestos,
Não conseguem a calma da sua presença.
Liberto Cruz,
[in Poesia Reunida, 1956-2011, Palimage, 2012]
Etiquetas: Liberto Cruz, poemário
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