2012-04-13

EROS






Photo by Guido Argentini



Divindade não chamada, só a vida numa forma ou a pureza te
comovem,
se algo te comove – tu, doçura inumana, e de repente
púrpura perante o olhar, tu, absurdo, que crias felicidade,
desassossego,
fazes e desfazes famílias, impávida, indiferente,
tu – se te resistimos, provocamos a tua crueldade, até que a dor
nos faz crer em espírito, ou te aniquilamos no abraço:
és indefectível. Como a fénix, uma águia num longínquo e desolado
cume,
perscrutas firmamentos em brasa, ressuscitada, insaciável.

Corpos clarividentes, descansamos, meu amor, imóveis,
constelações refrescadas pelo vento descansam sobre as
pálpebras fechadas,
e os rios primitivos do sonho fluem en torno do coração – como
ritmos dentro de mim
continua o movimento dos teus braços, erguidos para o abraço,
e o desejo bruscamente, dispo os teus seios, o estremecimento
das ancas – um ritmo que esquece a sua substância até que apenas
recordamos,
quando passaram os anos, as copas das árvores sobre nós,
a ondulação do mar,
os enfeitados minuetes de um campanário que abriram o céu.

Uma noite sonhei, meu amor, que te vi com uma máscara dourada,
vi-te sair por uma porta secreta, gritei, não me
ouviste; família e amigos rodeavam-te, despedindo-se – Eros:
um rosto totalmente desconhecido, impregnado da doçura
da intimidade,
um rosto terno e familiar, iluminado pela estranheza,
sim, essa é precisamente a tua obra – e sejas quem sejas, tu, a abraçada,
bela até transtornares-me, és a máscara que generaliza
os gestos individuais
e a que, sem que os apague, aperfeiçoa com toda a pureza a tua nudez.


THORKILD BJØRNVIG
in Figur og ild, 1959

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2 Comments:

Blogger M. said...

Menina, estás inpirada e inspiraste-me!!!
Beijinhos no dia do Beijo,
Madalena

13/4/12 5:37 da tarde  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

:-)

Ainda bem...espero que tenhas tido um bom fim-de-semana...

16/4/12 9:10 da manhã  

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