"Subida do rio Douro de Barco num Sábado Pachorrento"
Depois do almoço, em casa da Irene, no terraço com vista para o Rio, decidimos levar as crianças ao palácio de Cristal. O Bernardo estava particularmente irrequieto e a Maria já não conseguia respirar o ar viciado à volta da casa com o apelo do sol lá fora.
Decidimos assistir à peça de Luís Sepúlveda ao ar livre. O Bernardo não gostou muito mas a Maria entusiasmou-se e até me convenceu a comprar um gato preto com olhos verdes para casa.
Depois decidimos subir o Rio de barco como os turistas. Tento convencê-los a viajar até Tormes para vermos a Casa Museu de Eça de Queirós. Maria protesta de imediato: “Tu e os teus pedantismos literários! Porque é que não vamos antes a uma discoteca?”. E eu a responder que as discotecas não são para meninas de dez anos…daqui a dois ou três anos terei de ser mais criativa...A subida ao douro de barco é deslumbrante. O ambiente apaziguador. O Bernardo sente vontade de ir a Tormes. Saímos do barco numa pequena aldeia que tem uma casa de pedra antiquíssima – 200 anos pelo menos – com uma pequena ourivesaria no rés-do-chão. Não resisto e começo a devorar a montra com os olhos. As peças são também antigas. Século XIX, belle époque. O meu olhar deixa-se prender num alfinete de prata ouro e esmeraldas que poderia ter pertencido a alguma família brasonada da região. Seria o presente ideal para oferecer à tia Lucinda. Afinal ninguém mais teria tido a paciência infinita de ficar com os meus filhos durante um ano até me curar da tuberculose.
Olho a casa. Tem um aspecto tão museológico quanto as peças na loja do rés-do-chão.
Apetece mesmo entrar lá para visitar.
Entro na loja. Ao balcão, está uma simpática senhora de cabelos de neve e olhar de safira. Conversamos por alguns minutos. Decido comprar a jóia. Quando pergunto se posso visitar a casa responde-me: “Não, aconselho…Sabe, está assombrada…”
Claudia de Sousa Dias
Etiquetas: Conto
6 Comments:
Apetece-me morrer sempre que viajo por lá. Andei ao lado desse rio durante todas as semanas ao longo de três meses, em anos sucessivos. Não há tragédia mais bonita que o Douro.
E porquê dar-lhe o nome de tragédia?
CSD
eu assombro-me mas dos teus registos...telúricos.
que saudade desse teu rio....mas tantas...
paraíso do silêncio puríssimo.
.
beijo menina "LINDA".
(dmeumbeijo.blogspot.com) se quiseres espreitar....
claro que sim,Isabel!
um beijo grande
csd
amei.ler-te, princesa :)
beijo
outro para ti, minha querida!
csd
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